22.7.25

Diário de Bordos - Palma, Mallorca, Baleares, Espanha, 22-07-2025

É só meio dia, eu sei. Mas um gajo sai cansado, mesmo sendo o trabalho bastante menos do que num veleiro. E menos do que o de um dia inteiro, claro, apesar de não ter a certeza de que seja metade. O salário de meia dia tão pouco é metade do de um dia, aliás. É sessenta e quatro vírgula três por cento, o que explica a minha preferência por dois meios dias. Se pudesse fazer três fá-los-ia, olaré. Ou quatro ou cinco ou seis.

Infelizmente, o trabalho é como tudo o resto: não basta querer. Ter vontade de trabalhar é condição necessária mas não suficiente. 

Esses palermas que andam por aí a apregoar que "basta querer" referem-se de certeza às palermices que dizem: querer dizê-las é condição necessária e suficiente. 

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Aliás, pode aplicar-se a mesma grelha a "não querer", claramente insuficiente para não ter qualquer coisa que não se quer ter.

Eu por exemplo não quero vir de táxi de Porto Adriano para Palma depois destes trabalhos. Venho porque ainda quero menos esperar meia hora pelo autocarro e depois fazer numa hora um trajecto que de táxi faço em vinte minutos.

Talvez não fosse má ideia abrir uma competição entre "não quereres".

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Pedro Tamen:

"Querer-te: não querer e não querer.
Não fugir: ouvir o vento.
Amar-te é nao me esquecer
Da minha casa e assento."

Não tenho casa (mentira. Obrigado L.) nem assento. Tenho mar e vento.

"O mar é longe, mas somos nós o vento;
e a lembrança que tira, até ser ele,
é doutro e mesmo, é ar da tua boca
onde o silêncio pasce e a noite aceita.
Donde estás, que névoa me perturba
mais que não ver os olhos da manhã
com que tu mesma a vês e te convém?
Cabelos, dedos, sal e a longa pele,
onde se escondem a tua vida os dá;
e é com mãos solenes, fugitivas,
que te recolho viva e me concedo
a hora em que as ondas se confundem
e nada é necessário ao pé do mar."

E ainda há quem pense que se pode viver longe da língua portuguesa. Ou que o mar a pode substituir. Ou que qualquer coisa a pode substituir. 

Até a minha fotografia fala português. 

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Amanhã há greve dos autocarros. Vou ter de fazer a ida e a volta de táxi. Paciência. Sou adepto daquela teoria segundo a qual aonde se come a chicha come-se o osso.

(E o privilégio de pilotar vedetas topo de gama vale bem um sacrifício ou dois.)

Só é pena é não ser todos os dias, várias vezes por dia.

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Mar: amo-te.

Bem sei que já te disse isto milhares de vezes, mas nunca são demais. Amo-te e tu retribuis. 

Ainda há quem se admire de eu te ser tão fiel...

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Topo de gama, topo de gama. Ontem calhou-me uma Saxdor, bastante mediana, coitada. Mas hoje foi uma Frauscher não sei quantos, uma coisa linda de se morrer, oito clientes (cinco adultos e três crianças) e parecia que ia vazio.

Hoje houve conquilhas. Amanhã não sei.

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