20.5.23

Diário de Bordos - Palma, Mallorca, Baleares, Espanha, 20-05-2023

Querido diário,

Os factos relevantes de ontem já os conheces. Não vale a pena contar-te o dia com altos e baixos como este mar de vento força nove em que navego. Enfim, exagero, eu sei. Força sete, digamos. Além de que nos factos relevantes é preciso incluir ter conseguido lugar no STP para o P. na data em que o surveyor queria (desculpa, M.: não sei dizer inspector em português). E consegui dar um grande avanço às facturas. E encomendar as tintas que faltam. E isso tudo. Altos e baixos, cavas e cristas de vagas vindas de mares que não controlo. Tudo o que posso fazer é ir governando cuidadosamente, óleo a barlavento, pano nem a mais nem a menos, um olho na proa outra na popa e outro ainda no través, que isto vem de todos os lados.

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Segunda Lisboa, quarta Porto, depois não sei. Só espero que não tenha de ir a Menorca (para poder estar no Grémio Literário segunda às seis e meia da tarde. Isto parece uma invocação, não é? É uma invocação). O carrossel não pára. De todos os inventos da ficção científica, aquele a que mais aspiro é ao «beam me up, Scotty». Acabar com estas viagens... Até das de comboio começo a ficar farto, agora que tento comprar o bilhete para o Porto e não consigo. Ou o site da CP ou eu estamos a fazer asneira. Ou então é o universo a fazer-me sinais.

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A soma de ansiedade com perturbações psiquiátricas tem um resultado que é bastante semelhante a estupidez. Não se consegue falar nem com uma nem com as outras. E ainda há quem acredite na omnipotência da palavra.

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Hoje pela primeira vez na vida admiti, clara, explícita e inequivocamente que demais é demais. Estamos em Maio e já não posso pedalar nas ruas do centro de Palma.

Aos sessenta e cinco anos devem contar-se pelos dedos das mãos (e se calhar dos pés também) a quantidade de vezes que viajei em turismo. Refiro-me a viagens grandes, não a or passar um dia a, sei lá, Annecy,  por exemplo. Igualmente, não sei como classificar - outro exemplo - a viagem de Parnaíba à Martinica. O objectivo era ir procurar trabalho, mas resolvi ir de camionete em vez de ir de avião. Isso conta como turismo? A meu ver sim, apesar de ter sido uma viagem só de ida. Os milhares de pessoas que cruzo nas ruas desta adorável cidade têm bilhetes de ida e volta e não percebem nadado que estão a ver. Não poderiam perceber, mesmo que quisessem.

[Aqui devia entrar um grande paleio sobre o turismo. Os meus leitores que me perdoem. Vou beber vinho tinto e concentrar-me no almoço.]

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