29.12.23

Um abraço ao D.

 Bom, continuemos então a conversa com o D.

Fui à cozinha encher um copo de rum, optei pelo rhum arrangé que comprei no mercado e parti o copo para onde o vertia. Não podendo atribuir a culpa a Pedro Passos Coelho (a minha vertente esquerdista desapareceu ao mesmo tempo do que a última era glaciar) atribuo-a à senhora que preparou o dito rum. Já a culpa de não poder discutir estas coisas in persona com vinho em vez de rum é sem sombra de dúvida de Marcelo Rebelo de Sousa, do neto do sapateiro ou de Luís Marques Mendes, à escolha.

À minha frente o dia escapa-se para Oeste, como lhe compete, deixando uma mescla de cores que vai do cinzento ao laranja. Ahmad Jamal toca um concerto em Paris e o rum volta a ser o da Maison la Favorite, que tanto aprecio e cujo nome acho perfeitamente justo. E regresso - em boa companhia - à noção básica e pré-covidiana de que não, as pessoas não sabem forçosamente o que é melhor para elas mas têm o inalienável direito de se enganar.

Acredito também, cada vez mais, naquilo que escrevia em 2008, passem-me a auto-citação: «o quarto poder mudou-se para o quarto do Poder». Desta vez com provas: a Covid foi uma liçâo que só não aprende quem não quer.

O laranja acentua-se e o cinzento também. Os cumulus cumprem o seu duplo dever: a) lembrar-nos de que estamos nos trópicos e b) conferir dramatismo à cena. (Sim, eu sei, há cumulus em todas as latitudes, mas isto não é uma aula de nefologia.)

Regresso à minha inescapável propensão popperiana: gosto de conversar, que distingo intuitiva e quase violentamente de endoutrinar, catequizar, evangelizar, convencer. Sou contra todas as formas de proselitismo, mas poucas coisas há de que goste mais do que de uma boa juta intelectual. Se possível com vinho tinto ou rum.

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