7.5.23

Dia de tudo o que fiz

É dia da Mãe (ou das Mães, não percebi bem) e a Rambla tem ainda mais floristas do que o costume e estas ainda mais gente e não é sequer uma da tarde, o que significa que é de manhã. Palma-a-Calma está linda e suave ao contrário do que prometiam as previsões meteorológicas.

Nunca liguei a estes dias disto, daquilo ou daqueloutro. Um palerma qualquer num escritório qualquer num sítio qualquer decide que hoje é dia da Mãe, amanhã dia do ouriço-caixeiro e depois de amanhã dia da pescada do Cabo e metade do planeta esquece que todos os dias são dias da Mãe, do pé direito ou da dor de cabeça. Com o Natal é pior ainda, com o Halloween, datas feitas para ajudar o comércio (nada contra, note-se) e fazer a malta converter sentimentos em massa. Prefiro gerir os daqueles que tenho, já que desta tenho pouca. Ainda há dias encontrei o P. M. de B. à porta do clube, falámos do meu Pai e desatei num choro apesar de não ser dia do Pai. Choro sempre, de resto, quando alguém me fala nele e no homem que era (sem adjectivos. O pai de cada um de nós é o melhor homem do mundo e dispensa-os). Ou como quando penso na minha Mãe, que era uma Senhora e teve um fim pacífico e morfinado. Os dias disto e daquilo não passam disso mesmo: dias. O isto e o aquilo dependem de cada um de nós. É como se fizessem um dia da dor crónica. Pata que os pôs, mai-los dias.

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Telefonei (felizmente) para o Ipanema, mas estão cheios até às três e meia da tarde. Acabo a comer uma "paella" no café Roma, um sítio a que talvez achasse piada noutras circunstâncias. Paella leva um quilómetro de aspas: aquilo é "arroz com coisas", aspas porque cito. Passo aqui à frente quase todos os dias, parei uma vez para uma cerveja e hoje para isto. Podia arranjar-se um dia dos restaurantes de merda, não? Ou dois, que ontem já não foi brilhante. E neste tenho o privilégio de ver entrar o N., uma espécie de atrasado mental em cuja casa vivi vários meses. O homem não me cumprimenta, não percebo bem porquê. Proponho a criação de um dia do pobre de espírito com São N. como padroeiro.

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Penso na minha escultura de cera. Que será feito dela? Que será feito do que fiz, de tudo o que fiz?

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