Quantas vidas tem um homem? A única maneira de responder é: tantas quantas as mulheres da vida dele. Eu tive três mulheres da minha vida. Ou seja, tive três vidas. Só? Tive mais. A minha teoria é falsa. Ou me faltam mulheres ou me faltam vidas. Ou então, uma das mulheres conta por várias vidas. Essa mulher chama-se Iris (pronuncia-se Áiris, a senhora é inglesa) e anda agora a passear o seu esplendor por Paris. Ou seja: anda a dar vida a Paris, que tão pouca tem. A questão é: de onde lhe vem essa vida, a que ela dá a Paris? Vem de mim? Não. Vem dela? Sim. A Iris tem mais vida do que um gato tem vidas e eu tenho eus. É de resto por isso que eu gosto dela: gosto da vida e a Iris tem muitas, vidas, vida.
Neste bar, cujo nome nunca recordo mas onde vejo a Iris a cada milímetro quadrado, bebo um rum como ela o beberia se aqui estivesse. Infelizmente não está: passeia-se por Paris (e a minha vida com ela).
O bar onde estou chama-se Big Foot, vi agora no menu. Pedi mais um rum e descobri que ainda amo a Iris, apesar de não a ver há anos. Deve ser a isso que se chama "a mulher da minha vida": amo-a de um amor que não dói, uma ligeira mas permanente dor de cabeça, tão ligeira que se toma uma aspirina e a dor não passa e pensa-se "Não faz mal. Posso viver com esta dor". Com este amor, que eu sei me vai acompanhar até ao fim dos meus dias, mesmo que nunca mais ponha os olhos (ou as mãos, sonhar não custa) na Iris.
Há amores inevitáveis, amores cuja força vem não da intensidade mas da permanência. Estão sempre lá, mesmo que a pessoa que caminhe ou durma ao nosso lado seja diferente. Eliot tem um verso sobre isso, aliás.
"Who is the third who walks always beside you?
...
There is always another one walking beside you."
Invisível para os outros (e outras), a Iris está sempre ao meu lado. Eu é que não estou ao lado dela, mas isso é outra história.
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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.