22.2.25

Diário de Bordos - Aeroporto de Madrid, Espanha, 22-02-2025

Último dia desta meteórica estadia em Palma. Mixed feelings é pouco para descrever o que sinto. Gostaria de ter ficado mais tempo para mostrar mais à L.: mais tramuntana, mais Malorca, mais Palma. Gostaria de ter mais certezas quanto aos trabalhos de que espero a resposta. Estou ansioso por ter a minha casa em Caminha, por ver os meus netos, por... por... por...  por tudo e mais alguma coisa, incluindo a adrenalina da ansiedade. Esperamos no aeroporto, um dos poucos sítios aonde a ansiedade é substituída por desolação pura e simples. São todos iguais, sobretudo quando os conhecemos como os conheço - agora o de Madrid, há pouco o de Palma. Em breve estaremos no do Porto, mas aí é a alegria que nos espera: estaremos perto. Vamos de aeroporto para aeroporto, de emoções para emoções, de medos para alegrias e destas de volta aos medos. Oscilo entre estar farto de mim e querer ver os meus netos crescer, entre querer uma casa e ter muitas, aonde quer que vá: «a pátria é um acampamento no deserto», diz Cioran citando um provérbio árabe, hesito entre pensar que faço o que quero e quero porque faço. Quatro horas no aeroporto de Madrid para poupar alguns euros, não sei bem quantos mas sei que prefiro quatro horas de espera - tenho-as - a não sei quantos euros - não os tenho. Prefiro aquilo que tenho àquilo que não como prefiro aquilo que sou ao que poderia ter sido. Prefiro aeroportos que não sejam centros comerciais a centros comerciais com portas de embarque associadas. Fui fumar um cigarro à «zona de fumadores» e perguntei-me quando haverá zonas para injecções de heroína, cocaína e outras drogas. Heroína do afeganistão, cocaína colombiana, hasch marroquino a preços de aeroporto... Enfim: antes esperar do que desesperar, já que estamos em maré de trocas. Antes ter uma casa para os meus livros do que tê-los em caixas. 

.........
Regresso a Caminha com quase tudo o que tinha em Palma, bicicleta incluída - se bem esta vá por outros meios. Chega para a semana. Aqui - ali, Palma - ficam os livros e pouco mais. Em breve se juntarão aos outros. Três casas - Lisboa, Palma e Caminha - transformam-se, pouco a pouco, numa só. É como navegar num banco de nevoeiro, não é? Não, não é. É como navegar para um banco de nevoeiro.

Sem comentários:

Enviar um comentário

Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.