29.2.24

Farrapos

Quando foi que escrevi que ir para a cama sem ti é como querer nadar numa piscina sem água? Tê-lo-ei escrito, na verdade? Penso que não. Contudo, se escrevi, forçoso é reconhecer que nessa altura (qual altura?) as condições seriam bem diferentes. Talvez tu pudesses responder-me "nessa altura podias nadar", por exemplo. Nessa altura (quando foi?) não havia piscinas vazias nem camas sem ti, não é? Não sei. Não faço ideia. Sei que hoje há uma coisa e outra, sei que do passado - esse "país estrangeiro" - percebo rigorosamente nada. Limito-me a viver dele aquilo que me chegou até hoje: duas ou três analogias escanzeladas, lástimas dispersas por aí, uma ou outra imagem aconchegantes, meia dúzia de questões e outras tantas respostas.

- Farrapos - dir-me-ás com o teu habitual sarcasmo. - Farrapos. Nada de sólido, nada de tangível.

Como se o tempo fosse feito de farrapos de algodão que se agarram aos cumes das montanhas. Agora estão lá. Daqui a pouco já não estarão. 

- Fugiste - dir-me-ás.
- Não fiz mais do que obedecer-te - responderei.
- Não gosto de homens obedientes.

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