18.1.04

O prazer da vela

Já por cinquenta vezes tentou começar um post para explicar porque gosta de vela. Queria uma explicação racional, bonita, objectiva, que mencionasse a complexidade, e o facto, a seus olhos englobante, de um barco ser um universo, e um universo que se desloca.

Há muitas mais: um barco à vela cria o seu próprio vento, por exemplo. E quanto mais depressa vai mais forte é o vento que gera (o qual se chama vento aparente, ou vento relativo), o que o faz andar mais ainda depressa, até que atinge a sua velocidade limite - a velocidade polar. Ou o facto de as forças em jogo num barco serem tantas, e as suas interacções tão complexas, que quase parece um ser vivo. Não há num veleiro nada, mas nada, que não seja o resultado de um compromisso, nada para que não haja uma justa quantidade, ou posição.

Mas nada disso o satisfazia:eram explicações mancas, incompletas - como uma tradução em prosa de um soneto de Camões.

E lembrou-se da primeira vez que andou ao leme de um barco: fora em Quelimane, e o barco era um Snipe. Ele tinha-o tirado sem autorização e estava, claro, cheio de medo - estava a infrigir praticamente todas as regras do clube. Quando chegou a terra, o director do clube chamou-o e disse-lhe:
- Não é por teres roubado o barco que eu me vou zangar contigo. Eu posso perceber que tivesses vontade de andar ao leme. Não: eu zango-me contigo poque tu estavas a navegar muito perto das margens - e quando não se sabe fazer vela anda-se no mar, o mais longe possível da terra!


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