Já os secretos marinam em limão, alho e pimentón de la Vera. Os (ou será as?) patató salteiam em lume brando, cobertos de salsa e coentros picados. Vermute de Palma, pão com azeite da U., uns bocadinhos de bellota, sol, os versos de Alejandra Pizarnik para me lembrar de onde estou e onde poderia estar:
«Todo hace el amor con el silencio.
Me habián prometido un silencio como un fuego, una casa de silencio.
De pronto el templo es un circo y la luz un tambor.»
« Escucho resonar el agua que cae en mi sueño. Las palabras caen como el agua yo caigo [sic]. Dibujo en mis ojos la forma de mis ojos, nado en mis aguas, me digo mis silencios. Toda la noche espero que mi lenguaje logre configurarme. Y pienso en viento que viene a mí. Toda la noche he caminado bajo la lluvia desconocida. A mi me han dado un silencio lleno de formas y visiones (dices). Y corres desolada como el único pájaro en el viento.»
(O primeiro poema chama-se Signos e o segundo L'obscurité des eaux e ambos vêm de La extracción de la piedra de la locura. Otros poemas.)
O vinho vai ser o que sobra do carmenère, chega bem para o almoço. Terça-feira tenho consulta marcada na dentista, os ranúnculos inclinam-se a tentar ver o que escrevo. A música é de Ballaké Sissoko mas em breve mudará para Toumani Diabaté. Fusão por fusão prefiro música e o momento pede música e não entretenimento, por muito agradável que seja.
Assim se aconchega uma manhã de sábado, uma vida, uma solidão.
........
Acabo por decidir grelhar os secretos, em vez de os fritar. Vêm das Carns Coma, o talho do Mercat de l'Olivar que deve poder orgulhar-se de ter as maiores filas. Às vezes tenho pena do vizinho, que está quase sempre vazio e vou lá comprar qualquer coisa. Ontem não: a fila no Coma era pequena e queria ter a certeza de ter porco que não se desfaça em água.
..........
[Este não desfez.]
.........
Gostaria de escrever uma ode ao pimentón de la Vera. A primeira vez que comi pimentão fumado (não confundir com paprika, por favor, que é a forma húngara do pimentão) foi na Califórnia. Creio que a ideia vem da América Latina, não sei. Há um problema grave: depois desta (a de Vera) mais nenhuma parece comestível. São aproximações - as posteriores e as anteriores também.
.........
O Perez Cruz está aberto há dois dias. Algumas coisas só ganham com a espera.
........
A vida é como aqueles armários para especiarias, com muitas gavetas. É raro estarem todas cheias ao mesmo tempo, não é?
«Todo hace el amor con el silencio.
Me habián prometido un silencio como un fuego, una casa de silencio.
De pronto el templo es un circo y la luz un tambor.»
« Escucho resonar el agua que cae en mi sueño. Las palabras caen como el agua yo caigo [sic]. Dibujo en mis ojos la forma de mis ojos, nado en mis aguas, me digo mis silencios. Toda la noche espero que mi lenguaje logre configurarme. Y pienso en viento que viene a mí. Toda la noche he caminado bajo la lluvia desconocida. A mi me han dado un silencio lleno de formas y visiones (dices). Y corres desolada como el único pájaro en el viento.»
(O primeiro poema chama-se Signos e o segundo L'obscurité des eaux e ambos vêm de La extracción de la piedra de la locura. Otros poemas.)
O vinho vai ser o que sobra do carmenère, chega bem para o almoço. Terça-feira tenho consulta marcada na dentista, os ranúnculos inclinam-se a tentar ver o que escrevo. A música é de Ballaké Sissoko mas em breve mudará para Toumani Diabaté. Fusão por fusão prefiro música e o momento pede música e não entretenimento, por muito agradável que seja.
Assim se aconchega uma manhã de sábado, uma vida, uma solidão.
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Acabo por decidir grelhar os secretos, em vez de os fritar. Vêm das Carns Coma, o talho do Mercat de l'Olivar que deve poder orgulhar-se de ter as maiores filas. Às vezes tenho pena do vizinho, que está quase sempre vazio e vou lá comprar qualquer coisa. Ontem não: a fila no Coma era pequena e queria ter a certeza de ter porco que não se desfaça em água.
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[Este não desfez.]
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Gostaria de escrever uma ode ao pimentón de la Vera. A primeira vez que comi pimentão fumado (não confundir com paprika, por favor, que é a forma húngara do pimentão) foi na Califórnia. Creio que a ideia vem da América Latina, não sei. Há um problema grave: depois desta (a de Vera) mais nenhuma parece comestível. São aproximações - as posteriores e as anteriores também.
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O Perez Cruz está aberto há dois dias. Algumas coisas só ganham com a espera.
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A vida é como aqueles armários para especiarias, com muitas gavetas. É raro estarem todas cheias ao mesmo tempo, não é?
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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.