28.3.24

U., pianista

Tenho 28 anos e espero numa cama a jovem senhora que hoje me acolheu. Generosamente, preciso dizê-lo: é bonita e temperamental, pianista bastante conhecida na nossa cidade. Está na casa de banho a desmaquilhar-se. Hoje deu um concerto e em troca recebeu aplausos sem fim. Fui ouvi-la, mas saímos separados, com a promessa de nem sequer olharmos um para o outro se por acaso nos cruzássemos. O risco de isso acontecer era nulo, mas a vontade que eu tenho de aparecer numa fotografia de jornal ao lado dela é ainda mais nula. U. não é casada mas eu sim. Repasso na memória alguns dos momentos do concerto enquanto brinco com o meu pénis erecto. U. não perderá muito tempo até montar-se nele. Quando pela primeira vez nos encontrámos disse-me “deixa os preliminares para depois. Vamos ao que interessa.” “O que interessa” repetir-se-á várias vezes. Quando estivermos ambos exaustos levantar-se-á, irá à casa de banho lavar-se – estou terminantemente proibido de assistir – e aí sim, começarão os preliminares. Sentar-se-á ao piano e improvisará qualquer coisa para mim, ou virá deitar-se e falar-me do concerto, de quanto gosta de me ter dentro dela ou de sentir as minhas mãos nos seus seios. “Hoje o concerto correu bem. Corre sempre, quando te sei na audiência. Só espero que nunca venhas com a tua mulher. Não me importo nada que sejas casado – antes pelo contrário – mas quero tocar só para ti. Não há melhor preliminar. Quando me levanto do piano e vou agradecer os aplausos procuro ver-te e fico molhada até às orelhas. Se ela estiver lá isso não acontece, de certeza.”

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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.