20.12.25

Diário de Bordos - Anse Marcel, Saint Martin, DOM-TOM França, 20-12-2025

De regresso a Anse Marcel, aonde em Abril tão bons momentos passei. A praia continua convidativa mas desta vez nem fato de banho trouxe, de maneira o objectivo é claro. Ou melhor, os objectivos: chatear a empresa para que me mandem dinheiro, beber cerveja (pouca, que é Carib) e planteur, escrever postais e disparates (não é um pleonasmo, ao contrário do que se poderia pensar), experimentar a nova objectiva e - sobretudo - imaginar que flutuo num largo rio que me atravessa e deixar-me levar por ele, nele.

Ao meu lado I. trabalha, concentrada e eficazmente. Agradeci-lhe ter-me dado o fim de de dia de ontem; estava (ainda estou) a precisar de estar sozinho mas seria inaceitável não a trazer. Acresce que ela gosta de praia e entre dois menus (tem um charter a começar dia vinte e cinco) dará um mergulho ou dois. Infelizmente não poderei comer aqui, isto é exageramente caro mas não muito longe há um chiringuito - aí sim, um chiringuito. Isto é um beach club armado ao pingarelho.

Abençoado pingarelho, abençoados alísios, bendito mar, benditos azuis, o do céu e os do mar. Benditos momentos, poucos que sejam.

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É um prazer ver I. trabalhar. É um prazer conviver com ela. É inteligente, articulada, culta. E bonita, o que não estraga nada, muito antes pelo contrário. Só lhe faltam trinta anos. Ou então sou eu que os tenho a mais, não sei.

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Ontem o restaurante indiano em Philipsburg levou-me, mal entrei, ao Indian Club em Londres, aonde o pedófilo do Gandhi ia discutir a independência da Índia. Ao princípio - isto é, durante os primeiros anos que lá ia eu, não o Mahatma - era óptimo. Depois estragou-se e a última vez que lá fui o jantar foi intragável, se bem me lembro. Seria preciso pesquisar este verdadeiro baú que é o DV, quase a fazer vinte e dois anos de vida. De vidas. E esperar que não aconteça o mesmo ao Shiv Shakti.

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Em Genebra dava aulas de vela com um aluno que já tinha a carta necessária. As autoridades genebrinas consideraram que o curso da escola náutica era suficiente para navegar no lago mas com barcos a motor. Para veleiros necessitava de outra carta. Precisava de ter alguém com carta a bordo. Quando naveguei na marinha mercante não fiz os tirocínios para passar de praticante a terceiro piloto, apesar de ter as horas ou milhas mais do que suficientes. Toda a minha vida naveguei baseado naquilo que sei e não no que os papéis dizem que sei. Infelizmente, o real tem mais força do que eu e estou agora a pedinchar, é este o termo, que a DGRM me forneça equivalências porque os papéis pesam cada vez mais nesta balança. Viver fora da caixa é muito bonito - até que a caixa te apanhe. Depois é uma seca.

Maldita modernidade. Puta que pariu o tempo - o dos outros, quero dizer. O teu é muito bom. Ou foi, vá lá saber-se.

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Todas as épocas são assim: expulsam quem nelas já esteve quanto basta. É por isso que acho estúpido esta merda de prolongar a vida, de «cuidar de si».  Vive, homem. Quando chegar a tua vez o tempo se encarregará de te dizer que chegou e abre-te a porta para que saias graciosamente. 

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