Mais uma noite "tempranita", mas desta consegui vir ao 7 Machos. Pedi nachos para não ser acusado de imprecisão na comparação. Não é que estes sejam melhores. É que vêm de outro planeta. Devia haver uma lei contra os maus restaurantes. E contra os maus marinheiros, claro. E outra contra os maus escritores, os maus dançarinos, as mulheres feias, contra o excesso de barulho e de gente. Enfim, devia haver leis contra tudo aquilo de que não gostamos. É o que "eles" fazem, não é? Leis contra aquilo de que não gostam. Pois bem, "nós" devíamos ter o mesmo direito.
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Comi os nachos e fiquei cheio e pedi um taco pastora porque são uma delícia e um mezcal especial porque é bom e é para isso que me encho de comprimidos e injecções e o diabo a quatro: para poder viver como quero.
Um dia, se Deus e a carcaça quiserem hei-de vir aqui com o meu neto Leonardo e com a neta cujo nome não sei ainda (gostaria muito que fosse Laura) e ensiná-los-ei a pôr o picante na borda do prato e não em cima da comida e quando disser borda piscarei o olho ao rapaz, coisa de homens e a rapariga não perceberá a alusão e depois de comermos eles irão à vida deles e eu deitar-me, como agora, saciado, comprimido tomado com um gole de hierbas secas para poupar água.
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Estão à procura de pessoal no 7 Machos. Metade das lojas, cafés e restaurantes da cidade está. Neste ainda me disse que se me pagassem em margaritas talvez pensasse duas vezes, mas claro que era piada, nem morto trabalharia num bar assim outra vez, já não tenho idade para nada e muito menos para olhar para a beleza insultuosa das raparigas, insolente como alguém uma vez disse, não fui eu mas é como se fosse.
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Foi um rico jantar, é o que é, a fechar um domingo mediano. Verdade seja dita: um domingo mediano em Palma é melhor do que muitos muito bons em muitos sítios. A Rambla cheia de flores, o cheiro era magnifico e enchia o espaço todo entre os plátanos como se estes fossem muralhas, a temperatura no ponto certo, a BH a deslizar por ali fora como um patinador em gelo bem duro e eu em cima dela, deixava-me levar como se descobrisse a cidade, guiado pelo cheiro das flores e pela luz matizada da Primavera.
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Amanhã vai ser a luta de sempre, telefonemas a pedir aos fornecedores para pelo menos virem a bordo - é o equivalente náutico de "só nas bordinhas", suponho, mas estes são sabidos e não se deixam levar - pagar mais uma tranche ao A., falar finalmente com o italiano de Menorca, maldizer a Câmara Municipal de Oeiras que levou mais de um ano para nos dar um papel que nos tinha dado e depois retirou, ligar à Gwen para relançar o projecto do livro sobre as Baleares... Enfim, fazer tudo o que faço e faz disto uma vida, apesar de não parecer, parecer só fragmentos, retalhos, colagens.
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O P. não vai ficar como eu queria que ele ficasse e isso enche-me de uma tristeza inenarrável e que sobretudo não quero antecipar agora.
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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.