2.8.12

Genève, Suíça, 02-08-2012

Hoje vi uma mulher feia. Outra coisa que não muda, nesta cidade.

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"Genève é uma cidade pequena com todas as qualidades das cidades grandes e nenhum dos defeitos", dizem os que gostam dela; "É uma cidade pequena com todos os defeitos das cidades pequenas e nenhuma das qualidades", respondem os que a detestam.

Tendo para a primeira das fórmulas, mas isso não significa que gostaria de cá viver. Nunca gostei. Contudo o familiar prazer de voltar a Genève reaparece. Nunca gostei de cá viver, mas sempre gostei de regressar após uma ausência, uma viagem. Uma cidade onde os horários dos autocarros são cumpridos com uma tolerância de dois minutos, não há mulheres feias e celebra a festa nacional a agradecer aos estrangeiros que nela vivem...

É a primeira vez que passo tanto tempo sem voltar a Genève.

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Leio num jornal a expressão "crise do alojamento". Genéve tem uma "crise do alojamento" há dezenas de anos. As razões são conhecidas: impossibilidade de construir em terrenos "agrícolas" (entre aspas porque a noção de terrenos agrícolas é vasta, muito vasta) e legislação de protecção ao inquilino, que defende quem tem um apartamento e dificulta, como em todo o lado, o acesso a eles a quem não tem.

É uma "crise" com a qual as pessoas convivem bem - se não já teriam facilitado a reclassificação de pelo menos alguns terrenos "agrícolas" (anátema) e flexibilizado a legislação de arrendamento (a esmagadora maioria da população arrenda a sua casa, não é proprietária. Ou seja: isto nunca acontecerá).

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Há uns anos Genève chegou à conclusão de que havia cada vez menos empresas estrangeiras a instalar-se no cantão e criou um organismo (ou três, se bem me lembro) para contrariar tão molesta tendência.

Os suíços podem tardar a reagir, mas quando fazem qualquer coisa fazem-na bem e o investimento estrangeiro voltou ao cantão, mais rápido e em maior quantidade do que todos esperaram. Infelizmente a perfeição não é deste mundo, e as autoridades aperceberam-se de um problema aborrecido: não havia alojamentos suficientes para alojar os funcionários das empresas que responderam positivamente àquelas iniciativas.

A primeira iniciativa do governo foi fazer um acordo com o cantão de Vaud, que tem um regime fiscal radicalmente diferente (e muito mais leve do que Genève). Não conseguiu, pelo que se voltou para a France voisine. Esta disse que sim, claro; pelo que se assistiu ao interessante desenrolar de um cenário não muito frequente, quiçá  impensável noutro país: o cantão de Genève organizava em França o alojamento dos funcionários das empresas que atraíra.

Os terrenos "agrícolas" continuam agrícolas, e os respectivos donos a receber subvenções para manter viva a "agricultura" (as aspas não são completamente justificadas. Há alguma produção agrícola em Genève, e alguma - mas muito longe de toda - consegue ser sustentada pelo mercado).

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