13.8.24

Diário de Bordos - Palma, Mallorca, Baleares, Espanha, 13-08-2024

Pequenas notas sobre a vida urbana em Palma, dignas de nota. (Quanto mais não seja, para os pinguins austrais.)

Ontem falei com o señor Tomeu Arbona, o tal arqueólogo da gastronomia local, ou coisa que o valha. O senhor é uma simpatia, o que por um lado demonstra que nem todos os maiorquinos são antipáticos (coisa que já toda a gente sabe) e por outro prova outra coisa que toda a gente devia saber: as generalizações levam-nos muitas vezes a becos que dão para vastos jardins. Tomeu explicou-me que a massa da ensaimada não precisa de fermentar dois dias - um chega - e quando me viu a comer uma ensaimada «individual» (aspas porque cito) deu-me a provar uma enorme ensaimada, uma trança de ensaimada. É o dia da noite. Ou seja: a partir de agora pede-se uma porção de ensaimada e não uma individual. (O que não deixa de levantar algumas questões interessantes.)

Estou a dar uma volta à minha Palma: vou a sítios que ou já conhecia e não frequentava (o Fornet de la Soca é um exemplo, mas há outros), uso percursos diferentes dos habituais - é um pouco como os meus princípios em Palma, com um bocadinho de batota - tudo isto intersticiado por visitas às «âncoras»: hoje jantei no bar Rita, comi o habitual (inevitável é mais adequado) gelado no Claudio e vim escrever disparates e beber rum ao Antiquari. Não se pode dizer que seja como andar perdido, que não é. É redescobrir uma cidade que adoro, é como convidar uma velho amor para jantar, é como dizer ao tempo que ele pode tudo mas eu também: posso mesmo fazê-lo andar para trás. (Ele ri-se, o tempo, mas ri-se baixinho e discretamente.)

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O «meu» P. pregou-me mais uma partida das dele. Fiquei abananado - acho que vou mudar o termo para Apandanado, é mais justo - mas já absorvi o choque. Isto é uma guerra entre mim e ele. Perde o que desistir primeiro. Como não serei eu....

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Amanhã vou a um porto perto de Múrcia para ver um barco e daí, provavelmente, a Ayamonte ver outro. O primeiro é um Nauticat, marca pela qual sempre nutri mixed feelings. O outro um Elvstrom, marca que faz parte das Marilyn Monroe do meu coração náutico. As pessoas que invejam a minha vida - há muitas - invejam-na pelas razões erradas.

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Continuo cansado. A BH Glasgow Vintage arrasta-se penosamente por estas ruas de que tanto gosta. O grande objectivo do momento é poder atribuir este cansaço ao calor.

Há outros objectivos, mais pequenos mas não são dignos de nota.

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Digno de nota é eu estar a escrever no Antiquari, aonde escrevia quando pela primeira vez cheguei a Palma, vai para doze anos ou mais. O tempo que se ria. O último a rir ri melhor.

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