29.12.21
Receita - Gratin dauphinois
O circo desceu à cidade
24.12.21
Curta história longa
Encontraram-se num café e ficaram retidos um no outro. Ela por falta de atenção, ele falho de intenção. Assim deixaram o tempo passar por eles, distraidamente e sem rumo. Ao fim de alguns anos descobriram atónitos que o amor tinha dado um sentido àquilo. Não o tinham visto chegar e só deram por ele quando já se amavam como as duas linhas de um caminho de ferro.
Tão pouco o viram partir quando chegou a hora. O comboio bem apitou, mas eles não o ouviram. Continuaram juntos: demasiadas travessas os uniam. Precisariam de muita atenção e de mais intenção ainda para desmontar o que o tempo e o amor tinham montado
23.12.21
Do meu amigo Ricardo Álvaro, Negacionismo da época
« NEGACIONISMO DA ÉPOCA
K4 - uma pergunta
"Tentar divinizar o homem é o primeiro sintoma da Amnésia. O homem é o contraste do divino", diz Almada Negreiros em K4, o quadrado azul.
Pergunto-me se os cultores da "guerra ao vírus" não deveriam ler este opusculozinho, pequeno só em tamanho.
22.12.21
Diário de Bordos - Ponta Delgada, Açores, Portugal, 21-12-2021
Estas casas pequenas, baixinhas, parece que encolheram com a chuva ou que foram esmagadas pelo «capacete açoreano». À noite as ruas estão iluminadas pelas decorações de Natal, bem bonitas. E desertas, frias, ventosas. Tenho de inventar uma escala de Beaufort para o chapéu. Será simples porque só terá três forças. Zero: posso usar o chapéu à vontade e sem quaisquer restrições; um: tenho de o enterrar bem enterrado na cabeça e estar atento; dois: devo levá-lo na mão. Hoje oscilou entre força um e dois.
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Passeio-me por estas ruas como se nunca cá tivesse vivido. De repente a moeda cai e apercebo-me de que nunca vivi nesta cidade. Vivi no seu porto, o que é bem diferente.
Todos nós chegamos a um ponto em que descobrimos que nos enganámos. Os que têm mais sorte ou mas perspicácia são mesmo capazes de definir onde, quando, como e porque isso aconteceu. Ou melhor: os ondes, quandos, comos e porquês - são sempre muitos, não são? Infelizmente esse ponto (esses pontos) chegam sempre tarde de mais. Temos de viver não só com, mas no erro, como se este fosse uma piscina na qual nadamos, pela última vez, os cem metros livres. Como se fôssemos mais uma encarnação desse erros ou desses erros. Não somos. Sim, somos. A vida é como as regatas oceânicas, que são ganhas não pelo melhor mas por aquele que comete menos erros. Ao fim de muitas regatas, o melhor e o que cometeu menos erros são o mesmo, é certo, mas o padrão é sempre o erro. O padrão contra o qual vais aferir a tua vida é o erro, meu caro, a quantidade e qualidade deles. (O problema sendo que regatas há muitas e vidas há só uma, mas isso faz parte da piscina.)
Pergunto-me se uma viagem aos Açores é, como era antigamente, uma viagem no tempo. Creio que sim. Espero que sim.