15.11.18

Diário de Bordos - Palma, Mallorca, Baleares, Espanha, 14-11-2018

Podia ter sido um dia como os outros, mas não foi; foi ainda mais como os outros. Que se lixem os dias. O único que não é igual aos outros e interessa é o de amanhã.

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No Alqueva vai começar qualquer coisa que intuí pela primeira vez vai para alguns quinze anos. Não retiro daí nenhum particular orgulho, antes pelo contrário: ver as coisas cedo de mais tem o mesmo valor operacional do que vê-las demasiado tarde. A única mudança positiva foi provavelmente ter  encontrado as pessoas certas para dar corpo às ideias. Fica aqui o meu obrigado ao N. F. e ao meu irmão V. As coisas sendo o que são estarei na Suíça, num banho de família, amigos e fondue de queijo. As ideias são como os filhos: crescem e vivem a sua vida. Crescem e desaparecem.

Está outra, da mesma altura, no forno. Vamos ver, como dizia o ceguinho à mulher, que era surda. Essa não quero que me deixe.

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Para a semana arvoramos. O P. vai ficar com as duas pernas ou quase: ainda faltam os trapos. Hoje dizia ao director da marina que a minha sorte é gostar de Palma. Pensava no martírio que foram os quatro meses na cidade do Panamá  a fazer o refit do A. F., que ficou uma merda. Não mencionei o P., porque não posso usar o verbo gostar, há coisas demasiado íntimas para serem expostas assim à luz do dia. Isto é como um casamento com uma mulher tão forte como nós e nada contemporizadora: todos os dias são uma guerra civil. Um dia ganha ela, outro nós.

Hoje ficámos com os encanamentos de águas limpas, amanhã teremos os das águas negras. O mastro vem para a semana. Até lá teremos o interior pintado. Faltam dois ou três pintelhos na electricidade. No motor também. Depois temos de pintar o convés, fazer o cardan para o fogão, reforçar os beliches de meia-nau, distribuir as bombas de fundos, dar a segunda demão nos fundos, tratar do material de salvamento. Não parece, mas a verdade é que está quase.

O problema é quase ser uma palavra que nunca mais acaba, nunca mais.

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Concerto de piano no Door 13. Se os bares se avaliassem pela qualidade dos produtos este seria o melhor bar do mundo. Não é. Esse lugar está e continua reservado para o Procópio. Sem nobreza um bar não passa de um bebedouro.

Mas lá que os Dry Martini e os Dark n'Stormy estvam excelentes estavam.
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As mulheres eram bonitas, mas cada uma tinha oito pernas e mais braços do que Shiva. Refugiei-me num canto do bar e na música. O resto não passou de epifenómenos. Depois fui ao 5ª Puñeta e ao 7 Machos: gosto de progressões numéricas, ordenadas. Uma noite sem método é um simples desvario.

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U. portou-se como uma estúpida, que não é. Ou será? Aqui está uma dúvida que não vou trabalhar muito. Mais vale deixá-la resolver-se sozinha, porque na verdade o resultado é-me indiferente. Curioso, não é? Quanto mais se conhece alguém mais esse alguém se torna ninguém.

Nem sempre, seja Mendel louvado.

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A grande vantagem dos preconceitos é que podemos trocá-los, como as árvores trocam de folhas ou os marinheiros de futuros.

Ou de passados, vá lá saber-se.

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Se vivesse outra vez não mudaria nada senão uma coisa. Ou é uma tragédia ou uma arrogância insuperável: a única coisa que mudaria na minha vida seria aprender música.

Satisfaço-me com pouco, está visto.

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Banho de imersão na família, in situ. Não sei que dizer, juro. Talvez afinal não seja pouco aquilo com que me satisfaço.

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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.