O cabelo negro tapa-lhe metade da face, o meio-olhar que fica é meio de esguelha, o corpo está muito ligeiramente inclinado para a direita. Olha directamente para a máquina, que está um pouco à sua esquerda. Isto é, olha de frente para quem está a ver a fotografia. Do pescoço pende um crucifixo que conduz o olhar directamente para o seio direito. Deste os olhos vão para o esquerdo e dali baixam para o resto do corpo, mas esse movimento é interrompido pelos braços, pelas mãos juntas em cima do umbigo (aproximadamente. O modelo está vestido. A imaginação trabalha tanto como os olhos). A camisola de lä, verde, as mangas arregaçadas, os seios firmes, pontiagudos, duros, acentuam-lhe a energia que se adivinha naquele corpo, naquela mente. Tento decifrar a imagem, claramente de amador. A tensão vem toda do modelo, que desafia o fotógrafo e por arrasto quem a vê, apesar de o cenário ser banal, turístico.
A fotografia tem trinta anos e prende-me no imediato momento em que a vejo: o meu fraco são as mulheres fortes.
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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.