30.12.07

Amor eterno

Na Idade Média e na Renascença cada pessoa casava-se várias vezes durante uma vida: a esperança de vida era curta e o casamento também, por força das circunstâncias. Até finais do século XIX nunca passaria pela cabeça de ninguém que o amor devesse durar para sempre. Nesses tempos defendia-se mesmo que não se deve misturar o sexo, o amor e o casamento, que são três coisas com ritmos, timings e esferas diferentes e não necessariamente miscíveis.

A partir do início do séc. XX as condições de vida mudaram radicalmente: a saúde e o dinheiro ficaram acessíveis a fatias cada vez maiores da sociedade, e os ideais românticos de meados do séc. XIX também. Isso criou uma tensão muito grande no casamento e no amor: tinham que ser "pour la vie"; mas a esperança de vida aumentou muito mais do que o amor, ou o casamento, podiam suportar. As expectativas cresceram, exponencialmente: o casamento tinha que ser eterno, o amor também, o sexo perfeito, sempre e para sempre (a título de curiosidade: outro efeito disto foi o aparecimento do "instinto maternal", inexistente até aí).

A maioria das relações acaba mal (isto é, conflituosa, amarga ou dolorosamente) não porque a relação acabou (tudo tem um princípio, um meio e um fim), mas porque um ou os dois parceiros pensam que foram defraudados (e foram, as suas expectativas foram inegavelmente defraudadas).

Muita dor se pouparia, se as pessoas deixassem de pedir o impossível - ou se a espécie evolver para este novo paradigma, claro, mas isso parece-me mais difícil, ou pelo menos muito lento.

Sem comentários:

Enviar um comentário

Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.