11.2.11

Cepticismo, objectivos

F. está deitado de costas numa cama larga, de casal. Tentem imaginar o cenário: uma cama king (ou queen?) size, um tecto de madeira, paredes nuas. Não sabemos se é um quarto de hotel, o quarto da casa onde mora F. , um quarto onde está de passagem.

Sabemos que F. está deitado de costas, braços abertos e olha para um ponto no tecto que seria, pensava ele, o ponto para onde olharia se quisesse olhar nos olhos as mulheres que já ali, naquele preciso sítio, estiveram.

“Ponhamos de lado as outras e concentrêmo-nos”, diz, “nas significativas, relevantes, importantes. Imaginemos que as mulheres que restam são vectores e que esses vectores apontam para um alvo. As questões são: apontam? Se sim, onde está esse alvo?”

F. não sabe. Tem 40 anos, tenta dar um sentido a tudo o que até ali viveu. É solteiro e gostaria, como diz em todos os garden parties onde vai, de “se casar e ter filhos”. Ninguém o leva a sério: aos quarenta anos um homem normal, com um inegável sucesso na sua vida profissional, bonito, culto, inteligente não quer “casar-se e ter filhos”. Quando muito, quer seduzir uma senhora que acredite em tais patranhas.

F. concorda parcialmente com essa leitura céptica da vida. Mas sabe que não é inteiramente justa: que fazer, daqui a meia dúzia de meses, com as “senhoras que acreditam em tais patranhas?” F. pensa que as únicas mulheres amáveis são as cínicas, as incrédulas, as que já viram tudo, estiveram ali e fizeram isto e aquilo. Essas, justamente, são as que não acreditam em F.

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