Comecemos então pelo contexto: estou fundeado em Cala Ratjada, uma baía completamente exposta a qualquer vento que tenha uma ponta de W na designação. Compreende-se que tenha passado o dia a olhar para as previsões meteorológicas - as quais este ano estão com o índice de exatidão próximo de zero, mas enfim. É o que há - e que tenha jantado a correr o pior caril de frango da minha vida, no restaurante do Clube Nàutico de Cala Ratjada. Dir-me-ão que comer um caril de frango ali é receita certa para o desastre e quem o fizer estará podre de razão. Acontece que não foi uma surpresa, não estava muito pior do que esperava. Lá comi aquilo a correr e voltei para bordo. O bote tem um motor de cinquenta cavalos, um exagero e a manette não está boa, de maneira pilotar aquilo é um sacrifício. O cata está no sítio, a mexer-se um bocadinho mas pouco: o vento anda pelos cinco nós se tanto e apesar de ser Leste não chateia muito. A ver quando forem quatro ou cinco da manhã e os jovens voltarem para bordo. Desta vez aposto que um deles pelo menos vai parar ao molho. É possível que cresça um bocadinho, lá para a madrugada, mas a essa hora estarão a dormir encharcados e não acordarão nem com um ciclone. É um grupo adorável, apesar da merda de música que ouve, têm as bebedeiras ligeiras e de qualquer forma depois de amanhã às cinco da tarde despedir-me-ei deles com muitas manifestações sinceras de apreço mútuo. De metade, porque outra metade vai já amanhã, tem de voltar para Düsseldorf por causa do casamento de um amigo. Um dos que vai já é o único que fala inglês mais ou menos correctamente. Os outros ou não falam de todo ou falam mal. É coisa que me surpreende, cada vez que tenho clientes alemães, o pouco que falam inglês. Um deles é músico e como por coincidência é o entertainer do grupo. Perguntei-lhe que tipo de música cantava e respondeu-me «Canções em alemão». Dado o estilo de música que ouve suponho que seja pimba do mais pimba. Vá lá, aqui a bordo não canta, por isso não me queixo. Tem um humor infantil, um pouco à base de partidas aos outros, mas são partidas ingénuas. É o mais novo de todos, se não estou em erro. Não sei o que fazem os outros, excepto que são todos empresários do mittelstand, esse pilar da prosperidade alemã. Têm as piadas de qualquer grupo de rapazes de trinta ou quarenta anos, estão a divertir-se à grande e eu estou-me nas tintas para a banalidade que dali exala.
(Sim, voltei a terra. Não tenho sono e de qualquer forma a noite vai ser passada à espera deles, de maneira quanto mais tempo passar aqui melhor, menos passo a bordo a acordar de dez em dez minutos.)
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Uma das coisas que aprecio ver neste grupo é a quantidade de piadas machistas, brejeiras, a maioria de franco mau gosto. Confirma a minha opinião (esperança?) de que no fim a biologia vencerá. Boys will be boys, dizem os ingleses desde mil quinhentos e oitenta e nove, diz-me a Wikipedia, justificando assim os cinco euros que lhe verso por mês. Não será amanhã que deixarão de o ser.
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O vento caiu. Nem cinco nós estão. Um dos modelos previa isso mesmo, mas não me lembro qual e não me apetece ir ver. Uma grande desilusão: o Arome. Está mais vezes enganado nas previsões do que eu sobre os resultados do Totobola. Dizer qwue aquilo vem da Météo France, o melhor serviço meteorológico da galáxia e arredores. Não exagero. Se alguém precisar de uma previsão de tempo para Antares aposto que a Météo France encontra uma combinação modelo / previsionista que vai acertar noventa e nove por cento das vezes. Já o Arome cheira mal que se farta, coitado.
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Nada como um par de runs para sintonizar um homem.
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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.