24.7.12

Brighton, Reino Unido, 24-07-2012

A viagem de Brighton para Lisboa foi má até Viana do Castelo; a semana em Lisboa passou a correr, a correr de mais; voltei para uma Brighton fria e chuvosa. Mas agora, faz hoje dois dias - ou três? - o verão começou. Vai ser curto, é certo: este fim-de-semana a coisa vai começar a piorar; mas estes dias têm sido magníficos. Da viagem no S. lembro-me dos bons momentos; os maus foram para o arquivo geral. A semana em Lisboa, tão curta, tão boa, com tantos passeios de bicicleta em tão pouco tempo. Para que servem os maus momentos? Que fazer deles se não esquecê-los, mandá-los para o arquivo para futuras referências, aprender com eles que o importante são os bons e não os maus?

Procuro trabalho em Brighton, mas há pouco. Esta combinação de falta de verão seguida de uma total falta de vento é bonita para umas coisas e má para outras. Bonita para os fins de dia como o de ontem; chata porque se ouve com frequência "estamos com pouco movimento". Bolas, não é movimento que falta, nesta marina.

É preciso imaginar um dia sem vento. Zero Beaufort, zero nós, zero metros por segundo, zero na medida que quiserem. Faltam duas horas para a noite chegar, o sol já está baixo mas o céu ainda está azul até perto do horizonte; aí fica uma mistura de cor-de-laranja com cor-de-rosa. A linha do horizonte não é claramente discernível, mas sabemos que há mar porque vemos dois navios, iluminados pelo sol e portanto eles também cor-de-laranja-cor-de-rosa a flutuar numa coisa que tem exactamente a mesma cor que o céu e é lisa como se tudo aquilo fosse um cristal com tons difusos e cores indescritíveis.

Brighton é uma cidade balnear, rica, bonita. T. dizia-me "é o único sítio do reino Unido onde poderia viver, para além da cidade onde nasci [Bristol]". Não conheço Bristol e só percebo essa história da cidade onde nasci porque nasci em Lisboa, uma cidade na qual se pode, e deve, viver, passar, nascer e morrer. Mas no que toca a Brighton tinha razão: é uma cidade onde se pode viver, apesar deste verão.

T. dizia-me ainda que Brighton é assim porque é a capital da cultura gay do Reino Unido. Mais provavelmente é a capital da gayice do Reino Unido porque é assim: bonita, animada, criativa, variada. Mignonne, e meio morta se fosse francesa; mignonne e viva porque é inglesa.

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Continuo a trabalhar no D.H., metade para agradecer ao armador a hospitalidade (paga, mas barata), e metade para estar ocupado. Hoje foi a vez da fuga de água no circuito de água doce; ontem, da corrente de terra. Temos frigorífico e podemos deixar a bomba de água ligada. Quanto mais trabalho neste barco mais gosto dele. Há barcos como mulheres: foram feitos para nós. Ambos tardam em ser encontrados; mas isso deve ser de propósito: precisamos de termos de comparação em número e qualidade suficientes.

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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.