Ontem... (Não tenho a certeza de que um diário que começa por «ontem» seja de fiar. Não faz mal. Fica.)
Ontem fui passear. Trajecto habitual: casa - mercado de Plainpalais - casa por um caminho diferente. Para ir fui pelos Bastions, para regressar pela Rue de Carouge. É uma rua que salvas as devidas proporções - são muitas - e com um bocadinho de imaginação (grande) podia passar pela Almirante Reis de Genebra. Não é. Falta-lhe muita coisa e tem outras a mais, mas é o que me faz lembrar. Uma Almirante Reis mais pequena, mais limpa e mais civilizada, mas igualmente a ferver de vida. Fui aos Recyclables beber um copo de vinho tinto. Les Recyclables é uma livraria-café que começou por ser uma livraria de livros em segunda mão à qual se juntou um pequeno café. Hoje é um café que até pratos do dia serve com uma livraria ao lado. A livraria não é nada pequena, note-se. Continua a ter uma vastíssima escolha de livros, todos em bom estado e a preços «acessíveis» (aspas porque é irónico. Preços acessíveis em Genebra é o perfeito exemplo de oxímoro, se por acaso alguém precisar). Bebi um copo de vinho, comprei um postal e paguei mais do que teria pago por uma garrafa de qualidade média-baixa no supermercado.
Mas beber vinho em casa tem muito menos piada do que estar sentado num café a ouvir um bom jazz e a escrever um postal, não tem? Tem.
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À noite o L. e o S. vieram jantar. Com o primeiro tenho mantido algum contacto; já o S. não o via há quarenta anos, mais semestre menos semestre. É arquitecto naval. Foi uma soirée boa, a falar de barcos com quem sabe. O L. fez duas Whitbread, o S. tem um clássico de 1918 (em Veneza, que para meu grande espanto é um sítio barato para ter embarcações). Não falámos do passado - só de barcos e das derivas woke (pouco) e bebemos correctamente. Quando anunciaram que se iam embora não os retive. Envelhecer é isto e é bom. S. confirmou sem entrarmos em muitos pormenores o que eu fiz no P., coisa que depois da recente reunião com a dona do barco me alegrou bastante.
(Pequena nota à parte: quando mencionei o P., S. disse imediatamente: «O do Hugh Welbourn?» A pena que eu tenho das mãos em que aquele barco está. Enfim, das mãos não tenho pena nenhuma. Tenho do bote, que não as merece.)
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Falta uma referência ao Lindor, um chocolate da Lindt que continua a ser, para mim, melhor chocolate de leite de sempre e para sempre; e outra aos TPG, os transportes públivos de Genebra, que tive a sorte de conhecer por dentro por lá ter trabalhado seis meses (no escritório, não nos autocarros). Genebra quis acabar com o excesso de circulação automóvel na cidade e para isso percebeu que tinha de melhorar os transportes públicos.
Para quem não sabe o que é a excelência e quer saber, a solução é simples: faça uma viagem pela cidade utilizando os transportes à disposição: autocarros, eléctricos e barcos. Cereja em cima do bolo: são mais baratos do que em Lisboa, em PPP.
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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.