29.11.25

Diário de Bordos - No mar, entre o Mindelo e St. Lucia, 28-11-2025

Dormi como há muito tempo não dormia e quando acordei fui lá fora ver aonde param as modas. A noite está linda, enluarada, sem sinais de squalls, com o vento pouco abaixo dos vinte,  a velocidade entre os seis e os oito, o bote no rumo, as baterias em ordem - vou precisar de as carregar mas só daqui a um bocado, quando já estiver de quarto. Até lá, deixa ir que vai bem.

Comecei por pensar "que merda de dia a acabar tão bem" e apercebi-me logo de que estava enganado. O dia foi porreiro: conseguimos evitar todos os aguaceiros (não que tivéssemos tido muito mérito nisso...), andámos bem, fizemos meia dúzia de horas de motor e fizemos jus ao que pensei a cada um que nos passava ao lado: estamos na avenida da boa-sorte.

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A continuar assim, não toco nos duzentos e sessenta litros* de gasóleo que ainda tenho nos jerrycans, provando uma vez mais a minha tese segundo a qual "navega-se com o combustível dos tanques".

Isto dito, vem-me à memória a travessia deste Maio, cuja quantidade absurda de bidons me permitiu cortar quase a direito até à Horta e arrumo a tese debaixo do tapete com um acrescento: "quando se pode".

(* - O D. usou vinte litros porque precisou de substituir o balde que se perdeu e improvisou com um jerrycan cortado so meio.)

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De modo daqui a três quartos de hora entro de quarto e inauguro o antepenúltimo dia da viagem. Cujo fim é vem vindo: estou cansado.

E preciso de uma cerveja. Lembram-se: "uma cerveja, um duche e uma mulher, por esta ordem, se faz favor"? Dos dois últimos não sinto muito a falta, graças ao dessalinizador e à idade, que tanta serenidade me trouxe. Mas de uma cerveja a sério... ah! Daria por ela reino e meio. Estas cervejas sem álcool são intragáveis e ainda fazem pior. Dão vontade do produto real.

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Esta história da ausência de cerveja comprovou outra coisa que já sabia: a minha ausência de inveja é estrutural. Não me incomoda nada ver a P. e o J. beberem uma lata ou duas, às refeições e fora delas. Não estão abrangidos pela lei seca - "a menos que exagerem", o que não foi o caso - e embarcaram uma quantidade correcta. Creio que o stock lhes acabou hoje.

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Afinal vou passar no Marin mais tempo do que pensava. Deo gratias.

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