É portanto no obscuro labirinto das ideias hesitantes que respiras. Vês pouco e ao perto, apenas. A luz insuficiente, as bruscas paredes, os caminhos que mudam de direcção abruptamente impedem-te de formar ideias claras sobre o que te rodeia. Para ti, o longínquo começa imediatamente para lá da mão quando tens o braço esticado. Do mar - a tua vida anterior - trouxeste dois ou três conceitos que te servem de lanternas: amizade; amor; a insuportável beleza da dúvida. A curiosidade, sua irmã siamesa. A única certeza que tens é a da tua fragilidade. O mar tem um insaciável apetite por pessoas fortes: engole-as mal elas se aventuram parafora de pé. Nele, só os frágeis sobrevivem. É essa experiência que te permite sobreviver no labirinto para onde a curiosidade te atirou. Às vezes consegues entrever um sorriso, dois seios, um corpo que dança longe de ti, através dos muros, através dos anos. Dessa fragilidade falo. Não: é dessa fragilidade que te falarei um dia, depois de alimentado o minotauro.
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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.