Hoje ouvi um disco chamado Schubert: The Last Quartets pelo Quatuor Aviv. Como é que de Schubert só conseguia ouvir os Impromptus, tocados pela divina Maria João Pires e não gostava de tudo o resto?
A resposta é fácil, claro: os anos servem para nos fazer descobrir o imbecil que em nós vivia. Camadas geológicas de estupidez e ignorância (por muito que se advogue que convém não as misturar, estas duas andam por vezes juntas). Descobrir no sentido de destapar, pôr à vista. Envelhecer é isso e é bom.
Resta saber, claro, se essas camadas de ignorância não são simplesmente substituídas por outras, que só quando já só os vermes tiverem uma palavra a dizer serão descobertas.
"Cuidado com o fígado", diz um. "É puro veneno". "O coração não está melhor", diz outro. "Com o cérebro não há problema", acalma um terceiro. "Está vazio. Não sabe a nada".
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Reflexões agradáveis hoje no trajecto para casa da filha. Começámos por ouvir o disco de Alcides, quanto a mim o melhor disco de música cabo-verdiana de sempre. Mas o dia convidava a outra coisa - o Alcides já vinha de ontem e já fora ouvido pelo menos duas vezes -, a S. tirou este Quatuor Aviv do sítio aonde guarda os CD e eu fiz a substituição.
Que maravilha! O troço de planície entre Genebra e Gland é bonito - a Suíça é o país mais consistentemente bonito que conheço, não tem lugares feios. Só tem beleza em diversos graus - e o génio de Schubert encaixa na paisagem, no cinzento do céu, na expectativa da raclette (que excedeu todas as expectativas), na antecipação do prazer de reencontrar a família, hoje com o tempo para nos encontrarmos que ontem nos faltou.
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R. E. enviou-me uma mensagem. Vai precisar de mim em Abril. Vou finalmente conhecer o país basco.
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S. vai estar fora a semana quase toda. Vou contactar dois ou três amigos, fazer tudo o que tenho para fazer - é muito - e passear.
Por Genebra e por mim.
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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.