4.10.25

Diário de Bordos - Aeroporto de Palermo, Sicília, Itália, 04-10-2025

Cheguei ao aeroporto quatro horas antes do voo. Se não é um recorde anda lá perto. Esta noite não dormi nada e estou cheio de sono. Contento-me olhando para o mar. O aeroporto de Palermo fica à beira-mar e da cafetaria tenho uma vista soberba sobre o Mediterrâneo, ainda com alguns carneirinhos e azul, azul, azul. Azuis: são vários os tons até chegarem ao mais escuro, o do fundo, que tem um ferry a atravessá-lo e há bocadinho tinha um veleiro. Desapareceram os dois. Ficou o sono e o tinnitus. Devido ao cansaço, ao sono e à tensão explodiu e parece que tenho um enxame de abelhas bêbedas no ouvido. Gostaria de deitar-me e dormir mas não vi cadeiras vazias. Estão todas cheias e além disso têm aquelas divisórias para impedir as pessoas de se deitar. Tenho de esperar pelo avião para dormir. Três horas, agora. A culpa é de um bocado de rede no hélice e da maneira como a Inti Charters lida com o assunto: é uma fonte de rendimento. Tenho pena: não me importaria nada de trabalhar aqui no próximo Verão. A costa é linda e os portos porreiros. 

Depois é chegar a Palma, ir buscar as injecções e ala para Andratx. Fiquei depauperado, liso, teso. Pqap à Inti.

Estou a ver se consigo recuperar pelo menos uma parte, mas as probabilidades de o conseguir são as mesmas do que alguém oferecer-me um bocadinho da Lua.

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Bem podia aproveitar para rever o texto do Não Sei. Tenho tanta vontade disso como de ir para uma festa na Lua. Uma rave. Um party.

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A escala em Barcelona foi misericordiosamente curta e o voo para Palma está ainda mais piedosamente quase vazio. Com um bocadinho de sorte conseguirei dormir. Se não, não fará mal: quarenta minutos  passam tão depressa a voar como a dormir.

Continuo a não pensar demasiado na minha relação com os meus compatriotas. Começou mal, em mil novecentos e setenta e quatro. Odiava-os e desprezava-os, uma mistura bastante oximórica. Não se pode odiar quem se despreza, tal como não se pode amar. O desprezo é um apagador de sentimentos, é por assim dizer monopolista. Mas nesse tempo eu era jovem e nem sequer sabia o que é um oxímoro. Percebia mais de sentimentos, nos quais vivia mergulhado,  afundado, afogado.

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Chego a Palma mas desta vez não é Palma-la-calma que me recebe. É uma Palma zangada, furiosa, triste, ansiosa, frustrada. Mas quente, vá lá. Ao menos isso. E sem uma nuvem no céu (refugiaram-se todas dentro de mim...)

1 comentário:

Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.