5.10.22

Diário de Bordos - Porto, 05-10-2022

Saio da sesta mais cansado ainda do que estava quando nela mergulhei, de cabeça e com forte impulso. Venho à Lareira beber um copo de vinho e comer uns pastéis de bacalhau, os quais sendo melhores do que os do aeroporto ainda estão longe de serem bons. Isto é o que mais me falta no estrangeiro: rissóis, croquetes, chamuças, pastéis de massa tenra e por aí fora. Em Genebra ainda tenho os croissants au jambon e os pâtés (e com problemas similares aos congéneres portugueses: fáceis de encontrar, difícil encontrá-los bons), mas é só em Genebra e arredores. Em Palma há empanadas argentinas. Nada disto se aproxima sequer dos calcanhares da nossa oferta.

Cada vez que chego a este país pergunto-me como é possível viver no estrangeiro. Depois passa, claro, ao fim de umas semanas e de duas ou três notícias. Já de salgados (e muito raramente de bolos) não há quantidade que chegue para me saciar.

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O San Marino é a minha casa no Porto. Se um dia tiver de ir viver para um hotel (longe vá o agoiro) seria num assim que assentaria arraiais: pequeno, familiar, sem xixis, hiper bem situado, barato, amável até à fronteira da amabilidade.

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Só hoje aterrei da viagem. Aterragem prolongada: táxi para Perpignan, autocarro para Barcelona, avião para o Porto, táxi para o hotel. Este último trajecto não mereceria menção, não fora ter-se dado o caso de o hotel se afastar à medida que o táxi dele se aproximava. Corrida estranha, com múltiplos intervenientes: o táxi e o hotel, claro, o cansaço, eu e o chauffeur do veículo, que não abriu a boca durante o trajecto, concentrado que estava na sua missão de ultrapassar o hotel. O homem merecia uma gorjeta enorme, mas infelizmente a Bolt desactiva a opção gorjetas ao fim de quinze minutos, coisa que me parece - e lhes escrevi, nos comentários - profundamente injusta.

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Lá acabámos por chegar, o táxi, a fatiga, a bagagem (pesada para burros) e eu. Foi só o tempo de arrumar tudo no armário e mergulhei num sono que mais parecia a mó de um moinho - aqui reside, provavelmente, a explicação do meu estado actual: andar à roda a moer exaustão exaure, toda a gente sabe. Resta-me esperar que cheguem as sete e meia, hora antes da qual só me é permitido comer pastéis salgados, para ir comer uma bacalhauzada e voltar à molição.

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A qual espero tão pesada como foi a sesta, só que mais longa.

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Adenda: desaguo no Papagaio. Os restaurantes decentes da zona estão fechados. Estou sozinho, com duas televisões enormes a transmitir um jogo de futebol, dois empregados que olham mais para o jogo do que para o restaurante, furioso comigo porque devia ter-me ido embora imediatamente. A maldita preguiça, de que cansaço não passa de alcunha chique.

É a segunda vez que venho aqui comer. Se tudo correr bem, será a última. 

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