Ser marinheiro é saber - quando digo saber, quero dizer saber, sentir, viver na carne - que estamos quotidianamente confrontados a forças muito maiores do que nós, mais potentes. E que nós somos o elo mais fraco dessa imensa cadeia que nos liga ao universo. Aprender a conviver com isto, a viver isto com a distância que o Rudiard Kipling aconselha ao seu filho é o que transforma um homem normal em marinheiro. Lidamos com o mundo como um toureiro com um touro particularmente vicioso: uma mistura de graça e esconjuro.
Hoje fiquei a saber que a peça que esparava para amanhã vai levar mais uma semana a chegar.
E como as desgraças nunca vêm sós, vêm aos molhos como cachos de uvas - das quais se faz o vinho, de passagem seja dito - hoje a península ibérica ficou sem energia e eu sem motor no fora-de-borda.
Em contrapartida - não há uvas sem vinho - tenho o problema da água no meu camarote resolvido e o comando do piloto instalado.
Parece pouco, não parece? Parece. Mas se as pessoas soubessem o tempo que leva dar um passo para a frente e depois dar dois para o lado, um para trás e finalmente completar o passo inicial, que até agora ficara em suspenso - se as pessoas soubessem? Não. Se eu soubesse. Quem precisa de saber sou eu, não as pessoas.
Resposta: tudo leva um tempo infinito. E para enfrentar esse tempo infinito é necessária uma vontade infinita. Vinda do elo mais fraco.
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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.