Fim de tarde de sábado. Jantar no Gustar com o V., que celebra o seu septuagésimo primeiro aniversário. A burra descansa, encostada ao canteiro central. Pus-lhe um selim novo, castanho e punhos a condizer. "Não te podes queixar", diz-me V., a empregada búlgara. É bonita, tem um aspecto campestre, parece que chegou ontem da quinta da família. Em Lisboa, no Bairro Alto do antigamente havia um restaurante que tinha uma empregada assim. Só tinha as bochechas mais coradas. Tento lembrar-me do nome. Sei que era na rua do Diário de Notícias. Penso no dia que tive, nos que me esperam e o primeiro impulso é discordar dela. Depois penso no que acabo de pensar, na injustiça profunda que queixar-me é fazer à vida e encho-a de razão. Não me posso queixar.
Ou melhor: não devo queixar-me. Poder, posso. Só que não devo.
.........
Isto foi ontem. Hoje o dia começa com uma crise: o charter do V. arrancou mal e é preciso substituí-lo. Arrumei os papéis a noventa e nove por cento. Para o que falta preciso de mais uns dias. (O que falta são pentelhices, mas pronto. Sou como sou e é tudo o que sou.)
........
Encontrei um substituto para o V. Imagino como se sente, mas isto são coisas que acontece a todos. Há dias que arrancam com vento contra e nada há a fazer senão apearmo-nos deles, lamber o ego e prepararmo-nos para a próxima.
........
O dia acaba como um leque que se fecha. Todas as peças estão lá. Voltaram ao seu lugar.
Sem comentários:
Enviar um comentário
Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.