Pergunto-me - na verdade, não é a mim, é aos meus amigos filósofos - se na opinião deles foi o humanismo que nos trouxe aqui, a esta delirante crença na omnipotência do homem, na "infabilidade" da "ciência" (aspas porque me refiro às versões populares dos conceitos).
Sou um humanista - trago em mim todos os defeitos e algumas das qualidades do meus companheiros de espécie; sou um humanista - acredito piamente no homem e penso que é nele que está a solução, não em Deus, na natureza, no amor ou no vinho tinto (por muito que dele emanem ou se sobreponham, mas isto não é um curso de metafísica).
Sou um humanista: penso que as fraquezas do homem são preferíveis a qualquer força que lhe seja exterior, seja ela qual for. Prefiro um homem frágil a um Deus todo poderoso. Sou familiar do falhanço, não me assusta tanto como a vitória - pelo menos, aferidos para as respectivas quantidades e frequências.
Sou um humanista: acredito na liberdade, nas liberdades, na capacidade - não: na obrigação, no dever - de o homem ser livre. Acredito nos limites da liberdade - não passa de um conjunto de prisões que leva esse nome por terem sido livremente escolhidas. Acredito que essa liberdade é um pau de dois bicos e que mesmo assim é preferível ao pau de um bico só da ditadura e da opressão.
Sou um humanista. Acredito nestas coisas todas e em muitas mais, mas não consigo perceber que uma grande parte da humanidade tenha livremente optado pelo obscurantismo, tenha livremente optado pelo descalabro, que seja capaz friamente de trocar meia dúzia de mortes agora contra uma dúzia amanhã - sem ver que terá as duas, dúzia e meia bem medida de mortes, mai-la miséria que espreita à esquina.
Foi o humanismo que nos trouxe aqui?
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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.