6.11.23

Diário de Bordos - Sevilha, Andaluzia, Espanha, 06-11-2023

O bar Iscariotes em Sevilha tem na lista trinta e quatro runs. Não é uma aproximação. Contei-os. Pedi um Flor de Caña 7 anos, que a sete euros é uma das boas relações qualidade-preço. Não têm. Reverto para o Santa Teresa, um pouco contrariado porque esse custa oito e tenho-o no Jaume a um e meio mais barato.

Se eu fosse casado com Palma, Sevilha seria a minha amante. Como não sou, não hesitaria em levar esta cidade ao altar. Sevilha é o que Lisboa devia ser. O que Lisboa poderia ter sido, se Portugal tivesse mais dinheiro e menos turistas. Se... se... Farto de ses. Sevilha é o que eu gostaria que Lisboa fosse e não é só por ter bares com dezenas de runs (na carta).

Amanhã tenho de me levantar às quatro da manhã. Não posso usufruir da Pensão Lisdos nem destas ruas cheias de gente, com lojas que não são de recuerdos (andei à procura da "minha" papelaria. Felizmente não a encontrei. Já tenho canetas que cheguem). Comi um gelado de merda - é nisso que o Claudio transforma todos os gelados que não são dele - perdi-me no caminho para o hotel - espanta-me sempre o que a falta de vontade faz ao sentido de orientação - e agora bebo um Santa Teresa no Iscariotes enquanto a televisão gigante passa imagens da Semana Santa. Iscariotes, Semana Santa, Santa Teresa. A pergunta é: como não pedir outro rum?

Fiz bem. O segundo é ainda maior do que o primeiro. Parece um copo de água, só que em vez de água tem rum. Retiro o que disse sobre o rum no Jaume, aonde as medidas são muito sobriamente desrespeitadas. Este parece um triplo bem servido. Lá está: quer um homem ir deitar-se e tudo se conjuga contra ele.

Claro que podia estar em Cádiz ou em Málaga, em Almeria ou Cartagena, em Denia ou em Sitges. Mas não estou. Estou em Sevilha e hoje é esta a cidade que amo.

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Penso na quantidade de defeitos que tenho e pergunto-me se mereço tanta sorte. A resposta é imediata: não. Mas já que a tenho, aproveito-a e usufruo dela. 

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O sacana do puto trocou a Semana Santa por futebol e marimba-se por completo nos meus pedidos para acabar com isto. Tenho de deixar o balcão e ir lá para fora. Quem proibisse a televisão nos bares teria aqui um eleitor, por muito liberal que fosse (o eleitor).

E sim, juro que vou acabar este rum. Ainda está por nascer o barman que me serve mais rum do que o que posso beber.

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PS - acabei na Cervecería El Patio, outro lugar que sugiro mesmo que reduza drasticamente o tempo de sono. Sevilha é uma daquelas cidades em que vale a pena trocar o sono por (neste caso) vinho tinto.

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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.