30.5.23

Diário de Bordos - Lisboa, 30-05-2023

Regresso à minha morada de sempre: Avenida da Liberdade, nº 1. Sou de novo um SDF (sem domicílio fixo, no francês do original). De todas as mudanças que fiz na vida - foram muitas, mais do que sei contar - esta é uma das mais dolorosas. A estupidez dói-me, seja ela de pessoas ou de situações.

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Entre o último passo da mudança - deixar as chaves no café - e o regresso a Palma, reunião com o curador da exposição. Editor, curador... Se alguém um dia me dissesse que um dia teria direito a isso tudo eu não acreditaria. É compreensível: ainda hoje tenho dificuldade em acreditar, apesar de já ir no segundo editor.

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Os problemas com o "meu" P. vão-se resolvendo passo a minúsculo passo. Não vai ser fácil - não esperava que fosse, nunca esperei. Não deixa, contudo, de ser surpreendente que aos sessenta e cinco anos de idade e aos não sei quantos de experiência ainda seja capaz de receber pedregulhos na cabeça como o que recebi há umas semanas e sobreviver. Sinto-me como aquelas lagartixas dos desenhos animados que estão debaixo de uma pedra que as esmaga e cujo rabo ainda mexe.

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O ombro direito manifesta-se de novo, violento e invasivo. Desta vez teve pelo menos a gentileza de esperar quase uma semana, entre as injecções e as primeiras dores. Encorajador: pode ser que da próxima eu tenha quase duas semanas de paz.

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"Quer informar o senhor Costa?" É assim que o funcionário de um dos bares do aeroporto de Lisboa me pergunta se quero factura. Levou um Não! e uma gorja daquelas à americana. Já antes levara uma pelo sentido de humor  - fui pedir-lhe um saca-rolhas para abrir a meia garrafa que trouxe do Pau de Canela e fartei-me de rir - mas quando ao humor se junta um sentido político refinado não há dúvidas: gorja com ele.

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Meia hora no café do aeroporto. Quatro pedintes. Para os amantes da igualdade: dois homens e duas mulheres.

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Cheguei demasiado cedo so aeroporto, outra vez. Desta por razões compreensíveis, legítimas e até aceitáveis. O que leva a já ter visto várias mulheres do mesmo modelo: loiras (artificiais), baixinhas, mama- e rabalhudas. A mistura é demasiado sensual para serem outra coisa senão portuguesas. Já não sei quem disse "portuguesa, de tão mulher" e essa é uma opinião que partilho de todo o coração. 

Há uma feminilidade nas mulheres portuguesas  que não tem rival, excepto nas venezuelanas e nas colombianas. Mas nestas essa sensualidade é voluntária, procurada. Nas falsas louras portuguesas que vejo passar nada há de elaborado. A sensualidade é natural, primária como um dia de chuva na floresta tropical (rain forest, para quem tenha dúvidas). Não tem nada a ver com a beleza, mas enfim. O DV, coitado, não é um consultório de estética libidinosa.

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Pedido: se alguém um dia me surpreender outra vez a dizer mal do aeroporto de Madrid, duas palavras mágicas: Marselha e Terminal-dois-do-aeroporto-de-Lisboa. Obrigado. 

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Isto tudo dito, tenho uma reclamação a fazer à Vueling: os voos Lisboa Palma estão cada vez mais cheios e nem todas as passageiras são do modelo supra-referido.

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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.