14.3.25

Diário de Bordos - Avião Lisboa - Genebra, 14-03-2025

O avião é suíço. Está demasiado quente. Não me queixo: antes assim. Aviões, casas, lojas, autocarros, comboios, teatros, cinemas, supermercados, tudo estará sobreaquecido, nestes próximos dias. Também eu, à ideia de ver os meus netos, aqueço de impaciência até ferver. 

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Reunião com M. e advogadas. A presença destas senhoras foi um oásis de racionalidade. M. continua o poço de emoções mal controladas, por muito compreensível que seja a sua raiva. O que não é compreensível é ela não perceber a parte de responsabilidade que lhe toca. Penso na observação que alguém me fez sobre ela: "Ó mãe, quem comeu o chocolate foi o mano, não fui eu." 

Há sempre um mano, para a M. Nunca é ela. Salvam-se os quase sete anos que passei em Palma, com interrupções e muitas vezes dificuldades, mas enfim. Aquela cidade vale isso tudo e muito mais. 

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O voo é curto: pouco mais de duas horas. Sentei-me à janela na esperança de dormir qualquer coisa, mas o raio da reunião não me sai da cabeça. Resisto à tentação de catalogar M. na categoria de "qq coisa" rasca porque sei que aquilo é simplesmente um vulcão de emoções mal controladas. Como é que uma pessoa inteligente - ela é-o - consegue não usar a Razão, deixá-la ser varrida por um tsunami descontrolado? 

Não sei e gostaria de saber, ver se consigo dormir nem que seja um quarto de hora. 

Durante muito tempo pensei que era estratégia. S. disse-me que não, que é assim mesmo, o que se vê é o que é. 
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Não dormirei. Chegamos daqui a vinte minutos. Temperatura: quatro graus. E ainda há quem se queixe do aquecimento excessivo do avião.

ADENDA 
Nada como uma ex-mulher que entre bastas outras coisas estudou e trabalhou e fez investigação em neuropsicologia. O comportamento de M. foi-me explicado em pormenor e mais: descreveu reacções e comportamentos da minha querida ex-armadora (o prefixo está  o sítio certo) que eu nem sequer lhe tinha contado. (Refiro-me à actuação durante a reunião. Da senhora já lhe falei amiúde.)

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A Suíça é um país para velhos. Aproximadamente uma hora depois de as rodas do avião terem tocado a pista estava a casa da S. O trajecto foi fluido como a descida de uma pista de ski bem cedo de manhã, com pouca gente e a neve ainda dura e bem compactada.

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