12.10.24

Dissonâncias etárias

Há uma patologia cujo nome desconheço. Vem com o envelhecimento. O seu principal sintoma é que nós - os doentes - mudamos com a idade mas quem nos rodeia não se apercebe dessa mudança e continua a ver-nos como éramos quando nos conhecemos (as pessoas que nos rodeiam e nós, não quando nos conhecemos a nós próprios. Desculpa o pleonasmo, M.)

Um dos efeitos desta doença é a dissonância cognitiva que provoca, uma dissonância dissonante, por assim dizer (ditto, M.)

Hoje, por exemplo. Depois do jantar a bordo apetecia-me ir ao 7 Machos dizer olá ao Alex e beber um mezcal. Verdade não seja calada: a vontade vinha de muito antes do jantar de hoje. Pouco importa. A verdade é que não fui. Terá sido consequência do cansaço? Desta nauseabunda dor no ombro esquerdo? Da vontade de não gastar dinheiro  (vontade bastante oportuna que aparece quando não tenho dinheiro ou tenho pouco)? Não sei.

Mas lá que se este horrível double bind estivesse numa casa de apostas, quem apostasse que eu daria ouvidos à idade ganharia uma fortuna.

(Outros argumentos a ter em conta mas não constantes do boletim de apostas:
- Hoje é sábado e aquilo está cheio;
- É longe;
- A BH Glasgow Vintage não quer sair de onde está.)

Resultado: escrevo no quadro negro da noite: "Eu queria ir ao 7 Machos e não fui". Ler com entoação calimeriana. "Espero que a noite venha com o apagador em riste e o use com vigor e energia." Ler com a entoação de um capitalista de risco a dizer que não nos dá massa e ao mesmo tempo a encorajar-nos a não perder a esperança. 

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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.