15.7.23

Da falta de paciência à incompreensão vai um passo

A falta de paciência começa a assustar-me. É aflitivo que uma pessoa inteligente e - não escamoteemos o facto - que já foi objecto de desejo (no sentido amplo do termo) venha agora dizer-me que usar a palavra «preto» é sinal de racismo. Não é simplesmente confundir uma palavra com um conceito, esquecendo - ou ignorando - que a semântica evolui mais depressa do que os conceitos. O racismo - a ideia de que as pessoas são inferiores por causa das suas características morfológicas - é o mesmo há centenas de anos. Evoluiu pouco. As palavras mudam mais depressa e são erráticas. Não tarda, gay será tão pejorativo como hoje é maricas. 

O que me choca, contudo, não é isto. É a facilidade com que pessoas cultas e inteligentes se moldam ao zeitgeist e lhe atribuem valores absolutos. Como se os valores dependessem das palavras, como se as palavras fossem os valores. Não são. O racismo é errado, qualquer que seja a palavra que o tempo aceite para se designar um preto. Um negro. Um africano (não esquecendo que há africanos brancos, mas isso é outro debate).

Minha querida, não há ninguém menos racista do que eu. Já fiz provavelmente mais por pessoas de raça negra do que tu farás em três vidas. Nunca olhei para elas como pretas, castanhas, negras, chuabos, zulus, tutsis, hutus, macondes, macuas, bakongo e por aí fora. Para mim sempre foram, são e serão sempre pessoas. Qualquer que seja o termo que use para as designar.

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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.