22.9.22

Diário de Bordos - Portopetro, Mallorca, Baleares, Espanha, 22-09-2022

Metade dos meus teutões vai-se embora amanhã de madrugada, de maneira fizemos hoje o jantar de despedida - de qualquer forma, amanhã eu não poderia jantar. Escusado será dizer que foram adoráveis. Tentaram traduzir uma grande parte das conversas ou pelo menos dos temas, encomendaram comida suficiente para um batalhão de cossacos, fiquei a saber as profissões de quase todos eles. Um é dono de um restaurante italiano, juntamente com o irmão gémeo, que ficou a trabalhar; outro é dono de uma padaria "grande" - aspas porque não percebi se a padaria era grande ou se é uma grande caseia de padarias; o cantor afinal não é cantor a tempo inteiro. Tem uma representação da Ford e só canta como passatempo. Finalmente, há um dachdecker, couvreur - não sei como se diz em português: empresa que faz, repara e mantém telhados.  Com este tive uma conversa interessante sobre o mundo que estamos a deixar, eu mais em breve do que ele. O excesso de regulamentação, que na Alemanha é pior do que em Portugal porque não se pode "dar um jeitinho"; as "alterações climáticas", que lhe provocam má consciência cada vez que usa o bote que possui na Manga del Mar Menor (um Mastercraft, de passagem seja dito). A liberdade, que se nos escapa entre os dedos como areia de uma ampulheta partida.

Não conheço velho nenhum que se orgulhe do mundo que está prestes a deixar aos filhos e aos netos. É porém forçoso reconhecer que entre a Idade Média e o século XX  o mundo que os descendentes herdavam era melhor do que o que os velhos tinham encontrado à nascença. Hoje não é o caso. Tomam-nos por imbecis e quem fez isto, insisto, foi a minha geração,  não foi a dos meus filhos.

Pequenos-almoços que não podem ser tomados dentro dos carros - a dimensão da obra requer um contentor - trabalhadores proibidos de trabalhar em tronco nu por causa do Sol... 

Não me reconheço neste mundo. Em nada contribuí para ele. Se alguma coisa um dia deixarei, é um rasto de liberdade, liberdade e nada mais. 

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