O Facebook pergunta-me constantememte o que tenho na cabeça. A resposta simples e óbvia é «Nada». Fico, porém, desolado com tanta simplicidade (e verdade, de passagem se diga) e apetece-me encher um bocadinho o chouriço. Tenho rum (o vinho tinto do jantar já deve ter sido digerido), tenho meia dúzia de imagens felizes do meu passado e outras tantas daquilo que me espera. Imagens. Tenho a cabeça cheia de imagens. Parece-me pouco, por muitas que sejam. Tanto mais que não param quietas. Lembram-se daqueles aparelhos estereoscópicos que nos divertiam imenso quando éramos crianças? Tinham um disco com imagens que inseríamos numa ranhura e cada vez que accionávamos uma alavanca a imagem mudava. O interesse da coisa residia no facto de as imagens serem em três dimensões. Imaginem um epiléctico a manipular a tal alavanca durante uma crise e obtêm uma imagem (bidimensional) daquilo que me vai pela cabeça. Uma chatice, é o que é. Aliás, acho fascinante esta capacidade que a chatice tem de coabitar com o bem-estar. Um gajo sente-se bem, pacificado, tem objectivos claros e bem definidos (quinta-feira: rail do pau de spi; sábado o mais tardar: largar para St. Maarten - acho que vou para a parte holandesa da ilha, sem ter ainda a certeza -, fim do mês: largar para Ponta Delgada) e apesar disso o raio da cabeça não pára. É preciso anestesiá-la, deixar de lado o chocolate, ler mais um bocado de Somos un cuerpo herido (ainda vou na parte consagrada a Santa Catalina, o que me leva sem parar ao bairro de Santa Catalina de Palma, o equivalente, todas as proporções salvaguardadas, ao Bairro Alto de Lisboa). Não deixa de ser curioso ver de onde vem a denominação do bairro e aquilo em que ele se tornou. Imagino porém que o mesmo ou equivalente se passa em todos os bairros em todas as cidades cujo nome começa por santo ou são ou santa. Assim que de repente me ocorra não deve haver muitas santos cuja primeira parte da vida tenha sido dedicada à devassa. S. Paulo, Santo Agostinho... Olá, o Google dá-me uma interminável lista de outros nomes. A igreja católica tem pelo menos o mérito de não olhar para o passado dos seus santos, qualidade de que hoje em dia pouca gente se pode orgulhar. Um gajo troca uma vírgula aos quinze anos e aos cinquenta ainda há quem venha recordar tal pecado. Não é que eu goste de vírgulas mal colocadas, é simplesmente que tendo a esquecê-las quando o autor é mais do que isso. Ou seja: sou uma espécie de igreja católica em miniatura. De onde vêm as pessoas interessa-me pouco ou nada.
Isto tudo para responder à pergunta do FB: mete-te na tua vida e deixa a dos outros em paz, pá.
Sem comentários:
Enviar um comentário
Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.