8.6.22

Diário de Bordos - Palma, Mallorca, Baleares, Espanha, 08-06-2022

Uma tortilla, uma caña e um copo de vinho no bar Dia: nove euros e sessenta cêntimos. Sanchéz, é na estratosfera que vais ter de procurar a tua inflação este ano.

A menos, claro, que a meças só no bar España: a palomita continua ao mesmo preço, com um bónus: fico a saber que sou o único cliente que a bebe. Acho que me fica bem, esta função de guardador de tradições, sejam elas de onde forem. (Nunca me esquecerei da interjeição do Joan, uma das vezes que lhe pedi um Palos: "¿Pero tu eres campesino [o estranjero]?" (Este "estrangeiro" acrescento-o eu agora: conheço melhor o Joan.)

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07-06-2022

O Gustar está cheio a abarrotar, pessoas de pé à espera de mesa. O Tom deu-me uma no porche, uma para quatro pessoas apesar de lhe ter dito que só lhe poderia pagar ou quinta-feira ou no fim do mês. Respondeu-me com aquela expressão de que tanto gosto: «Faltaria más!» e ali fiquei, a perceber que nunca compreenderei os vegetarianos e que esse é um problema que pouco me afecta: cada um come o que quer (aonde é outra história). O que faria este cozinheiro com a carne do leste do Zaire, se com esta faz esta maravilha?

Relermbro os inícios desta amizade - eu morava na praça ao lado da plaza Mayor e passava por eles todas as noites a caminho de casa, comecei a parar para uma grappa, depois uma grappa e um cigarro e depois - muito rapidamente - uma grappa, um cigarro e dois dedos de conversa. 

Se um dia eu tivesse um restaurante seria assim: pequeno, bonito e excessivamente bom. E situado na praça mais bonita da cidade. (O facto indesmentível e singelo de que esta cidade conta com duzentas e cinquenta praças que são, cada uma delas, «a mais bonita da cidade» deve ser mantido onde merece: no armário dos realismos).

Nunca terei, claro: um restaurante é affaire de profissionais, não de amadores como eu. A nós cabe-nos frequentá-los, saboreá-los e usufruir deles como se o mundo fosse acabar logo a seguir ao jantar.

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(Regresso a hoje)

Vim ao Jaume. Fez-me descobrir um novo vermute. Chama-se Rumbo e é de Mallorca. O meu projecto de me engrossar avança bem. Infelizmente, é um projecto que nunca posso verbalizar: quando digo «Vou engrossar-me» isso nunca acontece. Aquele polícia que temos no cérebro (segundo o tio Segismundo) interfere no metabolismo do álcool e acabo sempre por me ficar nos entremeses. Hoje, porém, pensei que sim, queria engrossar-me, mas não verbalizei interiormente. A ver se funciona. As palomitas do bar España  foram uma boa pista de lançamento. Talvez o resto da noite colabore em tão nobres desígnios.

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O Jaume acaba de me servir umas patatas bravas que são, sem sombra de hesitação, as melhores da cidade. Penso no trabalhão que vou ter quando o C. F. vier visitar-me. O Jaume vai ser um dos primeiros sítios aonde o trarei.

(Cont.)

PS - O vermute chama-se Rumbo, um nome que, espero, não terei muita dificuldade em relembrar.

PPS - A Chinchilla fechou. Menos uma para ti, Carlos. Não te falo de mim: é como se me tivessem amputado.

Cont.

Jantar no Divino: carpaccio de polvo. O Roberto é sobrinho de um produtor de azeite siciliano e tem sempre uns azeites magníficos. Este não destoou. Acompanhei com um desfile de vinhos, prineiro tinto e depois branco. A Nuria conhece-me, dá-me vinho como gosto. Nada a dizer, se não que os mejs objectivos para hoje estavam quase quase.

Dalu fhi ao Antiquari beber um rum.  Fui pelas escadas, com a burra na mão.  Quase?

Palma-a-abençoada.

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