29.4.09

Elegância, felicidade

A felicidade não é elegante, não pode nem deve sê-lo; é, pode e deve ser arrogante. Já a infelicidade é sempre chata, monótona; não sabe ser outra coisa. Excepto quando se mistura com a euforia, numa sincronia incompreensível, insustentável, insuportável.

Magias, números

Não dou um passo que não me apareça um miúdo de 20 anos a dizer-me que é o Dr. Não-sei-de-quanttos-e-quanttos. Depois leio isto no jornal, e não percebo:

"Portugal entre os piores da UE em diplomados"

Estão convidados



Convite para a cerimónia de apresentação do projecto Mares - Olhares da Língua Portuguesa, dia 5 de Maio às 18h30 na Sala do Arquivo, Câmara Municipal de Lisboa (Paços do Concelho). Com uma breve actuação, e uma grande gentileza, de Rão Kyao.

Take Another Path

A TAP não resistiu ao aumento do preço do petróleo, à gripe asiática, ao 11 de Setembro, à gripe suína, à ... enfim, a nada que se tenha passado nos últimos anos. Não seria altura de privatizar a coisa, ou de a restruturar de forma a que resistisse ao que se passa no mundo em que voa?

As rotundas e o emprego

Se as obras públicas são benéficas para o emprego e para a economia em geral, não percebo como é que o interior se está a desertificar: não fizeram rotundas que cheguem?

28.4.09

Serviço Público - Vinhos

Alísios 2006 - Douro

O nome fez-me desconfiar, e devia ter seguido a minha intuição; engano-me mais vezes quando não o faço do que quando a oiço. Os taninos são bons (i. é, a puxar para o forte, como gosto), o fim de boca mais do que decente. Mas nariz nem vê-lo, o corpo inexistente, o gosto horrível; parece vinagre adoçado com mel. Três euros a garrafa, mas nem para a cozinha.

A quem é que o Zé faz falta?

A casa dos posts ditosos

No meio do monte de desinteresse que foram todos os posts que li sobre o assunto, apareceu este. A ler e reler.

PS - o que não me impede, aliás, de perguntar quem defenderia a liberdade de expressão se o livro em vez de ser o que é fosse, por exemplo, uma apologia de Hitler, ou tivesse sido escrito por aquele idiota que pensa representá-lo por cá.

PPS - Parece-me óbvio que o Grupo Auchan tem o direito total e inalienável de vender aquilo que quer. O PCP vende livros do Hayek? Não? Alguém para reclamar contra a censura?

Uma boa notícia...

...que nos chega de Bruxelas:

It is dead. There’s no resuscitation possible” (refere-se às negociações para limitar a duração do trabalho).

Colectânea de Poesia Contemporânea

Pede-me o Jornal Portal Lisboa para divulgar esta iniciativa. Aqui fica:

"Depois do sucesso que foi a Primeira Colectânea de Poesia Contemporânea do Portal Lisboa e da Chiado Editora (www.chiadoeditora.com, com o nome “Entre o Sono e o Sonho”, vamos agora arrancar com o II Volume da mesma colectânea (...). Neste momento, estamos à procura de novos autores para entrarem neste livro, pelo que o convidamos a visitar o regulamento (Link Regulamento) desta colectânea no nosso site. As inscrições podem ser feitas aqui (Link Inscrição)

Uma palavra

Uma palavra devia ser suficiente, mas não é. Nem um milhão delas, sequer. Melhor tentar o silêncio: quem o compreende não precisa de palavras; quem não o compreende, não as compreenderia.

27.4.09

Um sábado como já não se fazem sextas-feiras

Um texto soberbo que infelizmente só agora vi.

(Via Chove)

Pele, bicicleta

De bicicleta Lisboa tem a pele esburacada de uma prostituta velha. Uma cura de rejuvenescimento permitir-lhe-ia decerto aumentar os rendimentos.

Portas

Há uma parte estranha no trajecto de aproximação de duas pessoas: é quando se abrem umas portas e podemos entrar - mas em nós.

Cervejaria Ribadouro, Lisboa 2008


Cervejaria Ribadouro, Lisboa, 2008


26.4.09

Fragmento

...O dia está lindo. As nuvens (cumulus não muito altos) estão paradas. Amanhã vai haver pouco vento. Hoje há muito; vejo-o pela janela.

Lisboa, Dezembro 2008


Uma boa razão

...para não dar a maioria absoluta ao PS:

«Vital Moreira defende maioria absoluta para "tomar as medidas que o país carece"»

É que há noções bastante diferentes de quais são as medidas [de] que o país carece, e dar ao Sr. Sócrates a possibilidade de implantar as que ele pensa sem ter que dar ouvidos seja a quem fôr não me parece prudente.

Lisboa, Março 2009


Lisboa, Março 2009


Lisboa, Março 2009


Hoje é domingo

Magia

Havia um prestidigitador famoso, chamado Mike Oldfield, se não me engano (era casado com Claudia Schiffer). Fazia desaparecer imensas coisas, e coisas imensas. Nunca me impressionei muito com as pessoas que fazem desaparecer coisas (nem com as coisas que fazem as pessoas desaparecer, mas isso é outra história): um dia no mar, ou no rio é capaz de fazer desaparecer o mundo todo; e isso não há prestidigitador que consiga (já uma Schiffer conseguirá, talvez; e não é a única).

PS - afinal enganava-me: não se chamava Mike Oldfield, mas David Copperfield. E não era marido, era namorado, informa-nos simpaticamente uma leitora. Obrigado Leonor. Nunca fui bom em nomes (e muito menos no resto. Apesar disso posso garantir que a Claudia Schiffer não é a única senhora capaz de fazer desaparecer o mundo. Sei-o de experiência experimentada).

PPS - O Mike Oldfield era o dos sinos, ou tubos, ou coisa que o valha, não era? E das sombras ao luar...




25.4.09

Yves Montand - A bicyclette



Esta também tem uma dedicatória...

Barbara - Une petite cantate

Barbara - Ma plus belle histoire d'amour

Não se pode pensar em Barbara sem pensar nesta canção. Esta sim, tem uma dedicatória: todas e todos os leitores do Don Vivo, neste dia de outro Abril.



(Perdoem-me a pieguice; os feriados dão-me para isso, às vezes.)

Barbara - Dis, quand reviendras-tu

Perguntaram-me isto muitas vezes, e eu nunca respondi. É de uma beleza de levar às lágrimas. Hoje sei a resposta. Não é dedicada a ninguém em especial, mas podia ser.


Francis Cabrel, Je l'aime à mourir

Em francês parece um bocadinho "piegas", um bocadinho enfático demais. Há uma versão em inglês da qual gosto mais, mas não a encontrei. Não é dedicada a ninguém em especial, mas podia ser.

Grozny i. o. Ramallah: porque não?

“In the Wall Street Journal, Bret Stephens asks a very simple and very obvious question. "Observing the fact that while some 6000 Palestinians (many if not most of them terrorists) have been killed by Israeli fire since the beginning of their Second Intifada against Israel compared with between 25,000 and 200,000 Chechen civilians (in a population about one third or one quarter the size of the Palestinians) who have been killed by the Russians during that period, he wonders why the world merely shrugs in indifference at the brutalities in Chechnya while dwelling incessantly and obsessively upon Israel. He asks:
Why, for instance, do high-profile Western writers like Portuguese Nobelist José Saramago make ‘solidarity’ pilgrimages to Ramallah, but not to the Chechen capital of Grozny?”,

da sempre recomendável Melanie Philips."


(Via O Insurgente)

Evolução

Uma das evoluções mais bonitas que me foi dado ver (e viver, mas isso é irrelevante) foi a de um amor que evoluiu em amizade.

Já o contrário nunca vi, nem me parece possível. Porque será?

Passado, presente

O facto simples e irrefutável de trazermos o nosso passado irremediavelmente às costas não nos autoriza a alijá-lo para a pessoa que escolhe, por generosidade ou falta de bom senso, partilhar o seu presente com o nosso.

24.4.09

Preço

(Continuação de uma breve conversa sobre as coisas que passaram e se passaram): o preço é alto, eu sei, e por nada deste mundo voltaria atrás. Mas não será possível pagá-lo em pequenas, muito pequenas prestações?

25 de Abril

Quando é que o 25 de Abril deixa de ser uma celebração e começa a ser um feriado?

Rio Tejo

Por muito que compreenda as dificuldades dos pescadores da foz do Tejo, espero que a Polícia Marítima demonstre que serve para alguma coisa, e que não ceda nem às ameaças, nem à demagogia.

"Pescadores ameaçam reagir à acção da Polícia Marítima"

"Navegar de conserva"

«Também não conhecia a expressão "navegar de conserva"», escreve uma simpática comentadora e leitora deste blog.

Esta frase contém em si um dos grandes objectivos do projecto Mares: no séc. XVII quando um marinheiro usava expressões náuticas em terra toda a gente o percebia. Os termos náuticos faziam parte do vocabulário corrente - se bem não activo - da maioria dos portugueses. O projecto Mares quer contribuir, braça a braça* que seja, para que isso volte a acontecer.

* A braça é uma medida de comprimento que varia de país para país. A braça portuguesa tem 2,2 m.

Estão convidados



Peço a todos os blogues que achem esta iniciativa interessante que exponham e divulguem este convite. Obrigado.

Emoções

As emoções são ejaculações precoces de almas ociosas, ou sem cama.

Ganhaste-me, senhor

Cada vez que oiço esta canção pergunto-me quem ganhou quem, na realidade.

Boa noite

Cada vez duvido mais de revelações; só há confirmações.

Metáforas

Um pássaro nos fios é uma metáfora demasiado generosa: os pássaros não só não caem como também sabem voar.

Tempo para rir de novo

Como se fosse possível rir, ou chorar, de novo: é sempre a primeira vez.

Dormir

Será que a insónia é mais do que a morte do sono? Isto é: a morte de mais do que o sono?

Private post

Espero que sejas feliz. Não te amei para que o possas ser.

Fogo

Não conheço ninguém que se tenha imolado. Excepto se a abjecção for um fogo, hipótese que não é de excluir.

Dias

Devíamos ter um tanque de decantação em nós, para podermos separar imediatamente a merda dos dias.

Old love dies hard

Uma belíssima hipótese.

A inevitabilidade das rosas

"I see you with a rose in your teeth", canta Leonard Cohen a queixar-se ao homem (ao amigo) que o traíu com a mulher. Não acredito em traições: só em inevitabilidades, em forças obscuras, irrefutáveis, indiscutíveis, poderosas como o mar de um dia sem vento.

As igrejas

Há uma igreja e um teatro em cada um de nós. As igrejas escondem-se, quase não se vêem - estão sempre num post acima, atrás de um prédio, no meio de uma praça. Parece um contra-senso, eu sei: as igrejas estão sempre bem visíveis. Quase nos saltam para cima, mesmo quando não as queremos ver. Na verdade, vêem-se quando queremos vê-las, e não se vêem quando não se querem dar a ver: eu apercebo-as, às vezes, numa fotografia ou ao vivo, de um banco de lá de dentro. Nunca são brancas, as igrejas, vistas de dentro: são cinzentas, estúpidas, pesadas, opressoras - como quem as visita, nós. Vistas de fora não: são brancas e inteligentes; harmoniosas, elegantes, quase; leves. Espreitam-nos, desafiam-nos, atiçam-nos.

As mulheres são como as igrejas: brancas por fora e insondáveis por dentro. As que valem a pena. (Os homens são ao contrário: por dentro são brancos como um dia sem pecado).

Eu gosto de igrejas: de as visitar, de as ver, de nelas entrar e visitar-me (como se houvesse alguma coisa a ver). No fundo, as igrejas são isso mesmo, são diferentes para os homens e as mulheres: porque igrejas somos nós todos, cada um. Não sei falar de igrejas: é por isso que não sei fotografá-las. Prefiro-as escondidas, atrás das circunvalações daquilo que vemos, quando as - nos - visitamos.

Uma igreja não passa de uma forma que se molda ao conteúdo, em vez de o moldar. Vista de dentro, claro. De fora não é nada disso: é uma infinita vontade de dizer; uma interrogação sem ponto, nem princípio ou fim; uma colecção harmoniosa de curvas; um dia ocioso com uma máquina fotográfica na mão, um dia sem fim; uma vida sem dias.

Coisas - II

É muito difícil saltar do impossível para o que tem de ser; sobretudo quando são a mesma coisa, a mesma matéria. Já o contrário é fácil: o que tem de ser transforma-se em impossível num piscar de olhos.

As coisas

As coisas são como são, e as pessoas também. Merda nunca deixará de ser merda, um bom dia nunca deixará de ser um bom dia. Conviver com os dois permanentemente é chato, por assim dizer; desagradável. Mas é disso que uma vida é feita: de merda, e de bons dias.

23.4.09

De conserva

Dois navios navegam de conserva, há muitos anos. Atravessam uma tempestade. Mas não é a mesma tempestade: cada um deles passa pela sua.

O bom tempo pode partilhar-se. O mau não.

A vida quotidiana em Lisboa em princípios do séc. XXI

Estive para intitular este post "O Senhor Kafka vem à cidade", mas depois preferi ater-me ao título habitual: isto é demasiado kafkiano para se comparar ao velho Franz.

O passeio à frente da loja de fotografia onde costumo mandar revelar os meus rolos tem cerca de 18 metros de largura. Fica para os lados da Ajuda, no alto de uma rua com poucos transeuntes - aliás, à frente da loja (a cerca de 16 metros) há uma paragem de autocarro - ou seja, os (poucos) peões não têm razão nenhuma para andar encostados à parede.

O sítio é feio: do lado direito de quem olha de frente para a porta há um terreno vago - que o senhorio tentou uma vez ajardinar, mas sem sucesso, porque lhe roubaram as árvores; e do esquerdo há uma rua larga com prédios feios, incaracterísticos, banais.

O dono da loja resolver colocar dois vasos na entrada da loja, um de cada lado da porta, bem encostados à parede do prédio. Como lhos roubaram, colocou dois vasos maiores. As plantas dão um bocadinho de vida a uma fachada que de outra forma seria feia; não incomodam rigorosamente ninguém - o passeio, relembro, tem 18 metros de largura; os vasos foram lá colocados pelo proprietário da loja, com o seu dinheiro, a delimitar a porta.

Recentemente, a CML multou-o em 500 euros (eu repito: quinhentos euros) por obstrução da via pública.

E há quem se queixe da falta de espírito cívico dos nossos concidadãos.


(Publicado também no Cidadania Lx)

21.4.09

Eleições

Recentemente Pedro Magalhães fez um apelo para que, nas eleições que se aproximam, a escolha do nosso voto seja feita em função das medidas que os candidatos venham a propôr para limitar a entrada de automóveis em Lisboa.

É um critério sensato, ao qual eu gostaria de acrescentar outro: o que os candidatos pensam fazer a respeito da ampliação do Terminal de Contentores de Alcântara, uma asneira absurda cujo único - repito: único - beneficiário é uma empresa cujo presidente tem ligações ao partido do Governo e que nos vai prejudicar a todos - todos, Lisboetas e Portugueses - pelos próximos trinta anos. Com o objectivo de favorecer uma empresa, uma.

Agora que alguns dos edifícios da Doca do Espanhol foram deitados abaixo e substituídos por contentores proponho que vão ver como ficará o resto, quando - se - aquilo fôr ampliado. Note-se que a primeira fila de caixas, a que está mais perto da avenida 24 de Julho, só tem 4 níveis de contentores. As outras têm 5. Acaso, sem dúvida.

Pitoyable

Ceci n'est pas une pipe. C'est une connerie, tout simplement. Grotesque. Un signe de ce que nous attend. L'on devrait commencer à réagir tout de suite, pour ne pas que ça avance trop. L'air du temps pue.

20.4.09

Todos

"Aqui sou feia", disse-me um dia ao fim de muita hesitação, junto da fotocopiadora. "Mas quando tenho um orgasmo sou muito bonita. Pelo menos é o que todos me dizem". Seguiu-se uma proposta atabalhoada, confusa, arrancada a ferros de um jantar, ou coisa que o valha. Respondi-lhe delicadamente que "não, obrigado". Desconfio sempre do que todos dizem.

Feelings

A vida e a noite confundem-se nesta coisa dos sentimentos: uma sem eles não é nada, eles sem a outra nada são.

Hésitation

Entre le lit et le vide mon coeur balance. L'imbécile.

Serviço Público - Vinhos

Adega Cooperativa de Silgueiras. Dão Reserva 2003.

Quando o abrimos o vinho era sublime: vivo, um bocadinho taninado, encorpado, com um ataque formidável e um fim de boca consistente. Pouco depois um travo a doce apareceu, e estragou tudo.

Quando a ele retornámos, uma meia hora depois, o travo douceâtre tinha desaparecido, e o vinho era de novo formidável - se bem um bocadinho menos taninado.

Um bom vinho, a 6 euros a botelha.

Bar VII. Ou: Dexy's, nada de especial

Bar VI. Ou: Self explanatory

Bar V. Ou: Let's dance



David Bowie

Único

Ninguém é único. A unicidade não passa de uma questão de tempo. Basta esperar, e não passarás de um numa multidão. A questão é: quanto tempo?

Bar IV. Ou: Atalhos. Bilingues

Levar-me-ia ao altar sem passar pelo hotel. Elle m'amenerait à l'autel sans passer par l'hôtel.

Analogias antecipadas

Um dia, terá sido como escalar o Everest com uma perna partida.

Bar III. Ou: ao nível (ou: seja Deus louvado)

Ao nível do peito a senhora é maior do que eu ao nível da barriga. Que Dieu soit loué.

Bar II

A música é horrível e a senhora bonita. Antes isto do que o contrário.

Bar

Porque é que posso comprar cigarros com "avisos" e não posso comprar vodka congelada, ou uma aguardente caseira?

19.4.09

Pedras

Há as pedras nos rins e as pedras no peito; entre as duas venha o diabo e escolha.

Uma história de amor banal

Conheceram-se, banalmente, no escritório. Menos banal, ela era a mulher do patrão, e ele o tipo que na garagem lavava e arrumava os automóveis. Passo os pormenores dos preliminares: apaixonaram-se. Até descobrirem que todas as histórias são possíveis entre qualquer homem e qualquer mulher - excepto entre um homem que nunca desvirginou uma mulher e uma mulher que só conheceu um homem.

Biografia, epitáfio

Não sei quem primeiro fez a aproximação entre a biografia e o epitáfio. Creio que foi Cioran. Se não: provavelmente, quatro mil anos de história.

Uma grande verdade

"De quem o país cada vez menos precisa é de si."

(Do Portugal dos Pequeninos)

18.4.09

Peggy Lee, too

It is a good day:

Bette Midler too

Uma grande interpretação de Stay With Me:

Uma decisão precipitada

Bem podia esperar um bocadinho mais, para ver se seria realmente necessário.

"Mugabe abandons worthless currency".

(Via Blasfémias)

Febre

Esta estava.

Peggy Lee, Fever. Fica outra vez. Nunca é demais (e é melhor do que as outras):





Já agora...Bette Midler, Is that all there is?:

Rosas

Naqueles posts sobre as canções de amor faltou esta, creio.

Bette Midler, The Rose:



Ou esta versão, não sei. É magnífica, também:

Não há sombra de cidade

Chove, e a cidade fica sem sombras, plana e chata como uma noite, ou uma vida, sem sonhos.

Mentiras

Duas mentiras numa frase só: "Que a mim ninguém me houve".

Aquecimento global

Eu não quero insistir muito, mas acho que se devia encorajar as pessoas a usar um bocadinho mais o automóvel e a fazer aquelas coisas todas que os ambientalistas nos querem proibir de fazer por causa do aquecimento global. Que tanto proibiram que isto ficou assim, sem jeito nenhum, só frio e chuva.

Silêncio

Ao fim e ao cabo o silêncio é sempre o grande vencedor.

17.4.09

Juízes e palermices

Não conheço juízes que cheguem [e a que conheço infelizmente deve ser extremamente competente, portanto não ajuda] para perceber o que passa pela cabeça de um juiz que julga uma coisa destas. Pergunto-me se não haverá mecanismos na lei que permitam arquivar a queixa imediatamente - e pedir uma pipa de massa a quem interpôs a acção? Antes de fazer perder uma data de horas de trabalho a toda a gente, quero dizer.

"Maior e mais abrutada talvez seja"

Não sei o que disse Eça aos turcos: este não é o Rossio do verão. É o Rossio de sempre.

Que verão as pessoas que habitam aquelas janelas? Que reflectirão para elas as poças de água? Verão as mesmas curvas que nós? As mesmas cores, no negro do basalto transparente da água?

É nas zonas escuras que se vêem melhor as cores, os pormenores, os reflexos - será uma metáfora?

Nas curvas da calçada vejo os gestos amplos de um maestro, ou de um hipnotizador; e imagino os olhos por trás das janelas a segui-los - para onde os levam, os gestos os olhos? Para onde nos levam a nós, que nas pedras vemos janelas e nas janelas pedras? E quem é, esse maestro? Quem se deu ao trabalho de inventar o reflexo para que um dia uma cidade se possa ver ao espelho e perguntar (quem sabe?) "espelho meu, espelho meu...?"

É provável: ela já sabe a resposta; é pouco provável: ela já sabe a resposta.

Aquelas curvas não são gestos; são o sorriso trocista de uma cidade que se está nas tintas porque cabe numa poça de água e sabe que mesmo lá é sublime. Não somos nós que olhamos para a cidade, para as pedras da calçada, para as janelas ou para um candeeiro que parece entrar pela terra dentro: são eles que olham para nós e se riem, e se mostram e escondem e mostram de novo, em curvas brancas e negras de todas as cores, de todos os tempos.

O fim de um dia

O dia chega ao fim; o fim de um dia que chega ao fim sem eu querer, nem ele.

Gémeos

A esperança e a sua irmã gémea - a perseverança - são uma praga que devia ser banida do código genético da humanidade. Devíamos transformar-nos numa espécie de formigas gigantes, com um nariz no lugar do cérebro e um horizonte nunca superior a 80 metros ou um minuto, o que acontecer primeiro*.

* - Dá 4,8 km/h, a velocidade de uma marcha "normal" a cair para o lento.

Conhecer alguém

Conhecer alguém é um processo longo que consiste, as mais das vezes, em ver uma pessoa interessante transformar-se numa banal. As excepções são raras - e o melhor antídoto para este cepticismo que me invade (ou melhor: não me larga).

Milagres, rotinas

Ir para a cama devia ser um milagre, não uma rotina. Como acordar é, de resto.

A escrita e as penas

Mais vale escrever ao correr da pena do que ao correr das penas.

17 Anos

Será que esta geração sabe o que é a angústia? [Está livre dela?]

Ou vai um dia aprendê-la, com juros de mora?

Lisboa, Março 2009

M

Comunicação

O modo por defeito de comunicação entre as pessoas devia ser o modo interrogativo.

Lisboa, Março 2009


Domingo


16.4.09

O pior

O pior não é isto (se bem seja muito mau). O pior é pensarem que será suficiente - como se não fosse simples abrir uma conta noutro lado qualquer; e pior ainda - muito pior - é não fazerem aquilo que deve ser feito para acabar com a corrupção: simplificar a legislação, acabar com a burocracia.

(Via ABC do PPM)

Mais uma

Um dos meus grandes prazeres, já por aqui algures (por exemplo) o disse, é ver as minhas certezas abaladas, desafiadas, desmentidas, demonstradas falsas. Não é fácil, porque sou teimoso - ou se calhar por isso mesmo. Hoje vivi mais uma: não sou, nunca fui grande fã de Bukowski. Mas ouvi um dos seus poemas musicado e cantado por Johnny Cash, e... oiçam:



(Graças à Meditação na Pastelaria, via uma leitura do poema por Harry Dean Stanton).

Lisboa, Março 2009


Lisboa, Março 2009


Lisboa, Março 2009


Retorno de investimento na vela

Um artigo interessante (enfim, para quem se interessa, simultaneamente, por vela e comunicação), aqui.

15.4.09

Os corvos

Eugénio de Andrade tem um poema lindíssimo que acaba com corvos a voar. No poema a expressão tem um sentido ambíguo, é uma metáfora para o desejo. Eu hoje fui atacado por um bando de corvos esfomeados, sedentos de sangue - mas têm uma grande vantagem sobre os de Eugénio de Andrade: não são ambíguos. E uma desvantagem: são muito mais feios.

Toning down

É uma expressão bonita, toning down. Não me consigo habituar a ela, apesar de ter passado a vida a tentar. Mas lá que a acho bonita acho.

Farpelas

Ontem num artigo do Público a Dra. Helena Roseta falava-nos das suas rebeldia, originalidade e independência e de como elas se manifestavam pelas roupas. A certa altura contou que, já Presidente da Câmara de Cascais, lhe tinham caído o Carmo e a Trindade (nas suas versões cascalenses, claro) em cima porque tinha ido para a Câmara vestida de bermudas.

Isto para justificar a sua oposição às normas de vestuário das funcionárias públicas da Loja do Cidadão de Faro. Enfim, foi o que numa primeira leitura me pareceu. Depois percebi que era o contrário: a Dra. Helena Roseta estava a explicar porque é que essas normas são necessárias - e deviam ser aplicadas a todos os sectores e escalões dos serviços públicos.

14.4.09

Portugal

Hoje fui ouvir uma interessantíssima conferência do dr. Paulo Teixeira Pinto sobre "Uma estratégia para Portugal". Paulo Teixeira Pinto é um orador notável, uma pessoa culta, inteligente, densa: noutros tempos - e esperemos que este "outros" se refira também aos que aí vêm - seria um representante da elite nacional. Hoje não é: é uma excepção, o que é pena.

Nas perguntas houve a habitual ladaínha do "isto está mal, Doutor, teremos remédio"? É um ponto de vista que não partilho: Portugal não só não está mal como até está muito bem - ou pelo menos o melhor que lhe é possível. As elites (e aqui refiro-me às "elites") vivem bem, melhor do que o que viveriam com as suas capacidades e conhecimentos noutro país qualquer; quem não está satisfeito com o que lhe caiu em sorte emigra, e nem sequer precisa de o fazer "a salto"; os que ficam, ficam porque se sentem bem e não precisam de mais - se precisassem não aceitavam tudo o que aceitam. Não vejo como é que um país assim pode pensar que está mal.

13.4.09

Jeanne Lee





"Each song is a world". Eu diria: "Each word is a world", mas já alguém o deve ter dito, anyway.

(Neste último video: saltem directamente para uma canção chamada "Everytime we say goodbye", lá para o minuto 7 e qq coisa pouca. É a única maneira de perceber de onde vem - ou para onde vai - o meu horror à palavra "adeus".)

Um post atrasado

Este post devia estar no anterior, ou seguinte - depende. O seu objectivo é falar da Jeanne Lee, de um disco que ela gravou com o Ran Blake chamado "You Stepped Out of a Cloud", mas não se pode falar nisso sem pensar em tudo o resto: os Mistérios, quero dizer. O mistério. Tu.

Para a S. S.

Matemática, whisky, fados, Rão Kyao, albatrozes: enfim, uma confusão

Hoje descobri que o Snob - que se não fosse o que é seria um bar medíocre, mas como é o que é é um bar soberbo - tem whisky Old Parr, a pouco mais do que o outro: seria preciso beber cinco Old Parr para pagar seis dos normais. Vale a pena: de qualquer forma, ao fim do quinto não se nota a diferença. Isto é: o sexto seria um desperdício. Devemos lutar contra os desperdícios. E contra Newton (missing link), coitado, que descobriu o que toda a gente já sabia: se se beber demasiado whisky quem ganha é o Rão Kyao, que tem o melhor disco de fado que conheço. Ou o único, vá saber-se.

As andorinhas continuam a bater-me à porta, cor-de-rosa como os elefantes do mito, e saltitonas. Ainda bem; é para isso que elas são feitas, as avezinhas: para ser felizes, o que não está no menu da casa. Por cá, só as há com um grão na asa, com a cabeça num grão, com os olhos num molho de bróculos (isto só porque rima com óculos, consideração e possibilidade que deixo à consideração dos possíveis leitores - felizmente já posso usar o plural). Prefiro albatrozes, de qualquer forma: não mexem as asas durante dias, e quando vamos a ver não podemos passar sem aquele silêncio, aquela graça. Infelizmente nunca os vi com o céu azul. Defeito meu, sem dúvida.

Rão Kyao tem um disco de fado que é sublime: parece que o saxofone foi criado para tocar fado, ou o fado para o sax. Chama-se Fado Bailado. Por mim, não hesitaria: comprá-lo-ia outras duas ou três vezes. E lê-los-ia todos ao mesmo tempo, a acompanhar Knut Hamsun, o único escritor a saber o que se passa nas profundezas - leiam "Mystères" e digam-me. Enfim, vou dormir-me: ainda não bebi whiskies que cheguem para esquecer a matemática, os fados, Rão Kyao e muito menos os albatrozes, que chegam amanhã pela madrugada, como se fossem o sol.

(Para a S.S, S.R.-S, H.B., H.S e todos os albatrozes que me sobrevoaram os dias, as vidas)

Mahler

Mahler, outra vez. O sacana salta-me para o leitor como uma puta para o colo de um cliente tolo.

Partilhas

"Só partilho o meu corpo com o meu marido". A frase soaria muito mais justa não a tivesse eu ouvido num bordel do Sri Lanka, ao pôr-do-sol. A rapariga que a disse era baixinha, de olhos verdes e uma cara linda de se vender velas em Fátima por ela. Pouco depois oferecei-lhe um whisky e perguntei-lhe "que partilhas tu então com os teus clientes?" "Nada", respondeu. "Absolutamente nada". Fez uma pausa. Se estivéssemos num filme teria acendido um cigarro. "Quando muito, partilho uma c..., mas se fores a ver bem nem isso. A única coisa que partilho, tavez, realmente é o porta-moedas. E isso chega-me". Acabei por ir para a cama com ela, claro. Quando lhe ia a pagar, disse-me "levo-te um bocadinho mais do que o normal, se não te importas. Dei-te muito mais do que costumo dar. E como a culpa foi tua, acho que deves ser tu a assumir os custos."

12.4.09

Arrogância

Há uma espécie de arrogância no ascetismo - à qual os estilitas deram forma, tornaram visível.

Páscoa

Hoje é dia de Páscoa, dia que na minha infância me diziam ser o mais importante, mais importante ainda que o Natal. As minhas relações com a fé e com a religião acabaram - simultaneamente - aos onze anos, quando substituí a missa dominical pela vela, mas esta dissonância entre a importância da Páscoa, que não se vê, é para quem sabe, e a do Natal, à qual não se pode fugir sempre me intrigou, no bom sentido do termo.

Agora, que pouco a pouco vou reatando laços com a religião (mas não com a Fé : o corte foi profundo e não deixou de ir aumentando com o tempo; ao contrário da religião, que se foi deixando ficar pela indiferença mútua) a pergunta continua por resolver, mas noutros termos: qual é mais importante - a esperança, ou a sua confirmação, a sua concretização?

Psicologia feminina au petit-déjeuner

Começo o dia com "Mais la vie continue" de Hamsun. Um dos capítulos é uma história deliciosa:

Altmulig (o alter ego de Knut Hamsun) já velho, vai a uma quinta vistar uma rapariga muito mais nova, por quem sente algumas comichões. Ao cabo de muitas hesitações a rapariga confessa-lhe que se vai casar com um jovem - que por sinal acaba de passar à frente da granja onde eles estão a conversar - mas que na realidade está apaixonada por outro rapaz, de uma aldeia vizinha. E está cheia de medo, porque o moço da quinta já a ameaçou que a mataria, a ela e ao outro.

Pouco depois o rapaz volta a passar à frente deles; Altmulig tira a pistola do bolso, faz um show de pontaria e diz ao rapaz para ele ter cuidado, se não a próxima vez seria a dele, e não uma folha qualquer de uma árvore.

O rapaz começa a balbuciar de medo, que não, nunca teria feito nada disso; Altmulig diz-lhe para se ir embora - e a rapariga agarra-se-lhe ao braço e fogem os dois, ela e o rapaz numa correria.

11.4.09

Pechinchas, gastronomia típica e gastronomia cultural

Um Manuel Vázquez Montalban e um Rex Stout por menos do que duas ginginhas - e mesmo do outro lado da rua. Como é que querem que se seja poupado?

Adenda - com, porém, uma forte reclamação contra a tradução. Mesmo num livro a 1 euro não se aceita que Archie Goodwin tuteie Nero Wolfe (tanto mais numa tradução que é genericamente boa).

Cariz alegrizante

"Medida de "cariz fascizante"
Alegre contra proibições na Loja do Cidadão de Faro
".

Eu concordo inteiramente. Aliás, acho mesmo que se devia obrigar as senhoras a ir trabalhar

a) de mini-saia,
b) sem roupa interior,
c) com camisas transparentes,
d) com saltos altos (as que tivessem menos de 1,70, pelo menos).

Como prova do nosso cariz alegrizante, deixaríamos liberdade de escolha quanto aos perfumes.

Enfim, naturalmente: deveria formar-se um comité de avaliação das senhoras que deviam obrigatoriamente cumprir com estas obrigações, passe a redundância; e das que disso estavam dispensadas, coitadas. Eu ofereço-me, se a Vanessa não se importar.

(Entre a esquerda caviar e a esquerda alegre sempre prefiro a primeira.)

PS - como é que uma simples medida de bom senso pode dar origem a tanto disparate? Qualquer norma é imediatamente "fascizante". Portugal não se dá bem com a regra, nunca deu.

Teologia caseira

Nietzsche tinha razão: Deus morreu. De esgotamento, acrescento eu. Inventou a humanidade, e assim que esta se transformou em Homem apagou-Se.

É por isso que agora se perde tanto tempo a procurá-Lo.

Normas básicas de higiene

Aquando do douche trimestral não se deve esquecer, nunca, de ensaboar bem a parte de trás dos pavilhões auriculares. Aliás, já o meu irmão mais velho dizia, sempre disse: "só há dois sítios que não te deves esquecer de ensaboar, nunca: o outro é a parte de trás dos pavilhões auriculares" (quando eu lhe retorquia que isso totalizava quatro sítios a ensaboar, e não dois, ele fazia um gesto largo com a mão - que muitas vezes encontrava, infelizmente, a minha cara no caminho - e perguntava, teatralmente "que importa?". Deve ser daí que vem a pouca atenção que atribuo aos pormenores).

Ensaboar a parte de trás dos pavilhões auriculares é uma operação delicada que exige algum treino - a menos, claro, que a pessoa não se importe de misturar champô com sabonete; atitude essa que eu condeno, absolutamente: para além de ser uma espécie de pleonasmo emulsivo, indiciador sem dúvida de uma histeria latente, o sabonete pode, em alguns casos bem ilustrados pelo saudoso prof. Pfeiffer (sim: bisavô da Michelle) anular o efeito do champô.

Dado que o regime de 4 douches por ano não fornece uma base prática suficiente para se treinar, sugiro aos meus digníssimos leitores que treinem os movimentos a seco duas ou três vezes antes de entrar na banheira. Em seis meses (ou dois douches) terão adquirido a capacidade básica para executar correctamente esta fundamental operação. Também se pode praticar em macacos, claro: aliás, até combina muito bem com o pentear dos bichos. Infelizmente esta prática está limitada aos guardiães de jardim zoológico, e (de certa forma) a quem cuide de adolescentes, políticos, parlamentares e pessoas desocupadas.

Tenho uma extensa prática de douches (posso garantir que já tomei mais de uma centena, ao longo de toda a minha vida - se incluirmos os da infância, claro) e domino relativamente bem a técnica de ensaboamento da parte de trás dos pavilhões auriculares; contudo, como a minha aprendizagem foi empírica tenho uma certa dificuldade em transmiti-la - sugiro se adopte o método físico mas eficaz do meu irmão mais velho, que Deus tenha e guarde com Ele bem guardado.


Miserere mei, Deus.





Não é bem de mim, Deus, que Te peço tenhas misericórdia. É da minha inabilidade; a que outros, maledicentes, chamam falta de paciência.

Pergolesi - Stabat Mater

Foi a melhor versão que encontrei no Youtube, admitidamente após uma curta busca. Com isto encerro os posts de Sexta-feira Santa (o Ave Maria veio um bocadinho por arrasto, a reboque daquele portento de voz).




Schubert - Ave Maria - Pavarotti




10.4.09

Bach - Matthaeus Passion - Erbarme Dich

Mercado

O mercado, esse maravilhoso nivelador, disse-me claramente que eu devia baixar os preços das fotografias. Como sou obediente baixei: 150 euros para as 50 x 70, 75 as 18 x 24. Isto para as fotografias emolduradas, com molduras de qualidade, passepartout, por medida. As não emolduradas ainda não têm preço, e assim ficarão até segunda-feira. No caso de compra de mais de uma fotografia há um desconto proporcional à quantidade de fotos encomendadas. Espero que o mercado se satisfaça com estas provas de submissão e não exija maiores curvaturas da espinha.

Injustiças da blogosfera

Uma das grandes injustiças da blogosfera foi o Le Tasque ter acabado. Era um dos melhores blogues dos idos dos princípios do DV.

É. Acabo de ver que não foi apagado, e que continua a ser um prazer lê-lo, apesar de o último post datar de 2005, e de ainda me lembrar da maioria deles.

Maria João Pires - Moonlight

Aqui. Uma pessoa que toca desta maneira tem o direito de dizer tudo e mais alguma coisa.

Família

Era um grupo de "sem família" que se reunia em casa de um deles nas festas "familiares", Natal e Páscoa. Mas um dia o mentor do grupo casou-se e a família ganhou, outra vez.

A navel with a view

Por vezes sento-me na cidade e vejo-a passar por mim: a rua das Portas de Sto. Antão, com os vendedores de relógios e almanaques Borda d'Água, o Cais do Sodré e o relógio "invertido" do British Bar, as senhoras chiques da av. de Roma onde tão raramente vou, a vista sempre diferente do Miradouro de S. Pedro de Alcântara, o Princípe Real, provavelmente o bairro mais eclético de Lisboa. Passam por mim de fugida, como se eu não os reconhecesse ao primeiro esgar, como se pensassem que je ne suis pas d'ici, comme si j'étais d'ailleurs, comme si j'étais ailleurs.

Si un jour j'écrivais un livre sur Lisbonne je le ferais d'un point de vue caché, comme une caméra invisible, un nombril en mal d'amour, a wandering loner. Ca serait un livre avec de la musique, un livre sonore: les Vêpres de Rachmaninov en ouverture, les Carmina Burana en dessert et entre les deux un silence de merde, je crois, ou alors le bruit des pas de tous ces gens qui me rentrent par le nombril et se répandent en moi comme nous dans l'air du printemps de Baudoin.

Et dans ce livre je parlerais de la sensualité de la ville et je le dirai en plusieurs langues et plusieurs regards, universels comme les Vêpres, ou comme les Madrigaux de Gesualdo ou Marenzio, car Lisbonne est une ville qui se dissout dans l'humain*. Ou ao contrário, não sei: uma cidade na qual tudo o que é humano se dissolve, uma cidade que é tudo para todos, como uma puta da alta sociedade, que é simultaneamente puta e selecta, ou uma marquesa sem dinheiro, marquesa e tesa. Lisboa desfila à minha frente e se eu abrisse os olhos vê-la-ia, vivê-la-ia.


"Il y a dans certaines rues de cette ancienne capitale impériale des moments quasi magiques, des îlots d'un silence soudain, des lieux qui me transportent hors du temps, dans un monde vaguement en dehors des axes. Je ne connais pas d'autre ville où, sur si peu de mètres carrés, le réel et l'irréel, le vulgaire et le picaresque, le délirant et le ridicule, le beau et le monstrueux dans toute sa splendeur, ou le banal dans toute son horreur, se mélangent ainsi à chaque pas donné. Rien d'humain n'est étranger à Lisbonne, et elle n'a pas honte de le montrer."

(Almeida Faria, in "Les Européens", ed. Autrement)

Sono

Há dias - enfim, noites - em que ter sono é como ganhar a lotaria.

Um Senhor que viveu na Galileia há dois mil anos tinha a capacidade de transformar água em vinho; e quer fazer-nos crer que sabia o que é sofrer.

Steeleye Span - All around my hat



Descobri os Steeleye Span em 75 ou 76. Ainda não me cansei.

"Cold, haily, windy night":


Link

Não é bem por causa do tema do post - se este governo dissesse que o nome do país é Portugal e está situado na extremidade ocidental da Europa não acreditaria nem ligaria muita importância: a única coisa a fazer é esperar que a fatalidade passe, e que os prejuízos não sejam tão elevados como é de temer. É por causa do bom gosto, da qualidade, da justeza.

Paolo Conte - Blue Tangos

Biografia

Sparring partner de um Adamastor bêbedo.

Paolo Conte - Un Gelato al Limon

Angelo Branduardi - Confessioni di un Malandrino

Angelo Branduardi - Cogli la Prima Mela



"Apanha a primeira maçã". Versão longa, sublime.

Milva - Bella Ciao

Milva - Alexanderplatz

Paolo Conte - Sparring partner



"Un macaco senza storia".

E depois?

Diário

A ideia não é, claro, transformar isto num diário. Para isso seria necessário haver dias.

9.4.09

Francês, quotidiano

Le français commence, petit à petit, à s'échapper par la petite porte : celle du quotidien, que certains croient « la grande porte ». Ils se trompent : le jour-à-jour n’est que le dépotoir des rêves, une cave à ordures, machine à broyer le possible.

Auto-retrato

Não consigo estar parado numa escada ou num tapete rolantes: estar parado quando há espaço livre à frente é doloroso.

Telha

Uma telha do tamanho de um campo de futebol, demasiado grande para se diluir num copo, ou numa garrafa. Provavelmente só o mar, ou um olhar.

Adenda - O seu a seu dono: já há muito tempo que não via (e a fortiori utilizava) a expressão "telha". Foi neste blog que a pesquei, recentemente.

Pecado

Nada no pecado chega aos calcanhares da tragédia grega, telúrica, inevitável, irredimível.

Para a C. R.

Na Travessa de S. João da Praça

Não sei que dizer. Esses arcos albergaram silêncios e beijos, carícias e olhares, passos apressados de ou para - uma casa onde alguém espera alguém, de uma casa onde alguém chegou inesperadamente.

Esses arcos albergaram silêncios e obscuridades que são o fado antes de o fado ser; olhares e mãos que são o amor antes de o amor ser, ou depois; há neles lugares onde o sol não chega, e outros de onde não sai (apesar de quem manda ser a Lua: são arcos da noite, de noites, de silêncios, de olhos que tudo vêem e ninguém vê).

Esses arcos são os arcos da minha cidade, a cidade onde pela primeira vez bebi vinho e te bebi - e não há melhor definição de "a minha cidade" do que essa: tu e o vinho, a vida toda, inteira, sem uma vírgula que seja a menos se me deu a provar.

Debaixo desses arcos te abracei pela primeira e pela última vez. Debaixo desses arcos vivi, para sempre.



Para a H. B.

8.4.09

Reformulação

Nem as palavras nem o coito têm o poder que lhes é atribuido.

(De alguns posts antigos.)

Luz

Há dias em que a luz do pôr-do-sol na Mouraria me dá vontade de lhe meter as mãos pelas casas e apalpar-lhes as fundações.

Flores

Foste feita para receber flores, rapariga. E elas para te serem dadas.

Fome

Não é bem um bife que quero comer, agora. É a fome.

Palavras

Pensamos que nos obedecem, as palavras, essas cabras; mas assim que podem fogem-nos e nunca mais lhes pomos a vista em cima, nem as mãos.

Vida, margem

Ele vivia à margem da vida, à margem de si-próprio. O mundo era-lhe tão estrangeiro como ele.

Diagonais. Vida

Um dos travões da minha bicicleta avariou-se e tive que fazer o glorioso, sublime trajecto até à Baixa com a bicicleta pela mão. Recentemente aconteceu-me uma coisa muito semelhante, mas no outro extremo da diagonal da vida.

7.4.09

Jantar

Vou jantar-me; a vida pode esperar.

Exo-Don Vivo

Quem me conhece sabe que não atribuo grande valor ao Don Vivo, coitado. Gosto de escrever as coisas que lá estão, e guardo-as porque sou um "guardador" (aliás foi uma das razões para criar o DV: não perder tudo o que ia escrevendo) - e se sei (por mera comparação, e porque os standards andam baixos) que não escrevo mal, sei também, pelo mesmo método, que o interesse da maioria dos posts é reduzido.

É portanto sempre com um misto de espanto - de dois espantos - que por vezes deparo com textos meus noutros blogues (até hoje, sempre com link e autoria atribuída, nunca vi nada plagiado; isso sim, seria o extremo do absurdo): por um lado, por alguém achar que eles são bons. Por outro, porque frequentemente me surpreendo a achá-los bons, também. Como se não tivessem sido escritos por mim.

De qualquer forma, o meu obrigado reconhecido.

Porque os blogs também servem para isto



Mátria delas

Descobri hoje este blog, e deixo aqui já agora de seguida imediatamente uma citação essencial: "Há mulheres assim, dengosas: sempre acabadas de acordar, sempre acabadas de sair do mar, sempre acabadas de fazer pela natureza que lhes sai em flor aberta pela respiração."

PS - E antes já tinha lido isto:

AMAR


Que pode uma criatura senão,

senão entre criaturas, amar?
amar e esquecer,
amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?

...

Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa

amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita.

Museu dos Coches

É um pouco tarde, mas não demasiado. Na verdade só ontem me senti suficientemente informado sobre a história do Museu dos Coches para assinar - e aconselhar a assinar - a petição contra o novo Museu dos Coches (assinar tudo o que nos cai nas mãos só porque sim é desvalorizar um instrumento de política que devia ser mais usado, e credibilizado).

Mais uma asneira incompreensível, um mau uso de fundos públicos (mesmo provindo do casino, podem ser usados para outras coisas), mais uma história mal contada. E a utilização do edifício da Cordoaria - que só faz sentido se se mantiver como está e foi feito, ininterrupto - para albergar salas do Museu de Arqueologia.

Aqui.


PS - uma boa explicação do problema aqui.

Sarcasmo

Quando fazemos qualquer coisa devemos sempre pensar se é à prova de sarcasmo. De um sarcasmo médio, claro; porque aos outros, aos super-sarcasmos, nada resiste. Nada.

Ah, qué cimentos

Vêm para aí umas noites frias que se fartam. Se a malta do aquecimento pudesse fazer uma forcinha eu agradecia. Nem precisa de ser global: se se ficar aqui pelos lados do Princípe Real já era uma grande ajuda.

Ani DiFranco - 32 Flavours

willie nelson - Loving you was easier

And now for something completely new:

6.4.09

Salif Keita - Tekere

Juro que ia parar (ou começar, para quem chega agora). Mas oiçam esta guitarra e digam-me se é possível:

P. C.

Poucas coisas me fazem rir - ou me constrangem - mais do que ouvir um esquerdista dizer "eu não vou ser politicamente correcto, mas..."

Foram eles que nos trouxeram a praga, e agora fingem-se vítimas, coitados.

Rokia Traoré

Começo aqui o ciclo, prometo.





A "música do mundo" fez muitas desgraças, e muitas maravilhas.

M'bilia Bel - Salé ou Sucré

M'bilia Bel - Douceur

O som é francamente horrível. Mas mesmo assim é irresistível:

Vários - Homenagem a Simaro



(Inclui uma breve - mas poderosa - aparição de M'bilia Bel, uma das grandes cantoras congolesas)

Sam Mangwana - Faute ya commerçant

Sam Mangwana - Kiyedi

Françoise Hardy - Le temps de l'amour

O legal, a ética e a estética

O buffet de almoço num restaurante é dos sítios onde melhor se vê a diferença entre o legal, o ético e o estético.

Categorias essas, infelizmente, muito confundidas - sobretudo pelas classes opulentas da nossa sociedade.

5.4.09

Tautologia, privilégio

Não amei todas as mulheres com que estive; mas amei todas as que amei, sim. É um privilégio.

Crew Hassan

De vez em quando vou um sítio chamado Crew Hassan (o nome quer-se, se bem percebi, um jogo de palavras com "croissant"). É um lugar que me transporta para os meus primeiros tempos na Suíça, um misto de Centre de Rencontres e de bar de squat, com uma série de actividades culturais dirigidas aos jovens.

Sento-me na sala, com uma cerveja - a estrutura de preços é gira, e benéfica para o ambiente: se se beber a segunda cerveja no mesmo copo paga-se menos 30 cêntimos por ela - e penso na ilusão de cada geração, inevitavelmente, de ter reinventado o mundo. E de como este seria um lugar triste, se essa ilusão não existisse.

Sue me



(Do Bomba Inteligente, via Insurgente).

Descalço



Patti Smith, Dancing Barefoot

Lisboa, cidade

Lisboa, minha nossa cidade, feita de andares de verde e de tempo, de andares e olhares. A Lisboa por onde passas e passo não é a mesma: cada corpo é um corpo, cada rua uma rua, cada olhar um olhar que vê uma cidade diferente, cada corpo, cada rua.

Nesta Lisboa alguém olha por ti, para ti, alguém. Alguém vê o verde, uma mistura de palmeiras e azulejos, um olho vazio redondo - mas cheio, quase imponente.

Alguém olha e anda e vê. Uma cidade é isso: mistura de alguém com um olhar, de ruas com passos, cheiros e sentimentos, emoções, dúvidas, milímetros. Uma cidade é feita de espaços e do olhar que os preenche; olhares. Uma cidade é feita pelas árvores que nela habitam, pelas pessoas que as olham, e pelas que as vêem.

Uma cidade é uma vida, vivida por milhões de pessoas. Uma cidade é uma pessoa, vivida por milhões de vidas.

Clandestinidade, liberdade

Não há maior medida de liberdade do que a clandestinidade.

Fotografia

A única coisa que interessa, que se deve fotografar é o que não é visível.

Troca

Uma pele por um alívio.

Por te dizer

Deixa-me começar por te dizer isto: vou fotografar-te: os silêncios; a culpa, a pele; as palavras, seixos numa praia deserta; o olhar: insuportável, grato.

Vazio

É impressionante, o que a vacuidade pode encher.

4.4.09

3.4.09

Uma mensagem clara

"Netanyahu to Obama: Stop Iran—Or I Will"

Via Cachimbo de Magritte

Clandestino, com destino

Hoje vi uma pedra a cair devagar, um cavalo a galopar parado, uma árvore imóvel num meio da tempestade; hoje vi como seria um mundo sem ti.

Dance me...



....to the End Of Love

Dance me to your beauty with a burning violin
Dance me through the panic 'til I'm gathered safely in
Lift me like an olive branch and be my homeward dove
Dance me to the end of love
Dance me to the end of love

Oh let me see your beauty when the witnesses are gone
Let me feel you moving like they do in Babylon
Show me slowly what I only know the limits of
Dance me to the end of love
Dance me to the end of love

Dance me to the wedding now, dance me on and on
Dance me very tenderly and dance me very long
We're both of us beneath our love, we're both of us above
Dance me to the end of love
Dance me to the end of love

Dance me to the children who are asking to be born
Dance me through the curtains that our kisses have outworn
Raise a tent of shelter now, though every thread is torn
Dance me to the end of love

Dance me to your beauty with a burning violin
Dance me through the panic till I'm gathered safely in
Touch me with your naked hand or touch me with your glove
Dance me to the end of love
Dance me to the end of love
Dance me to the end of love

Que surpresa!

Empréstimo



Vem do French Kissin' e é magnífico.

Eu subscrevo



Subscrevo porque:

A história da licenciatura não foi bem contada;
A história do Freeport não está a ser bem contada;
A história da ampliação do Terminal de Contentores de Alcântara não está a ser bem contada;
As histórias do BPN e do BPP foram mal contadas;
Os aumentos de impostos não foram contados de todo;

Há demasiadas pontas soltas e a credibilidade do Primeiro-Ministro reduziu-se a zero.


PS - De todas as pessoas, com ou sem processo, que durante esta crescente felgueirização do exercício do governo apontaram o dedo ao seu máximo responsável e inspirador. Sócrates já há muito passou a fronteira do aceitável, e espero que o João Miguel Tavares tenha a noção que há processos que nos honram.

Compasso a compasso

Socalco a socalco, silêncio a silêncio, espera a espera, encosta a encosta vou-te conhecendo. Meu rio, meu corpo.

2.4.09

Pássaros, peitos

Tens no peito dois pássaros, rapariga. Liberta-os; deixa-os voar. Foram feitos para ser vistos, tocados, ouvidos.

Urbi et Orbi

Hoje ouvi, no Hot Club, a melhor jam session dos, pelos menos, últimos 6 anos. Um dos responsáveis foi um pianista português chamado Júlio Resende. O outro foi uma baterista / vibrafonista / compositora galega chamada Julia Martinez. Fixem este nome: Julia Martinez.

Vai tocar em Julho no Goethe Institut.

"Dignidade"

O Lourenço, do Complexidade e Contradição, escreveu agora uma série de posts que começa com "É desta que me despeço por hoje" e acaba - bom, a bem dizer não acaba. Mas se nos referirmos apenas aos que escreveu hoje acaba com "No Pingo Doce (I)".

Esta série de posts seria suficiente para explicar porque é que se deve ler o C & C todos os dias. Mais do que isso: deve levar-nos a invejar aqueles que tiveram a sorte de o ler todos os dias, desde o primeiro dia.

1.4.09

Watermusick

Uma vez passei uma horrível e longa noite de tempestade, no Mediterrâneo, a ouvir uma cassette da Watermusick que estava em modo repeat. Não podia largar o leme porque não tinha piloto automático. As tempestades no Mediterrâneo são uma merda sem fim, sem nome; e durante anos não ouvi nem a Wassermusik nem as Fireworks, que estavam do outro lado.

Agora oiço, de vez em quando. Hoje, por exemplo: a Philarmonie Baroque Orchestra, dirigida por Nicholas McGegan, Harmonia Mundi HM 1907010. Uma interpretação muito sóbria, que não tem nada daquela violenta noite num Gibsea 35 a caminho de Sète, ou Cap d'Agde.