28.6.08

Serviço público - Restaurantes Olinda

Cantinho da Sé. Não tenho a morada: é ao lado da Sé de Olinda. Aconselho o Caldinho de Aratu, muito tempo e muitas cervejas; e a vista, claro, que é magnífica. É ainda mais barato do que o seguinte.

Serviço público - Restaurantes Recife

Bar da Fava, R. Padre Oliveira Rolim, 37A, Jardim Beira Rio. Um restaurante popular, barato, cuja especialidade são as favas (feijões) com carne de charque. Delicioso, barulhento, eficaz.

Cidadania

Não pagar impostos é um imperativo moral - em Portugal, no Brasil e na maioria dos países do mundo.

24.6.08

Água

Agora que estou às portas da água os dias da sede parecem-me longíquos, fantasiosos; dissolvem-se nos que aí vêm. Há que escrevê-los, para que não desapareçam para sempre, para que me lembre, um dia mais tarde, como foi. Para que a cicatriz se veja, se saiba. ("Foi" não é o tempo correcto: ainda não acabaram...)

Não sei o que será mais difícil: descrever a ansiedade, ou como é viver com ela? ¡Joder, macho!, para a frente. ¡Qué vaya! Em breve terão sido; que se vão. E não voltem.

23.6.08

Publicidade desinteressada

A Isabel Mello faz coisas magníficas. Esta exposição não se deve perder.


21.6.08

Calypso, Robert Mitchum

Conheci o Calypso via Harry Belafonte (como toda a gente, suponho, nascida depois de Setembro de 1957 - e não digo isto devido a um egocentrismo tão englobante como inexistente. É uma simples questão cronológica).


Seria, contudo, um injustificado e imperdoável egoísmo não aconselhar um disco de Robert Mitchum chamado Calypso is Like So (cf. aqui, aqui, aqui e aqui - o melhor dos quatro, parece-me).

O bar do canto

Um dos elementos essenciais do meu equilíbrio é, quer parecer-me, o "bar do canto" (aceito que se discuta a noção de equilíbrio; já a da importância do "bar do canto" não).

Notas do dia

a) Começou bem, no "Lisboa Vista do Tejo", para ouvir e ver a apresentação dos planos da Câmara para a Frente Ribeirinha de Lisboa. Nem tudo está perdido: desta vez, a APL não conseguirá colocar toda a gente perante factos consumados. Enfim, parece-me;

b) Por causa de um SMS que recebi - ou enviei, vá saber-se - ia-me encastrando num desgraçado que estava atracado à entrada da Doca do Espanhol. Felizmente ele assobiou e eu encontrei a marcha a ré a tempo. É - devo prevenir? - a única situação em que faço marcha a ré;

c) Quem já me viu sabe que sou gordo, careca e surdo; quem me conhece, que tenho pouca paciência; cada vez menos, quem me conhece bem.

Praticamente ninguém sabe - com a feliz excepção dos 4 leitores anuais deste blogue - que infelizmente me dou bem com este status quo, e pouco faço para o mudar;

d) Também sou ingénuo - hoje entrei no Bica-me para comprar leite, porque no exterior está escrito que aquilo é, entre outras coisas, uma mercearia. Vi logo que a miúda era bonita demais para merceeira. O ar de espanto dela, acoplado a um incontrolável (mas bonito) sorriso, acabou de me convencer: aquilo não é, entre outras coisas, uma mercearia. Mas as miúdas são giras - a putativa merceeira e as declaradamente clientes;

e) Jantar (aka serviço público): o Café Malaca é indubitavelmente um grande restaurante. Lamentavelmente, apareceu na televisão "duas vezes", informa-me a orgulhosa proprietária. Por mim, acho totalmente justificado e francamente injusto - gostava de lá ir quando aquilo estava vazio: a minha solidão ia com o lugar. Agora, está cheio de beautiful people; um troglodita só ao balcão se pode sentar. Continua a ser agradável, claro; mas eu preferia que aparecesse rapidamente outro restaurante na televisão, para poder encontrar uma mesa quando lá vou impromptu;

f) 3 horas de navegação sozinho, e um pouco mais com um tripulante, agradável: talvez haja melhores maneiras de passar o tempo do que numa embarcação de vela com 15 a 20 nós de vento. Mas são poucas (e cumuláveis, mas isso é outra história);

g) Gosto da palavra "bardamerda". Uma vez, ouvia-a na televisão, dita por um almirante. Hoje empreguei-a duas vezes, o que é, para mim, uma raríssima excepção: não gosto de palavrões, e só de vez em quando os uso, como os (outra vez) leitores deste blog podem verificar. "Bardamerda" é uma excepção, tanto mais feliz quanto justificada. Hoje usei-a duas vezes, e não consigo, por mais que tente, arrepender-me;

h) Ouvi, creio que pela primeira vez, uma música de Quim Barreiros, cantada ao vivo por três jovens (e medíocres) músicos empoleirados num palco a dois metros e meio do solo na rua da Bica. Tinha a ver com a cozinha e o cheiro a bacalhau. Aquele homem é um grande poeta;

i) Finalmente: conheci, via Jansenista, um magnífico blog.

Razões

Há pessoas que bebem para se divertir; outras, por prazer, ou para esquecer. Eu bebo para me dissolver.

Infelizmente não consigo.

20.6.08

Verdadeiros diálogos fictícios

- Preciso de ti.
- (Trocista) Porquê? Sem mim engordas?

19.6.08

Semântica

O antónimo de "silêncio" é "não ter nada para dizer".

Ruído, ruídos

Se todos os ruídos do mundo oscilassem entre o "Officium", de Jan Garbarek, e as "Vésperas" de Rachmaninov o mundo seria um lugar suportável.

Autismo

Míope, com um sentido olfactivo e o gosto deficientes, quase surdo; como queres que não seja autista? Só o tacto me liga ao mundo, a ti.
Não sei que título dar a este post; de "O potencial pedagógico da blogosfera" até "Oh my God" (passando pelo do original, "Biréli Lagrène num solo estratosférico", claro) todos seriam bons.





(Do "Jansenista").

Dizer o silêncio

Tenho imensas coisas para te dizer, e não posso: só conheço o silêncio, como saberias se o percebesses. Sem palavras tu não és; com elas nós não somos.

Futebol

Portugal perdeu, finalmente. Acabam os confrangedores e constrangedores espectáculos de bandeiras à janela, pessoas aos urros nas ruas, cafés impossíveis de se frequentar.

Hoje, quando vinha para casa, só vi um café vazio. Cada vez suporto menos rebanhos de pessoas aos gritos (e caladas também, é lamentável reconhecê-lo). Foi nele que entrei - para ser acolhido por uma saraivada de impropérios, emitida pelo dono do café e dirigida ao treinador. O homem tinha os olhos injectados de sangue, e movia-se no café minúsculo como se quisesse saltar para dentro da televisão e desfazer o desgraçado do brasileiro à pancada. Percebi porque é que estava vazio: devia incomodar até os adeptos da selecção portuguesa, que são muitos.

O futebol é-me indiferente entre campeonatos. Durante, sou-lhe francamente hostil. É feio.

Allgarve, West Coast and all that m...; ou: Pinhês

No país do Allgarve, do Europe's West Coast e dessas tretas todas, os documentos relativos aos incentivos ao investimento (neste caso específico, numa área designada estratégica - PENT) não estão traduzidos nem em inglês nem em francês.

Há cerca de dois meses enviei um mail ao Turismo de Portugal a sugerir que fizessem essas traduções, porque conheço um estrangeiro que estaria interessado em investir em Portugal - e não deve ser o único nessas condições. Não houve qualquer resposta. Ontem telefonei-lhes. Ninguém sabia rigorosamente de nada, nem um passo havia sido dado, nada, zero, niente, nix.

Como é que se diz "bullshit" em Manuel Pinhês?

18.6.08

Amanhã, o mar, a noite

Uma camisola de algodão, disforme e confortável; a Watermusick ("His Majesty approved of it so greatly that he caused it to be repeated three times in all..."), a prova de que o pior passou, finalmente.

Hoje é ontem: não existe; só há o que está por vir, tu, o mar, o vento e esta velha camisola de algodão na qual tantas vezes me refugiei, quando não havias tu, nem mar, nem amanhã.

Mar

Nada se perde, no mar; nem ninguém. Só se perde o que se não tem, e nada se encontra que não se tenha já.

Dizer

Não sei que dizer-te. Nao quero saber; e muito menos dizer. Tens que me ouvir. E não dizer nada, como eu.

Diálogos possíveis

- E ela, quer-te?
- Não sei. Há muito tempo que os problemas da simetria deixaram de me preocupar.

Quanto pesa...

...um texto lindo?

15.6.08

Falácias, mitos

"Duas falácias comuns sobre o mercados" é um post interessante, que deve ser lido.
PS que não tem nada a ver: O princípio do fim? Esperemos que sim.

14.6.08

Devastação, ou: As ruínas anteriores

As ruas estão cheias: de gente, de barulho, de cheiro a mijo e a sardinhas assadas, de lixo; de prédios degradados, de gatos escanzelados e rafeiros piolhentos, de maricas de mão dada, de pretos aos berros, de jovens bonitas e sozinhas ou feias e acompanhadas - de gente, enfim; de vida e dos barulhos e dos cheiros da gente e da vida.

Olho para dentro e só vejo ruínas, interiores; ou, espero, anteriores. O futuro é melhor: o que veremos não será esta devastação. Outra, talvez. Mas haverá gente, os cheiros e os barulhos, e vida, sempre; e nós seremos, finalmente, parte dela.

13.6.08

Paciência

Muita gente diz que eu tenho mau feitio. Eu não acho. Tenho é pouca paciência; cada vez menos.

Dias

"Todos os dias que Deus fez" não são todos os dias: alguns são feitos pelo Diabo.

8.6.08

Lisboa, Maio 2008

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Lisboa, Maio 2008

Lisboa, Maio 2008

Clara

"Um par de mãos num par de mamas: é a isso que eu chamo uma win-win situation." Clara tem o álcool sensual, ou ordinário - depende do ponto de vista. Para o anfitrião era visivelmente ordinário. Estávamos a jantar em casa de H., um engenheiro muito tímido e muito bem educadinho que estava incomodadíssimo, coitado, com as bocas de Clara e não sabia onde havia de se meter. Ela dirigia-se a um dos seus filhos, um rapagão de 20 anos que corou até à raiz dos cabelos. Era estudante de gestão, ou economia ou coisa no género, na Católica; cada vez que olhava para ele só tinha vontade de o embebedar até ao coma alcoólico. Clara optou por lhe provocar uma erecção, velho jogo no qual era imbatível.

Estava explosiva - sinal seguro de que se chateava de morte com o jantar. Eu tentava mandá-la calar, ou desviar as atenções - mas com os olhos dizia-lhe para continuar, porque também me estava a chatear, e porque sabia o que me esperava em casa: dois terços da bebedeira eram fingidos, e o terço que sobrava prometia-me uma noite de sonho.

7.6.08

Queixa

A FENPROF vai apresentar uma queixa à UNESCO por causa da educação especial em Portugal.

Acho bem. Já agora, deviam apresentar uma também sobre a educação que eles designam por "normal": ao fim de 12 anos de escolaridade ainda há alunos que sabem ler e escrever, provavelmente vítimas de um horrorosa violência.

A regulação do mercado

"Ordem dos Dentistas pondera impedir acesso à profissão": é compreensível. Esta estratégia funcionou optimamente com os outros médicos todos, porque não hão-de os dentistas aplicá-la também?

Surpresa

"Au Zimbabwe, le gouvernement empêche l'opposition de mener campagne."

Chez Gégène

Idiotas

Estes idiotas destes americanos!

É verdade

Vai por aí grande alarido porque "Tribunal proíbe RTP de emitir tourada de domingo antes das 22h30". Eu, humildemente, acho que desta vez - desta vez - o Meritíssimo senhor ou senhora que pôs tão sensata sentença tem toda a razão.

Basta olhar em redor para se ver que os nossos políticos devem ter passado a infância toda a ver touradas, coitados. Antes tivessem visto futebol, que sempre é mais inócuo, e não tem consequências nenhumas, nem dentro nem fora dos estádios.

O Futebol, essa maravilhosa escola de vida, de socialização, de gestão, de civismo, de boa educação, de tudo! Só lastimo haver tão pouco futebol nas nossas televisões, falar-se dele tão pouco, contrariamente às touradas.

6.6.08

Harmonia

Envelhecia, e passava horas seguidas a olhar para animações de cartas de tempo, como esta:



Não porque quisesse saber onde, ou quando, iria chover ou fazer sol; há muito que os fenómenos atmosféricos o tinham deixado de interessar - passava os dias e as noites fechado em casa, a ouvir os poucos velhos discos de blues e de jazz que tinham sobrevivido às frequentes fúrias destrutivas, dele ou do tempo; nem porque gostasse de ver o movimento das cores, ou das linhas isóbaras - a estética era-lhe indiferente, sempre fora. Era daltónico das emoções, do gosto, dos sentimentos (ou da vida, simplesmente).

Apenas porque percebia uma indiscutível harmonia nos dias em que, como hoje, "tudo estava no seu lugar": o anticiclone dos Açores bem no centro do Atlântico norte, a depressão térmica sahariana a empurrar ar quente para o Mediterrâneo (a depressão ibérica ainda não estava lá, "mas pouco faltará, decerto"); as frentes cada vez mais a norte.

Sabia perfeitamente, há decénios, que nada "tem o seu lugar" - que não há sequer "lugares" para o que quer que seja; mas isso era-lhe totalmente indiferente. Harmonia.

Misturas

Às vezes pergunto-me o que daria, uma mistura de sensualidade, espumante e John Lee Hooker.

Às vezes tenho a resposta. Qualquer coisa como isto:



Waterfront

I cover the waterfront, watchin' the ship go by
I could see, everybody's baby, but I couldn't see mine
I could see, the ships pullin' in, to the harbor
I could see the people, meetin' their loved one
Shakin' hand, I sat there,
so all alone, coverin' the waterfront
And after a while, all the people,
left the harbor, and headed for their destination
All the ships, left the harbor,
and headed for their next destination
I sat there, coverin' the waterfront
And after a while, I looked down the ocean,
as far as I could see, in the fog, I saw a ship
It headed, this way, comin' out the foam
It must be my baby, comin' down
And after a while, the ship pulled into the harbor,
rollin' slow, so cripple
And my baby, stepped off board
I was still, coverin' the waterfront
Said "Johnny, our ship had trouble, with the fog
And that's why we're so late, so late
Comin' home, comin' down'


("O slow dos slows, o melhor slow de todos os tempos")

5.6.08

Alguém interessado?

Conjuras

Alguns orgãos do meu corpo coligam-se contra mim. Há alguns anos que isto dura. Até agora tenho-as vencido todas, essas coligações, essas conjuras - têm que vir todos ao mesmo tempo, se quiserem ganhar.

3.6.08

Tristeza

Ontem bebi uma cerveja; não que tivesse sede, repara. Mas para tentar afastar esta tristeza que se me cola à boca e não me larga. De nada serviu, claro. Nem toda a cerveja do mundo chegaria.

O Segredo de um Título

As pessoas que dão os títulos portugueses aos filmes deviam ser substituidas por máquinas de traduzir. São horríveis, mas pelo menos mantém uma ténue, muito ténue, relação com o original.

À parte isso, o filme, com menos uma hora e um jeitinho na realização (dos actores não falo porque são amadores - mas para amadores até são bons) seria agradável. Assim, é uma seca que não acaba de acabar. As personagens são simpáticas (exceptuando alguns "franceses" demasiado caricaturais para serem "verdadeiros"), attachantes e a história bonita - mas enfim, uma hora a mais é muita hora.

Pergunta triste

"Manuel Alegre declara lealdade "aos que votaram no PS e estão na pobreza"" - e a quem votou (ou teria votado) Sócrates e está agora completamente desiludido, alguém declara lealdade?

2.6.08

TGV

"Nove milhões e quatrocentos mil passageiros por ano é o número estimado. ... O que dá, em anos comuns, 25.754 viajantes diários em trânsito entre Lisboa e Madrid, e um pouco menos, 25.683, em anos bissextos"

Ou seja: cada ano, ligeiramente menos do que a população de Portugal vai a Madrid, a um ritmo de aproximadamente 1,000 pessoas por hora. Eu acredito piamente nestas previsões. Aliás, como não acreditar? O nosso governo não faria uma obra destas baseado em previsões fantasistas.

Há países em que uma aberração destas faria cair um Governo.

Um excelente artigo

Aqui.

(Via Atlântico)