3.10.24

Diário de Bordos - Sines, Alentejo, Portugal, 03-10-24

O Sol vai subindo no horizonte e vai-se libertando do cobertor de nuvens sobre o qual dorme. A temperatura sobe ao mesmo ritmo. Pergunto-me se alguém fez uma formula matemática a equacionar graus angulares e graus Celsius. Por cada grau a mais na altura do Sol a temperatura do ar cresce de... de quanto? E a temperatura do meu corpo, já sem o casaco da roupa de mar mas ainda com as calças? E ainda estou com a polar que comprei em Groningen, na Decathlon, esplêndida. E com as meias de lã da Calzedonia, tão boas, baratas e perenes... Tudo isto vai sair não tarda. É só emagazinar um pouco mais de calor, deixá-lo chegar aos ossos.

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A passagem do cabo foi movimentada, como sempre. Agora é só subir esta longa, interminável costa que as putas das orcas tornam ainda mais longa: há que ir o mais perto possível de terra, tentar seguir a batimétrica dos vinte metros. As cabras não gostam de águas baixinhas. Eu tão pouco gosto.

Nesta costa não ando nos vinte metros. Não tenho rodas na quilha e não piloto quatro por quatro. Ando aos vês, entre os trinta e os quarenta (cinquenta, vá, quando fecho os olhos). Passo um cabo e aponto para o meio da baía que se lhe segue. Lá chegado faço rumo ao cabo seguinte. Geometria marítimo-orcadiana.

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Há duas e só duas coisas que positivamente detesto no mar: trovoada e nevoeiro. Acabo de passar duas horas e meia num banco de névoa com uma visibilidade que nos melhores momentos não passava dos duzentos metros e nos piores nem a cem chegava.

Resumo da viagem: um terço de porrada, um terço de bonança, um terço de nevoeiro. A porrada estando fora-de-jogo, tenho de escolher entre a bonança e o nevoeiro.

A viagem foi porreira.

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A visibilidade melhorou. Três milhas para oeste e menos de duas para leste. Não me queixo: prefiro ver navios a ver terra.

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O piloto hoje funcionou o dia todo em modo track (navegação, se por acaso). Pela primeira vez desde Cádiz. A Raymarine tornou-se definitivamente uma marca feminina. 

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Jantar no restaurante O Castelo, recomendação do L. E. S. Abençoado seja. Melhor jantar desde o de Cádiz. 

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Às segundas, quartas e sextas agradeço à carcaça. Às terças, quintas e sábados apetece-me enforcá-la. Aos domingos paro para pensar e beber. É o seu dia favorito.  

(Não sei se cont. se não, mas que devia, devia.)

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Sim, continua. Os melhores irish coffees em muito tempo: cervejaria Murta, Sines. Morte aos preconceitos. Viva os preconceitos. A próxima vez que vier a Sines venho aqui jantar. É uma promessa.

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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.