30.6.04

Vichyssoise

Aqueles que me conhecem sabem que um dos meus amores de estimação são os bancos portugueses. Tenho por eles uma admiração sem limites, um amor - como dizer - indescritível (apesar de a expressão "banco português" ser aquilo a que os lógicos chamam uma "contradictio in terminis"). Ontem li no jornal uma notícia que me entristeceu de verdade. Dizia ela que uma grande empresa portuguesa tinha transferido a sua dívida para a banca espanhola.

Como conheço bem a dita empresa, não resisto a contar isto (tão pouco resisto a uma rima, sobretudo quando vem de cima):
Há uns meses, a dita grande empresa portuguesa recebeu, na mesma semana, dois ou três telefonemas de outros tantos bancos a anunciar que as linhas de crédito abertas em seu favor iam ser fechadas; em breve uma confirmação escrita seguiria, mas enfim, que se fossem preparando. (O facto de terem sido dois ou três bancos na mesma semana não implica, longe vá o agoiro, que os bancos estivessem a agir de concerto. Qué vaya, hombre, tan mala idea).

Poucos dias - sublinho, dias - depois deste anúncio, fomos informados pelos jornais que a dita empresa tinha sido comprado por uma - como dizer, concurrente? colega? - espanhola. E poucos dias - sublinho outra vez, dias - depois, os mesmos bancos telefonaram à mesma pessoa (não estou, vade retro Satanás, a dizer que os bancos estão combinados) dentro da mesma empresa para anunciar que não, afinal as linhas de crédito continuavam abertas.

E ontem ficámos todos a saber que a empresa colocou toda a sua dívida (setenta milhões de euros) em Espanha. A vichiyssoise, tal como o gaspacho e outras coisas, é uma sopa que só sabe bem fria.


PS - Assumindo uma taxa de juros de 2,5 - 3%, isto significa que os bancos portugueses perderam à volta de dois milhões de euros. Metade do bónus anual de qualquer um dos administradores, é claro. Mas sempre é uma vitória moral.

PS 2 - Um desses bancos é dirigido por um senhor que insiste muito na manutenção em Portugal dos centros de decisão. É como ver o Sampaio a exigir rigor ao próximo governo... deve ser para dar munições aos socialistas nas próximas eleições.

Política

Que delícia: agora é um socialista que exige ao PSD garantias de rigor nas Finanças! É bonito, não é? Sê-lo-ia ainda mais se o Presidente fosse o Guterres; mas enfim, não se pode ter tudo.

Soulagement

Dos 4 ou 5 espinhos que tenho cravados, um descravou-se agora. Mas era o maior, o mais doloroso, o único irremediável. Alelluiah.

O fim, IV

Não foi. Afinal, o fim só começa agora.

Astrólogos, videntes, adivinhos e quejandos

Há leitores do Don Vivo nas categorias acima descritas? Precisava de um favor: que me fizesse uma previsão dos dias em que a minha mulher a dias vem trabalhar. Não precisa de ser muito exacta: 50% é muito superior ao que tenho agora.

Obrigado.


29.6.04

O fim, III

De repente, o horizonte fica cheio de morte, o tempo, o ar.

O fim, II

Sabemos que o fim está próximo quando olhar para o futuro já é olhar para o passado.

O fim

Como me será ele anunciado?

Morte, mar

Pensava: provavelmente, no mar não se morre. Desaparece-se, como o sol debaixo de água, como uma nuvem com o calor do dia, como uma espuma no topo da vaga.

Só o mar resiste à morte. Só no mar se resiste à morte.

27.6.04

Eleições

Deve haver poucas coisas que eu mais tema do que o regresso dos socialistas ao poder; e sei que se houver eleições agora, o PS vai lá parar, são favas contadas (mal, é certo, que pôr socialistas a fazer contas é como pôr um alcoólico a gerir um bar). Mas mesmo assim, acho que devia haver eleições. Qualquer que seja o aspecto jurídico ou constitucional da questão, há uma dimensão política que só pode ser dirimida com eleições.

Mas a) porque raio de carga de água é que o homem aceitou o lugar, e b) porquê, mas porquê, o Santana Lopes? Não há mais ninguém no PSD?

Pra quem é bacalhau basta

Não poderiam eventualmente mandar o Santana Lopes para Bruxelas? E já agora davam um lugarzito lá ao Alberto João, assim com'àssim...

Isto dito,

Isto dito, e para citar o Abrupto, "yes, I feel cheated". E o pior é ver pessoas inteligentes, cultas, informadas, achar bem que ele vá, "porque dá projecção ao país". Projecção? Projecção é sairmos da situação de m... em que estamos, é fazer as reformas que - demasiado timidamente é certo - ele estava a fazer, projecção é não ter palhaços como primeiro-ministros.

Futebol; ou: Nem tudo está perdido

É impressão minha, ou desde que se fala nesta indescritível história de Durão Barroso ir para Bruxelas fala-se menos em futebol? Quase parece que o Euro acabou...

24.6.04

Um milhão de euros por quinzena!

Não há dinheiro????????

Não há dinheiro é para hospitais (desafio-vos a ir ver o de Cascais), nem para milhares de outras coisas que tanto beneficiariam com investimento público... um milhão de euros por quinzena!!!

Não há dinheiro? O que não há é vergonha, nem justiça que funcione.

Um milhão de euros por quinzena! - Não te admires se as negociações se prolongarem, diz M. H.


PS de boa-fé(30/06/2004): aposto que foi um contracto do tempo do Engenheiro; ou: aposto que se os socialistas estivessem no Governo, seria 1 milhão de euros por semana.

PS 2: O PS anterior é objectivo, de boa-fé e totalmente isento, claro. Como um artigo da Ana Sá Lopes, ou do Fernando Rosas (se ele escrevesse artigos).

Via Dolorosa

Restaurante Armazém da Cachaça, Rua S. João da Mata, 88/90, 1200 - 850 Lisboa. Tel. 213 965 264.

Não vão lá; e não comam picanha, que não é preciso. E, sobretudo, desdenhem os pequenos salgados que vos servem de entrada; e não olhem bem à volta, com olhos de ver, que o restaurante não é nada bonito. E não comam a Mousse de Cachaça, que também não é preciso; e não liguem aos empregados, que não são nada simpáticos e atenciosos e prestáveis. E a escolha de música brasileira é péssima, e a caipirinha... Um horror, meus caros, um horror!

Estilos

Um dos meus blogs favoritos é o Le Tasque. É um blog hilariante, bem escrito - apesar do hábito, infelizmente cada vez mais frequente, que a Senhora D. Tasqueira tem de utilizar o pronome reflexo com o verbo auxiliar em vez do verbo principal (já a oiço daqui: "Vai-te foder", em vez de: "Vai foder-te", nitidamente mais correcto). Muito recentemente, um post fez-me chorar de inveja: tem data de 21 de Junho e é dirigido a uma senhora(?) que lhe deve dinheiro.

Estando eu numa situação semelhante - só que, pelo que ela diz num post anterior (de 15/06), com consequências mais graves - não consegui impedir-me de pensar no que seria bom mandar um texto assim ao organismo público (no caso, uma Câmara Municipal) que me deve algumas dezenas de milhar de euros.

Mas os nossos estilos são, irremediavelmente, diferentes. Do mail que enviei para a dita Câmara, cortei frases como: "O teu partido diz defender a iniciativa privada e a soberania nacional. Faz mal: um palhaço português é, antes de português, palhaço - e o que o Estado Português tem vindo a fazer (há muitos anos, é certo) é transformar este país numa palhaçada cuja consequência e remédio será, se Deus quiser, a entrada de muitos espanhóis nas nossas empresas"; ou "Claro que vocês fazem o que fazem porque as vítimas se calam - todos sabemos que o primeiro caloteiro do país é o Estado e suas dependências, mas ninguém se levanta porque sabe que para a próxima é ao Estado que tem de bater à porta". Apesar de violento, o mail que seguiu para a dita Câmara não se compara ao post da Tasqueira.

Os estilos são diferentes, e (como digo num inocente post anterior), prefiro o dela.

22.6.04

Táxi

Foi no dia em que ela quis apanhar o mesmo táxi que eu. "Estou cheia de pressa, este táxi é meu"; "Também eu estou com pressa, e, a senhora vai desculpar-me, mas quem o chamou fui eu". A discussão parecia sem fim. Acabei a propôr-lhe levá-la ao restaurante para onde ia; acabei a pagar a corrida toda, apesar do sobrecusto significativo que isso implicara; acabei a dar-lhe um cartão de visita.

"Temos estilos diferentes, mas gosto mais do seu do que do meu", disse-lhe. Ela escreveu-me no dia seguinte: "Não desgosto do seu. Venha almoçar comigo".

Fomos a um restaurante grego, perto da doca. Ela era controladora aérea; trabalhava no Aeroporto havia muitos anos. Eu navegava. "Não se impressione", dizia às potenciais conquistas, "a verdade é que não sei fazer mais nada". Caiu em seco, claro. O que me salvou foi saber fazer outras coisas.

As coisas (subentendido: como vão as?)

Num texto em que descreve uma relação sexual com uma senhora inglesa, diz Woody Allen (cito de memória, reconhecendo que atraiçôo outras memórias):
"por breves instantes, tive a impressão que, enquanto fazíamos amor, ela mexeu ligeiramente a pálpebra de um olho; mas rapidamente me apercebi que tinha sido uma ilusão de óptica".

É a resposta que me apetece dar a quem me pergunta "Como vão as coisas?". Só espero que seja mais do que uma ilusão de óptica.

Jantar (outra vez?!) e vinho

Não mencionemos o jantar. Foi a pior tortilha que jamais fiz. Nem com água devia ter sido acompanhada. Nem pelo inominável vinho de ontem.

Falemos, antes sim, do vinho de hoje: Conde de Vimioso, 2001. Comprado na Enomania (uma loja na Rua das Janelas Verdes, à esquerda quando se desce) a conselho do jovem, prestável e - diriam algumas - bonito funcionário. O vinho não é só bom. Como descrever um vinho que

a) tem uma cor e uma espuma bonitas;
b) tem um nariz rico, um ataque sentido, marcado, de homem;
c) é redondo, encorpado, equlibrado, equilibrado, equilibrado;
d) tem um final de boca que não é final - é uma eternidade, parece um turista tonto em Londres, parece um olhar ou dois de que ainda hoje me lembro, tantos anos passados;
e) custa 6 euros -seis- (na Enomania)?

Pode começar por dizer-se que é um desperdício com uma m... duma tortilha, o que é verdade; e que é abençoado o dia em que se o bebe; e que é daqueles vinhos que não precisa sequer de acompanhar seja o que fôr: quatro amigos podem pedi-lo num bar, numa discoteca, num café, na praia, num barco à vela, e bebê-lo, porque ele se basta a si próprio, se acompanha a si próprio.

21.6.04

Um jantar improvisado

Migas de batata com pimentos,
Moira da Guarda cozida,
Cebola nova frita.

Bom e leve. As gorduras de que o meu corpo tão desesperadamente necessita para se manter gordo foram azeite ("a melhor cozinheira é a azeiteira", diz a sabedoria popular. Acho que é verdade para o sexo masculino igualmente) e a gordura do enchido.

Os pimentos foram assados antes de misturados nas batatas - as quais se cozeram na água de cozer a moira, e levaram uma pitada de paprika, como única especiaria.

Acompanhou com "Magic and Loss", do Lou Reed, um disco que também gosto de ouvir quando tudo está mal, ou nada está bem, ou quase nada está bem, ou quase tudo está mal - e com um vinho demasiado medíocre para ser mencionado.

Sul

O sul é a casa do sol.

Amor

Ainda não sei, apesar de todos estes anos, todas estas vidas, o que é o amor. Mas sei que, quando a minha alma precisa de um porto, o meu corpo de outro corpo, a minha dor de um fim, quando a minha alegria pede para ser partilhada, quando o meu olhar precisa de um sorriso, a minha mão de uma pele e os meus passos de uma direcção, és tu quem está lá.

Volatilidade

Da volatilidade ele quis fazer um refúgio. Mas nesse refúgio ela entrou, e instalou-se.

20.6.04

Celebrações

Será que se Portugal deixasse de ser um país do terceiro mundo estes saloios celebrariam da mesma forma?

OK, eu preciso:
Se a nossa taxa de iliteracia descesse?
Se os nosso bancos começassem a ser bancos e dexassem de ser casas de penhores?
Se as casa de banho dos nossos restaurantes ficassem limpas?
Se se pudesse andar nos passeios a pé?
Se os salários permitissem uma vida decente e normal?
Se o fisco se tornasse eficaz e deixassem de ser os empregados a suportar a carga fiscal do país?
Se a saúde funcionasse como deve ser?
Se a justiça idem aspas?
Se a educação idem idem aspas aspas?
Se a pobreza desaparecesse - ou diminuisse, vá?
Se o desnível entre altos e baixos rendimentos diminuisse?
Se para se ser político em Portugal fosse necessário servir o País antes de se servir a si próprio?
Se os serviços públicos funcionassem?
Se a burocracia se tornasse eficaz?
Se os hospitais públicos deixassem de ser os pardieiros que são?
Se os organismos que gerem fundos públicos deixassem de servir unicamente para os distribuir aos amigos?
Se as escolas públicas funcionassem correctamente?
Se o Big Brother não fizesse parte do currículo escolar?
Se o número de acidentes mortais nas estradas diminuisse?
Se o Estado começasse a pagar a horas?

Podem ordenar como quiserem (categorias, grau de relevância, o que quiserem) e tirar as repetições.

Mais dois...

Entrada do templo -
O som do sino fica preso
No ar gelado


Que bela manhã
O carvão crepita
de bom humor


Idem

Haikus

2 haikus de Issa:

Uma gota de orvalho
A vida Uma gota de orvalho
e contudo...

Onde há pessoas
Há moscas
E Budas

In Primeira Neve [haikus] de Issa Kobayashi, versões de Jorge Sousa Braga, Assírio & Alvim, col. Gato Maltês

Inveja?

Não, não é inveja. Isto é realmente insuportável.

Loucura

Só compreendo a loucura secreta, solitária, individual. A loucura colectiva dá-me náuseas.

A obcecante presença da ausência

Só a ausência me tem acompanhado ao longo da vida, só ela é constante.

Solidões

Há duas solidões: uma, ontológica; outra, vivencial. Não gosto de nenhuma; ambas são inevitáveis.

A lógica interna das ruínas

Tinha a lógica interna de uma ruína: incompreensível.

Inferno

Alguém ganha um jogo de futebol, e a 24 de Julho transforma-se num inferno. Hoje foi Portugal (ou seja, o martírio vai continuar).

Prece

Lembra-te: também o verão ocorre quando já o sol se vai embora, de regresso a casa.

A favor do analógico

A vida não é digital, é analógica.

19.6.04

Vida e morte

Hoje é sábado. Almoço (o substantivo, não o verbo) em caso dos pais. Terça-feira talvez o teu pai esteja morto. Tudo é tão... igual? Diferente?

Vida Urbana II

É cada vez mais difícil andar a pé em Lisboa, pelo menos se o desejarmos fazer nos sítios para isso indicados, os passeios - o que é conveniente: ontem ia sendo atropelado por um idiota que, numa rua estreita na qual eu era obrigado a estar por não poder andar no passeio, decidiu que não tinha que travar - afinal, era eu que ia no espaço dele.

Pergunto a mim mesmo se Santana Lopes - ou melhor, o Governo - ganhariam ou não votos se disciplinassem o estacionamento dos automóveis. Por um lado perderiam, é certo, o voto dos automobilistas. Talvez não de todos - alguns há-de haver que são contra este status quo de indisciplina; por outro, ganhariam o dos peões, que são obrigados a verdadeiras gincanas e malabarismos pelos automóveis indevidamente estacionados.

No final talvez o cômputo lhes fosse favorável - tal como seria ao Governo se fizesse as reformas que inicia e deixa a meio, mas isso é outra história, e outro debate.

18.6.04

Lubris e Demagogia; ou I wish you were here

- Vamos para casa, querida, é hora de ponta.
- Para ti é sempre hora de ponta!
- Graças a ti, meu amor, graças a ti.

- És um pau mandado.
- Muito bem mandado, meu amor.
- E muito obediente, é verdade.

- Ando com uma líbido de tísico.
- E eu estou num período de sorte.

- Querido, está na hora da minha injecção de vitamina aaahhh.
- Então vamos para casa preparar a agulha.

Vida urbana

Cinema, outra vez - O Milagre segundo Salomé. Como dizer? Para filme português não está mau - mas não vale a pena sair de casa de propósito. Devia acontecer a este filme o que aconteceu, a dada altura, aos filmes franceses: os americanos apoderaram-se deles, e fizeram remakes - perdão, filmes decentes. Mas está melhor: os actores já não falam como se estivessem no teatro, e por momentos, por breves instantes, temos a impressão que existe uma direcção de actores; o argumento tem uma ou duas falhas - uma das quais maior. Enfim, vê-se.

Volto a pé para casa, como ontem. Páro no "Pançudo das Bifanas", uma roulotte no fim da D. Carlos I, conselho simpático do chauffeur de táxi da ida. A bifana é boa; contudo, apercebo-me que devia ter pedido uma "especial".

Para casa. A bifana só atordoou o bicho, não o matou. Uma sopa de feijão, espessa, no Porão de Santos resolve o assunto - e o sorriso e as maminhas da empregada (pequenas, mas tão perfeitas, tão sólidas debaixo da t-shirt, tão a caminho da Lua) despertam outros.

Para casa. Um pouco para lá da Kapital um bando de adolescentes discute qual ecstasy comprar; um carro da Polícia está parado à frente do Saloio; os polícias, totalmente indiferentes aos carros que atravancam os passeios, fazem bicha. A roulotte "Paribebe" tem gente, mas a "Expresso Brasileiro" está vazia. Inúmeras pequenas bonitas na rua. As portuguesas estão cada vez mais bonitas, e mais bem vestidas - se bem que no verão apeteça dizer "mais bem despidas".

Para casa. O porteiro da Poncha já me conhece e diz-me "boa noite" sorridente.

Não volto para casa.

Le Chercheur d'Or

Deito-me, triste, sozinho. Abro Le Chercheur d'Or; leio duas, três, quatro páginas. De repente apercebo-me que são duas e meia da manhã, e que já não estou sozinho, e que já não estou triste.

Outro link.

Boas notícias, más notícias

As boas notícias vêm a conta-gotas; as más, em catadupa;
Deus é parcimonioso com as boas notícias, e magnânimo com as más;
As boas notícias duram pouco; muito, as más;

Mas as boas notícias fazem-nos viver; as más não nos fazem morrer.

"On est tous des farceurs", dizia Cioran, "on survit à nos problèmes".

Alelluiah

Tudo não é mau; tudo não é mal. Porque é que o bom e o bem são tão pouco, e tão raros, então?

Trial and error, ou: Experiência e Esperança

Tal como uma pessoa com uma perna partida precisa de duas muletas para se deslocar, precisamos da experiência e da esperança para progredir: são as duas muletas do conhecimento; e sem uma, a outra de nada serve.

Bush

Quando oiço dizer que o Bush é estúpido, não consigo impedir-me de pensar que o mesmo foi dito, oh quanto e quantas vezes e quão veementemente, do Reagan.

17.6.04

La Chaux-de-Fonds







Até as luzes são tristes.





Vista do apartamento de Serre 2: não fiz nenhuma fotografia de La Chaux-de-Fonds que a definisse, a meus olhos, tão bem como esta.

Mais sobre o sublime

Também sublime, mas de outra forma, é "Le Chercheur d'Or", de le Clézio. Já tenho uma série de extractos preparados para transcrição aqui no Don Vivo; e agradeço o momento de inspiração que me trouxe à memória este autor, e me trouxe vontade de o ler, ou reler.

Eternal Sunshine...

... of the Spotless Mind.

Ainda a propósito do esquecimento: O Despertar da Mente (como de costume, as traduções dos títulos dos filmes roçam o obsceno) é um filme sublime, uma história de amor sobre o amor, sobre a memória, a sua importância, e da ainda maior importância do esquecimento: esquecêmo-nos do que dizemos mal, do que pensámos errado, do que fizémos errado. Vão vê-lo: é lindo, inteligente e terno.

Foi, creio, Bernard Shaw quem disse que um segundo casamento é a vitória da esperança sobre a experiência. Nesse sentido, este filme é um hino à esperança.


Divergência, ou: Diferença de Idades

Ela queria aprender aquilo que ele queria esquecer.

Diálogo

- Quero-te, mas não quero fazer tudo o que seria preciso para te ter.
- E sabes o que seria preciso fazer para me ter?
- Sei, mas não quero fazê-lo.
- Então, faz já tudo o que podes para não me ter.

E ele assim fez: convidou-a para jantar. Ela disse-lhe que não, claro. Nunca mais se viram.

16.6.04

Diabos

Morte aos diabos, por afogamento!

15.6.04

Krueger Park


Krueger Park, 1999

As minhas idas ao Krueger passaram por três fases: na primeira, eu não conhecia os animais; na segunda, comecei a conhecê-los, a saber onde os encontrar, os seus hábitos, etc.; depois, eram eles que me conheciam.


Música

A música da Idade Média é, como penso, a mais antiga de que há traços escritos? Talvez isso explique a aura de mistério, a profundidade, dela - presentes mesmo nos Carmina Burana, cânticos profanos, de taberna (refiro-me à versão do R. Clemencic, não a essa reconstrução quase desinteressante do Carl Orff).

Objecção contra os blogs:

A falta de pudor.

Fotografia


La Chaux de Fonds, Personnages


Cada fotografia deve ser irrepetível, e dispensar comentários. Esta é uma das minhas favoritas de toda a série do "Pod" (Avenida Léopold-Robert).

14.6.04

Família

O pai estava mal, e não era aos irmãos que ele telefonava.

"Waterwitch"




Não é, decerto, o clipper mais bonito que conheço. Mas é, sem dúvida, uma das mais bonitas imagens de clipper, e o que tem o mais bonito nome.

Os clippers são dos mais bonitos barcos que jamais se fizeram (se bem que não haja um "modelo" - clipper é apenas um nome genérico que designa barcos rápidos construídos para um certo trade: ópio entre a Índia e a China, chá entre a China e a Inglaterra, lã da Austrália, mineiros e aventureiros da Costa Leste dos EUA para S. Francisco).

As histórias de clippers fizeram-me sonhar desde que ouvi (ou, mais provavelmente, li) a primeira. Os recordes que estabeleceram só agora, com os trimarans gigantes e monocascos state-of-the-art, começam a cair.

Perseverança

Uma pessoa descobre que nada tem para dizer. Insiste, contudo: há muito que sabe que não tem vida, e persiste em viver.

13.6.04

Euro 2004

Um monte de selvagens, de tronco nu nas esplanadas e nas ruas.

Contra-dicções

- Be thyself - gritava-lhe Peer Gynt.
- Não - respondia; - tudo menos isso.

12.6.04

Deserto

E agora, para casa. A chacun son désert.

Fotografia

Uma pessoa descobre que quer fotografar. E decompõe a palavra: photo graphare.

Noite

A noite passa. Uma noite sem ti não passa. A ausência não tem noites, só dias: a ausência é uma doença.

É agora

É agora, dizia, que o texto vai nascer; é agora que a tua pele me jorrará das mãos.

É agora.

Silêncio

Um desejo é feito de silêncios, e uma ausência também.

As coisas

As coisas não acontecem quando queremos: acontecem quando elas querem que nós queiramos que que elas aconteçam. A última palavra é nossa; a primeira é delas.

Amor

Não sei o que é o amor. Mas sei o que é a ausência de amor.

Vazio

Uma pessoa senta-se à frente do computador; descobre que não tem nada para dizer, por muita que seja a vontade de dizer qualquer coisa. "As sinapses, meu caro, estão gastas, diluídas, erodidas".

Essa pessoa vai para casa. Ouve os Cânticos da Liturgia Eslava, pelos Monges da Abadia de Chevetogne, ouve os Cânticos do Êxtase, ouve a Música para a Corte do Rei Janus; lê o autor do momento, le Clézio; bebe mais um whisky, ou vodka, que é o sabor do mês; e pensa. "Faltas-me tu, e só tu me faltas agora."

Pensa: ou seja, as sinapses não estão assim tão gastas, os neuro-transmissores funcionam. "Tudo funciona, menos eu", conclui, acertadamente. "Faltas-me tu. Sem ti não sou eu, sem ti não sou completo, sem ti não sou."

Talvez seja mais bonito do que verdade, ou mais verdade do que bonito: resta saber se fala à música, ao whisky, à vodka, à mulher com quem sonha, à mulher que ama, à mulher que gostaria de amar, à mulher por quem gostaria de ser amado, à mulher por quem quer ser amado.

A pessoa senta-se à frente do computador. Apercebe-se, uma vez mais, que não tem nada para dizer.

Vida

A vida dele parecia uma montanha russa desenhada por um Deus sob LSD.

Loyauté

- D'où vient tant de loyauté, à qui?
- Te dire que c'est à moi-même ferait de moi un monstre?

Biblioteca online

Bartleby. De onde vem o post anterior, de onde virão muitos mais.

Cântico

Hic Breve Vivitur

From “De Contemptu Mundi” By Bernard of Morlaix. Tr. J. M. Neale (cir. 1125)


BRIEF life is here our portion,
Brief sorrow, short-lived care;
The life that knows no ending,
The tearless life, is there.

And after fleshly scandal,
And after this world’s night,
And after storm and whirlwind,
Is calm and joy and light.

There grief is turned to pleasure,
Such pleasure as, below,
No human voice can utter,
No human heart can know:

The peace of all the faithful,
The calm of all the blest,
Inviolate, unvaried,
Divinest, sweetest, best.

That peace,—but who may claim it?
The guileless in their way,
Who keep the ranks of battle,
Who mean the thing they say.

Strive, man, to win that glory,
Toil, man, to gain that light,
Send hope before to grasp it,
Till hope be lost in sight!

Chicragna

O barco chama-se Chicragna, e prometi não lhe mudar o nome. Mas para mim será, sempre, Sine Qua Non. (Não liguem à fotografia, na realidade é muito mais bonito).

Fidelidade

Sou o homem mais fiel do mundo: ainda estou apaixonado por todas as mulheres por quem já me apaixonei. Não foram muitas e não é por acaso.

(Para a S. S.)

10.6.04

Estatuto

Ela era um pouco mais que amiga, e um pouco menos que namorada. E ele também.

9.6.04

Noite

Quando saía, não ia para a noite, ia contra ela.

Debates

Debate ao pequeno almoço: perguntei ao senhor do café quem pagava o salário do treinador da equipe nacional de futebol. "A Federação", respondeu ele. Um outro cliente disse que "sim, mas a Federação vai buscar fundos ao Orçamento de Estado."

Espero que não. Seria escandaloso. Depois ocorreu-me que talvez não fosse assim tão escandaloso: afinal, houve mais debate em Portugal sobre o salário de um funcionário superior das finanças que sobre o custo de dez (dez!) estádios de futebol que vão ficar às moscas depois do campeonato que se aproxima.

8.6.04

Michel Leiris

"...

Or nous étions dimanche
Les plaisirs vrais ou faux dormaient dans les boutiques
et tous les coeurs étaient fermés"

"les Veilleurs de Londres", in Haut Mal

Luz

A luz não serve apenas para mostrar as coisas. Ela pode - e deve - servir para no-las esconder, também. "Blinded by the light" é o título de uma canção cujo autor não recordo (será Bruce Springsteen?), mas que epitomiza de uma forma admirável o que penso da fotografia.

Le Clézio - "Le Chercheur d'Or"

"Du plus loin que je me souvienne, j'ai entendu la mer." Um livro cuja primeira frase é esta não pode ser mau. "...Je l'entends maintenant, au plus profond de moi, je l'emporte partout où je vais", continua, algumas linhas abaixo.

Pecados

Só há um pecado: é a dependência.

7.6.04

Que fazer...

... quando tudo arde? Ver um filme do Rohmer, sugeri numa outra ocasião. Ou ir a uma livraria e comprar isto:

"Ne jamais se flatter
d'avoir fait sa descente aux enfers
car un voyage aux enfers,
en plus cruel encore,
est toujours à refaire."

Ou isto:

"...
Viendra-t-il jamais à l'esprit d'une de ces innocentes salopes de se traîner pieds nus dans les siècles pour pardon de ce crime: nous avoir enfantés?"

Michel Leiris, in "Haut Mal", ed. Gallimard. O primeiro poema chama-se Éclipse; o segundo extracto é o final de um poema em prosa chamado La Mère.

6.6.04

Particularmente difícil, ou as armadilhas da memória

O fim de semana foi horrendo. A Lei de Murphy aplicou-se em todo o seu esplendor (com duas ou três excepções, ver posts abaixo). "Digno de registo", pensei. A verdade é que essa expressão despoletou uma recordação, de um dia "particularmente horrendo, digno de registo": e verifico que só me lembro do título, não do conteúdo. E isto de um dia que me parecera - à data - o pior da minha vida.

Meu caro: o pior dia da tua vida ainda não chegou. Ou então: todos os dias são o pior dia da tua vida. Ou então: a memória encarrega-se deles, dos piores dias da tua vida.

Objecto transicional

Se tivesse idade para isso, poderia dizer que hoje perdi o meu objecto transicional: o telefone portátil. Caiu à água, mesmo à entrada da marina, depois de um fim de semana particularmente difícil.

Analogia

Se a minha vida fosse uma mesa, teria sido feita por um carpinteiro louco, que fez a mesa e passou o resto do tempo a tentar ajustar o tamanho das pernas.

Ouvidos:

- Os homens aqui não fazem nada!
(Os homens, minha Senhora, não fazem nada em lado nenhum. Porque haveriam de fazer no Restaurante Caldo Verde?)

- (A mesma voz, largos minutos depois) Rock in Rio, Rock in Rio... Desde que essa porcaria começou a nossa clientela diminuiu. Imagino como vai ser durante o Euro. O Governo devia pensar nisso, quando autoriza essas coisas: é preciso indemnizar as pessoas que perdem dinheiro com as coisas que eles autorizam.

Via Dolorosa

Unicamente para contradizer o post seguinte:

Nem tudo vai mal. Hoje, por exemplo, almocei com M. em Cascais; andei horas à bolina num barco que bolina bem; e fui jantar ao restaurante Caldo Verde.

O Restaurante Caldo Verde fica situado em Lisboa, na Rua da Esperança - o nome é apropriado, já lá conheço dois restaurantes, dois, que o justificam - nº 89-91, 1200-656 Lisboa (para quem quiser enviar postais. Quem preferir telefonar pode fazê-lo para: 213 903 581). A última vez que fora ao Restaurante Caldo Verde foi, penso, há vinte anos, no seguimento de uma crónica abonatória no Expresso. Hoje, as especialidades da casa, diz o cartão de visitas, são: Lulas Recheadas, Filetes de Tamboril e Rojões de Porco à Transmontana). Ora se o Bacalhau à Braz estava como estava e não é uma especialidade da casa, é difícil impedir a minha imaginação de vôos desvairados quando penso nos pratos que o são. No Restaurante Caldo Verde pode comer-se até à meia-noite; pode comer-se bem (o que é raro: ou se come bem, ou se come até à meia-noite); e não é muito caro (excepto, claro, as azeitonas: são óptimas mas não valem o euro e dez que pedem por elas). O serviço é mais do que atencioso: é simpático e familiar. E a música - da rádio - é excelente: hoje passei o jantar a ouvir blues, e Frank Sinatra. Tunc: nem tudo está perdido.

A grande dificuldade do Bacalhau à Braz consiste em equilibrar harmoniosamente (ah, la joie du pléonasme) os sabores dos quatro principais componentes: bacalhau, ovos, salsa e alho. Quando se conseguem distinguir estes quatro paladares (e tons dos outros), o Braz merece o apodo no Bacalhau. E o de hoje, meus amigos, só me fez pensar nos anjos (de quem tão necessitado ando ) e no cozinheiro do Altair, Miguel de seu nome, e fazedor do melhor Bacalhau à Braz de que há memória no hemisfério ocidental.

Deveria, portanto, aconselhar todos, e todas as leitoras deste blog a ir comer ao restaurante Caldo Verde. Não o faço porque o restaurante é muito pequeno.

Como vão as coisas?

As coisas só podem ir de duas maneiras: mal, ou pior.

Contradição?

Sou incuravelmente optimista; e sou a confirmação viva e ambulante da Lei de Murphy.
Contradição? Não, resiliência.

("Se alguma coisa pode dar errado, dará. E mais, dará errado da pior maneira, no pior momento e de modo que cause o maior dano possível." Há inúmeras versões da lei de Murphy, mas esta é a minha favorita, a mais precisa e correcta.)

3.6.04

Terra amata

Procuro, por curiosidade, a bibliografia do Le Clèzio e vejo este tìtulo: Terra Amata. A., esta é para ti, inteirinha.

Poucos mas bons

O jantar da Lua teve pouca gente; mas, como se diz, "poucos mas bons".

O menu foi:

- Mousse de agrião com molho de pimentos verdes;
- Solha com molho de limão e laranja;
- Gelado de chá sobre rodela de ananás.

Mon pauvre ami, que c'était bon!

Recordo que os jantares da Lua estão abertos a todos e todas, que são à primeira quarta-feira de cada mês (atenção, em Julho será na segunda quarta-feira do mês), que custam 25 euros por pessoa e que todas as noites têm um tema.

E com esta vos e te digo boa noite.

Le Clézio

A tempestade passou, quase (obrigado, J.!) - "quase", quase é uma palavra que engana muito, vamos a ver amanhã - e eu estou doente com uma gripe ou uma constipação ou lá o que é, coisa que comecei por curar com dois ou três comprimidos, viva a química, meia de vinho e duas grappas no restaurante italiano onde fui jantar, chama-se Piccolo Napoli e fica na Rua dos Machadinhos, à Lapa, é um pequeno restaurante de bairro onde também comi uma lasanha que não estava má, enfim, e um vodka no Pop-Up, de quem aliás prometi não tornar a falar da barmaid, e passei a noite toda a pensar no le Clézio, na vontade que tenho de escrever uma frase como ele, enorme, uma duas três páginas numa frase só, que não é lapidar porque senão seria preciso um pedregulho incomensurável, e ninguem teria força para a atirar, nem aqueles selvagens do Nigeria que lapidam mulheres só porque elas têm filhos como se no Nigeria - que se lixe o Nigeria, hoje estou mais preocupado comigo, com o fim do mau tempo, ao qual sobrevivi mas não inteiro porque agora cada vez mais estas tempestades levam-me bocados da alma (e bem podiam levar bocados do corpo, sei lá, da barriga, por exemplo) e passei o jantar todo a transpirar como se estivesse com malária e a ver a clientela do restaurante, muito jovem muito Lapa muito jovem Lapa, à minha frente estava um casal que tinha como particularidade terem ambos o cabelo exactamente da mesma côr e não era pintado não, era a côr dele mesmo e era igualzinho, tão jovens, tão Lapa, tão bonitos que eles eram, estudantes universitários ou coisa assim.

Pourquoi pense-je à le Clézio? Provavelmente por causa da febre, não sei - a verdade é que li um livro dele tinha para aí uns 15 ou 16 anos e depois nunca mais li nada - ou porque a noite me parece tão unida, tão escorrida, tão unida na diversidade de uma tarde que começou como esta começou e acabou no escritório a escrever esta porcaria só porque tenho vontade de screver uma frase longa longa longa e de invocar Allah, Allah u Aqbar, será que amanhã o ciel de traîne va vraiment se dissiper? Será que amanhã poderei fazer face aos problemas habituais e não a esta merda deste ciclone que me ocupou anteontem e ontem e hoje e não sei ainda se amanhã - só sei que estou farto farto farto, as coisas passam-se e passam e levam-me bocadinhos da alma e no fundo eu só quero transformar-me num long fleuve tranquille e gostaria que estas cataratas por onde regularmene caio secassem de vez, ao contrário do teu olhar meu amor que tanto anseio por conhecer melhor e por poder dizer-te sim meu amor e lembro-me de ti quando te conheci, amanhã ou depois, lembro-me sempre dos dias que ainda não foram, só me lembro dos dias que anda não foram, dos outros esqueço-me, que queres, j'ai la tête qui est une vraie passoire et je ne me souviens que de ton sourire, mon amour futur, mon amour, que longe anda o Jean-Marie, que escreveu ele que eu tenha lido?

Nao sei, só me lembro, só me lembro da febre de hoje que está quase a passar, da vontade que tenho de beber mais um vodka, da vontade de te ter aqui ao meu lado, por baixo e por cima e ao lado e por baixo e por cima a olhar para mim e a dizer-me que sim, sim, amas-me, e o le Clézio que vá para o raio que o parta, on s'en foût de le Clézio, mon amour, on s'en foût de tout le corpus, de toute la littérature, on s'en foût de la doxa et on s'en foût de la lumière, esta luz que hoje parecia fundir o Tejo e a cidade numa só entidade, o Tejo parecia quase só um descampado azul clarinho da cidade que escorria para ele, visto da Lapa a caminho da farmácia, o Tejo vinha comigo e depois ficou à porta porque deixei de o ver. Se o le Clézio estivesse aqui estaria agora a encontrar uma mosca e a descrevê-la - quando afinal de contas não vi nem uma mosca hoje, no restaurante não as havia, só o casal e a mesa com as cinco ou seis recém-adolescentes que comiam pizza, e que depois encontrei a despedir-se afectuosamente à frente do portão de um condomínio qualquer, e com tudo isto a verdade é que o Cônsul ficou sem cavalo branco mas com um cão morto em cima (ainda bem que estava morto ele também, se não seria horrível), e eu para aqui estou com uma febre idiota e estúpida e extemporânea, e com uma vontade de ti, meu amor, de ti.

Tenho vontade de ti e é a ti que dedico este texto.

1.6.04

Constat

A 50 ans, il a constaté que toute sa vie restait à faire. "Ce n'est point un constat agréable", se dit-il, en se dirigeant chez l'armurier.

Dinheiro

Talvez o dinheiro não seja a liberdade, mas a falta dele é uma prisão.