23.2.10

Política

Não sou muito de manifestações, greves, movimentos colectivos, "futuros radiosos" ou "novos homens". Não gosto de engenharia social, de activistas - sejam eles monárquicos, de esquerda, de direita, a favor ou contra os animais, contra as marés ou por uma lua cheia aos fins-de-semana. Por isso, quando conheci a Anabela e me apaixonei por ela - foi quase simultâneo - sabia que estava a fazer uma asneira.

Anabela era sindicalista, dirigente de um partido de extrema-esquerda e professora de sociologia numa faculdade pública, boa. Conhecia-a porque veio ter aulas de ténis comigo. Ao fim da terceira lição eu estava completamente colhido por ela. Já o contrário demorou um bocadinho mais - e exigiu, sobretudo, que me calasse com as minhas piadas anti-esquerda, anti-maricas, racistas e machistas. É verdade; espero que não me confrontem muitas vezes com esta admissão: calei-me - ou melhor, mudei - por causa dela.

Era muito grande, mais alta que eu; loira, com um corpo ginasticado, tenso, elástico. Foi muito difícil convencê-la a ficar comigo mais do que a primeira ou segunda vez de cama. Todas as nossas conversas iam invariavelmente parar à política - até que eu tomei a decisão de não tocar no assunto, nunca mais. Anabela tinha um certo ascendente sobre mim, reconheço-o sem dificuldade de maior. Era eu que a amava; ela deixava-se amar.

Uma noite estávamos na cama e fui-me abaixo. Fiz-lhe uma observação - é verdade que totalmente gratuita, inútil, não provocada. Mas inócua; qualquer coisa do género "este palerma do [segue-se o nome de um sindicalista qualquer] só diz asneiras". "Imbecil", retorquiu.

Eu tinha um ano de pressão para sair. Comecei a bater-lhe - murros e pontapés, só. Mas foram muitos, é verdade. Só parei quando ela estava morta - os polícias que me invadiram a casa é que mo disseram, porque eu continuava a bater-lhe. Não sabia que se pode matar alguém com murros e pontapés, mas parece que sim.

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