10.8.25

Diário de Bordos - Cabrera e Portocolom, Baleares, Espanha, 10-08-2025

Palma despede-se de mim majestosamente. Estou em Cabrera, aonde já não vinha há bastante tempo e esta semana o programa é irmos a Menorca, aonde tão pouco vou desde que Moisés separou as águas ou Noé construiu a arca (deve ter sido mais ou menos ao mesmo tempo). Os clientes são adoráveis: dois casais de italianos jovens e bem-educados. Uma das raparigas faz hoje trinta anos... Não há vento, graças a Deus. (Espero que para a semana haja e muito, mas uma coisa é um transporte e outra um charter, como qualquer pessoa sabe.)

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Este Verão passou à velocidade da luz. Já estou a cinco de Outubro na Sicília. Ainda não sei é como vou sair dali mas para isso está o Outono. 

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Vim jantar ao Sa Llotja, muito provavelmente o melhor restaurante de Portocolom. Seria injusto - ou pedante - dizer que é barato. Não é. Mas é tão bom...

Seria igualmente injusto dizer que passo dias de merda para pagar isto. Não passo.

A única coisa que posso dizer de consciência tranquila é que me sai dos pelos. Isso sai. As glândulas sudoríperas não estão por cima deles, o que de resto me parece um erro da evolução. E o que eu transpirei hoje não se conta nem se cheira. Até tirei a camisa. Felizmente os clientes são jovens e adoráveis e não se importaram. Olha a sorte que eu tenho...

(Refiro-me à totalidade do total, não só aos clientes ou ao pólo.)

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Refiro-me a esta noite e a todas as que me trouxeram aqui. E ao que me trouxe aqui. E a aonde isto me levará. Ao crematório, eu sei. Refiro-me ao caminho até ele.

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Isto só não se chama potlatch porque não tenho ninguém que retribua.

Enfim, tenho. Chama-se vida. Também desperdiça muito e ri-se. 

Podre de arrependimento, claro.

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O jantar acabou por ser menos caro do que eu pensei. É sempre melhor pensar que se vai pagar uma grande fortuna e acabar com uma pequena. Sobretudo quando o jantar é bom como este foi. Ou quando é muito mais do que um jantar: visto por um lado é uma expiação, por outro uma acção de graças. Qualquer das perspectivas vale bem o que paguei.

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Estou no meio do velho e habitual problema do dinghy: não quero ir para bordo e depois eles ligarem-me para os ir buscar porque quero dormir. Não reclamo: o alvo da reclamação teria de ser eu.Organizei isto muito mal. Estava a morrer por um duche e mal chegámos foi nisso que pensei. Resultado: voltei para o Volare, agora para beber mojitos sem açúcar enquanto tento não me desfazer em sono. Acabei por comer de mais. A mousse de chocolate era dispensável ou deveria ter sido trocada por um colonel, ainda por cima mais barato.

Estamos sempre a aprender.

(Ah, já agora um relembrete: scallops em inglês não significa escalopes.)

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Se a vida fosse tão boa comigo como eu sou com ela obrigar-me-ia a pensar duas vezes antes de agir em vez de agir duas vezes antes de pensar. Infelizmente agora é tarde, eu sei. Já ambos lançámos os dados, a vida e eu.

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Afinal o problema do dinghy não o foi e viemos todos para bordo felizes, contentes e quase sóbrios. Tanto que ainda bebemos umas hierbas

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