S. resolveu arrumar a casa. Se a ONU servisse para alguma coisa, seria para comentar - e aplaudir - acontecimentos desta magnitude. Ainda por cima com a quantidade de agências que tem nesta cidade. (Infelizmente nem para isto serve, mas isso é outra história.) No processo encontrou um moinho e um pacote de café que a nossa filha me ofereceu, nenhum de nós se lembra quando. O café é um arábica da Nicarágua, bastante bom por sinal. Foi comprado no «comércio justo», uma dessas tretas que o Ocidente inventou para se flagelar e que - tal como a ONU - é completamente inútil. Mas sendo o Homem um animal simbólico e não, como na escola nos ensinam, racional, a coisa lá vai tendo alguma existência. Curiosamente, há uma relação directa e eu diria causal entre o nível económico de uma sociedade e a importância que atribui a determinados símbolos, o que só prova que nem estes conseguem escapar à influência do «vil metal». Mas isso também é outra história.
O moinho é mais neutro: bonito, feito na China, comprado não sei aonde e manual, sobretudo. É a parte que eu mais aprecio: moer o café antes de o fazer prolonga o prazer; dá-lhe, por assim dizer, um sentido. Não se trata apenas de premir um botão ou de esvaziar um pouco de café numa panela e pô-la ao lume com água (fria de preferência). Agora tenho uma etapa antes dessa, manual. Acrescentou-se um degrau à escada. Talvez o mecanismo que me leva a apreciar isto seja o mesmo que me leva a gostar tanto de navegar, se possível à vela. Ou talvez seja simplesmente o facto de o meu trogloditismo se estar a depurar com a idade.
Talvez.
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