2.6.23

«D'où, chose remarquable, rien ne s'en suit» Ou: Santa puta de vida

A Lua está quase cheia, o Joan e a Paz dizem-me que vêm a Lisboa ver a exposição, o meu ombro direito diz-me que ou tomo os comprimidos a tempo e horas ou ele não se cala, a M. concorda em emprestar-me massa para comprar o semi-rígido, a meteorologia não há maneira de se convencer de que estamos em Junho e os idiotas do costume confundem-na com o clima, a BH Glasgow Vintage saíu da oficina com o guiador uns bons dez centímetros mais alto, o frigorífico está a bordo, instalado e a funcionar, a empregada da Cantina não me põe muito rum no gelado de chocolate «para tomar conta de mim», aspas porque cito, amanhã a A. vem trabalhar. A rapariga não sabe pôr uma carta no correio mas limpa bem para burro e aparentemente desenrasca-se com ferramentas. Lembram-se do incipit do Homem sem Qualidades? É mais ou menos isso: «um belo dia de Junho de 2023.» «D'où, chose remarquable, rien ne s'en suit

Não tenho a certeza de que um dia assim não tenha consequências, mas tão pouco quero atribuir-lhe demasiada importância. Pensar no If, do Kipling e nos seus dois impostores. Lembrar-me da quantidade de dias assim por que já passei, que isto é a vida, só, pura e impura, generosa e retorcida, puta e santa.

Uma santa puta, é o que é.

Sem comentários:

Enviar um comentário

Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.