8.10.24

Línguas

Na verdade uma lingua é muito mais do que a língua. Gosto de francês como gosto do português e já o falei como falo português, mas não poderia viver em França, por exemplo. Não quero viver em francês. Gosto da parte de Espanha aonde agora vivo - Palma - nas não falo espanhol como falo francês. E tão pouco poderia lá viver. Ibidem para um país anglófono. Não falo inglês tão bem como ainda falo francês, domino estas duas melhor do que o espanhol, conheço os países de onde são oriundas - mas nenhuma delas é a minha língua. Não tem nada a ver com o léxico, a sintaxe, com a morfologia. A gramática não passa de uma parte da língua. Uma língua é constituída pela gramática, pelo vocabulário e pelas memórias, assim mesmo no plural.

Não me refiro à nossa memória, a de cada um mas sim às memórias colectivas, as memórias todas que os falantes de um determinado idioma produziram ao longo dos séculos e que a cada momento histórico se agarram às palavras como o artista de circo ao trapézio. Um trapézio sem trapezista é como uma palavra sem memórias: fica ali a abanar, solitário, inútil, triste.

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