Todos os dias nos faltam dez dias para chegarmos porque todos os dias há cada vez menos vento. A estimativa é minha. O GPS acha que são mais. Mas o GPS não percebe nada de previsões meteorológicas e menos ainda de optimismo. Para ele só conta o aqui e agora. Nem tem memória de travessias passadas nem é capaz de se projectar no futuro. Eu tenho essas duas qualidades, às quais se vem juntar um prodigioso optimismo, capaz de transformar qualquer realidade num conto de fadas.
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E de transformar um spi inteiro num spi rasgado. Pouco e reparável mas rasgado. A homofonia em "e reparável" é propositada, pelo menos até chegarmos a terra. O Ernst em Cole Bay trata daquilo em minutos. Já eu não estou seguro da minha "reparação", que consistiu em pespegar-lhes tape de vela. Vá lá que ao menos é de spi.
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Enfureci-me comigo e com o meu optimismo desenfreado mas hoje passaram-me as fúrias: nem para um spi tenho vento. Vou com a grande e o motor de estibordo à fantástica velocidade de cinco nós.
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Porquê o motor de estibordo, perguntarão os mais interessados? Porque a) com dois motores não faço o dobro da velocidade mas gasto o dobro do combustível; b) o gerador é alimentado pelo tanque de bombordo, que por conseguinte tem sempre menos gasóleo. Ora, se há coisa de que um marinheiro gosta é de simetria.
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A carcaça reclama por causa dos esforços físicos destes últimos dias. Usa o velho método DADA: dói aqui, dói ali. Por muito grato que eu esteja à sacana - e estou - sou obrigado a ignorá-la. Quando muito, um comprimido ou dois. Se ela pensa que me vai fazer parar, está a sonhar com ladrões. Tens olhos na cara, não tens? Então olha à tua volta e pensa na quantidade de DADA de que vais precisar para me fazer abandonar isto. E nas noites. E em tudo. Vamos ao comprimido e pára de me chatear.
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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.