29.3.23

Diário de Bordos - Aeroporto do Porto, Portugal, 29-03-2023

Durante muitos anos especializei-me em chegar aos aeroportos à última da hora (e às vezes ligeiramete depois. Felizmente essas foram poucas). A primeira vez na vida que vi a necessidade imperiosa de um telefone portátil foi quando, em Londres a caminho de Heathrow, telefonei para um check in da TAP a pedir para não o fecharem antes de eu chegar. (Em rês etapas: Aeropoprto, TAP, balcão de check in. Tempos gloriosos, esses, em que a fantasia era possível. Hoje também é, claro, não é amanhã a véspera do dia em que ela vai desaparecer. Mas não é a mesma fantasia. É outra, diferente e mais débil, mais pálida, por assim dizer.)

Depois, pouco a pouco, por efeito de um factor qualquer que agora de repente não me ocorre, comecei a chegar a tempo. Daí a chegar cedo de mais foi um passo. De maneira fui assistindo, progressivamente, à subida de preços nos estabelecimentos cafeteiros dos aeroportos. Foram subindo: de caros a muito caros, de muito caros a absurdos, numa encosta bastante íngreme. Hoje atingi o ponto mais alto dessa encosta (para mim. Aposto que não vai parar aqui): quatro euros e trinta cêntimos por um Sumol de Laranja. Quatro vírgula trinta euros. Brinquei com a senhora, a troca de larachas cresceu e a certa altura ela diz-me:
     - Mais valia beber cerveja.
     - Ainda é cedo - respondo.
  - Isso depende da hora a que acordou.

Quem não gosta do Porto não percebe nada de aeroportos.

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Ainda não consigo ler a cem por cento, excepto num ecrã. Seja de telefone, seja do computador. A continuar assim, não tarda estou convertido aos livros electrónicos. Antevejo mal esse futuro.

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Quarenta e cinco minutos (isto hoje só me saem números) do hotel aos filtros de segurança do aeroporto, de metro. Tivesse vindo de táxi e teria demorado um pouco mais de metade por seis ou sete vezes o preço. Da próxima vez venho de bicicleta. Pelo menos poupo nos preços alucinantes do café onde escrevo estas linhas e passo menos tempo à espera da abertura do embarque. Viajar de avião consiste em alternar períodos de espera com chatices - filtros, walk through, Sumol de laranja a preço de ouro em pó. Feizmente aprendi a evitar filas de embarque - tento sistematicamente ser o último a entrar no avião e já desenvolvi ua série de técnicas para isso. Permite-me escolher o lugar, quando o avião não vai cheio a abarrotar e minimizar o tempo de espera dentro da aeronave. O qual está cada vez mais longo, agora que por causa da Covid as revistas das companhias aéreas desapareceram. A certa altura ainda alimentei o sonho de escrever para uma delas, mas como de costume deixei-o passar. 

Não preciso de correr atrás dos sonhos para que eles desapareçam. Basta-me não fazer nada. 

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ADENDA - O voo da TAP vai sair a horas, está quase vazio e como sempre o pessoal de cabine é simpatiquíssimo. E ainda há quem diga mal desta maravilhosa companhia.

Só é pena é sair-nos tão cara.

PPS - Os controladores aéreos em França estão em greve. Surprise, surprise.

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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.