Quatro dias em Genebra a fazer praticamente nada passam depressa, demasiado depressa. Espero que o Verão passe igualmente depressa, para poder cá voltar antes de uma séria crise de saudades.
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Até ao embarque tudo parecía normal. É verdade que se sabía da greve dos controladores aéreos franceses mas a Easyjet não anunciara nenhum atraso. Embarcámos a tempo, esperámos meia hora por três passageiros e só depois vem a bomba. "O slot para a descolagem está comprometido, irregular e de momento o que sabemos é que só sairemos daqui a duas horas". Segue-se uma explicação razoável de porque temos de esperar dentro do avião - parabéns ao piloto, que nos mantém informados - e aqui estamos.
Tenho um asco particular pelos controladores aéreos franceses - bastante atenuado, de passagem se diga, porque durante ano e meio namorei uma senhora que fazia parte do grupo de organizadores destas greves (desta já não deve ser. Deve estar reformada). Era de extrema-esquerda, tinha um salário elevado, trabalhava dois ou três dias por semana e poucas horas - ainda bem - era muito bonita e ainda mais inteligente, o que não estraga nada. Para preservar a paz do ménage tínhamos decidido que não se falava de política quando estávamos juntos.
Ou seja: o meu asco por este grupo de abusadores privilegiados é tingido por alembranças pessoais, uma mistura de sensualidades e sentidos e conversas e risos - a senhora tinha um sentido de humor devastador -, pelo que me deu a conhecer de Paris, que é muito. Temos mais uma hora e meia de espera e a tripulação decidiu oferecer-nos um snack. O voo é de uma hora e meia e o atraso será de duas e meia ou três horas.
Para a senhora, a greve era a única forma de diálogo laboral possível. Para mim não é. Prefiro a solução Reagan.(Agora posso dizê-lo sem arriscar represálias.)
Os passageiros estão calmos. A língua predominante é o francês com sotaque genebrino e talvez estes dois factos estejam unidos por uma relação de causalidade. Não sei. Não sei sequer se a língua predominante é o francês. É-o na minha entourage, mas não sei o que se fala para lá dela. Como amostra não chega mas há que acolher um preconceito ou dois. Estão para a vida como a beleza e a inteligência das senhoras para os amores.
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Oiço português, duas ou três filas atrás de mim. «Estão a foder-me as férias, caralho», alto e bom som. E pensava eu que o nível da nosso emigração tinha subido...
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(Cont.)
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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.